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Leonardo Attuch

Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

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O que Roberto Justus, Junior Durski, Luciano Hang e Alexandre Guerra devem fazer neste momento para enfrentar a crise econômica

"Nenhum deles conseguirá sensibilizar a sociedade com discursos sobre as consequências econômicas do confinamento, que podem de fato ser dramáticas, se não assumirem o compromisso de preservar empregos e se não cobrarem providências do único agente que tem poder para solucionar a crise: o estado", diz o jornalista Leonardo Attuch, editor do 247

O que Roberto Justus, Junior Durski, Luciano Hang e Alexandre Guerra devem fazer neste momento para enfrentar a crise econômica (Foto: ABr | Reprodução)
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Nos últimos dias, quatro empresários gravaram vídeos para alertar a sociedade sobre as consequências econômicas das políticas que foram adotadas no Brasil e no mundo para conter a propagação da epidemia do coronavírus. Foram eles Luciano Hang, da Havan, Junior Durski, do Madero, Alexandre Guerra, do Giraffas, e o publicitário Roberto Justus. Todos eles, imagino, foram eleitores de Jair Bolsonaro e entusiastas das políticas liberais de Paulo Guedes.

Os quatro, no entanto, erraram brutalmente na sua comunicação com a sociedade. De uma forma ou de outra, todos tentaram convencer os trabalhadores de que eles devem voltar a trabalhar – ou pelo menos pressionar os líderes políticos para que possam voltar – porque as consequências da depressão econômica que o Brasil viverá podem ser ainda mais graves do que os danos causados pelo coronavírus. Por mais que seja necessário considerar tais pontos de vista, apostar nesse caminho é burrice.

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Comecemos por Luciano Hang, da Havan. De todos, foi o que teve a argumentação mais tosca. Disse que poderia fechar todas as lojas, demitir os empregados, pagar seus credores e, ainda assim, sobraria algum dinheiro para ir para a praia. Sua fala foi a personificação do egoísmo, como se dissesse que, no fim das contas, ele ainda teria um pequeno lugar ao sol.

Junior Durski, do Madero, também não foi capaz de construir uma argumentação sólida. Basicamente, disse que a economia não pode parar porque 5 ou 7 mil pessoas podem morrer no Brasil. Sua fala, fria e cruel, apontou apenas o medo de perder a riqueza que construiu nos últimos anos. Talvez porque esteja alavancado e tenha assumido dívidas para financiar a expansão de sua marca. Durski pensou apenas em si – e não no conjunto da sociedade.

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Alexandre Guerra, do Giraffas, disse coisas mais consistentes. Embora tenha errado, ao ironizar quem estaria curtindo seu 'home-office', ele comparou a sua situação à de vários empresários. Será que um comerciante consegue manter seu negócio se ficar sem receita por 30, 60 ou 90 dias, tendo que arcar com todos os custos? É evidente que não. Muitos fechariam suas portas – e já estão fechando.

Roberto Justus, por sua vez, tentou construir uma argumentação mais elaborada. Depois que sua conversa privada com o apresentador Marcos Mion vazou, ele publicou um vídeo no Instagram em que revestiu sua tese de uma preocupação humanitária. Disse que está preocupado com vidas – e que, do ponto de vista estatístico, morrerão mais pessoas por fome do que por vírus, o que talvez seja verdade.

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No entanto, nenhum desses quatros empresários terá a menor chance de conquistar o apoio da sociedade enquanto não demonstrar cabalmente o desejo de fazer sacrifícios em tempos de guerra. Não adianta dizer que dá para vender tudo e depois ir tomar sol na praia, como fez o dono da Havan. A crise econômica que se avizinha é tão devastadora que os quatro empresários só têm uma saída: cobrar de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, que ajudaram a colocar no poder, uma saída emergencial para os trabalhadores, até para que continue a existir mercado para suas empresas. Nenhum deles conseguirá sensibilizar a sociedade com discursos terroristas sobre as consequências econômicas do confinamento, que podem de fato ser dramáticas, se não assumirem o compromisso de preservar os empregos e se não cobrarem providências do único agente que tem poder para solucionar a crise: o estado.

Ninguém sabe ao certo quanto custará o resgate da economia brasileira. Dez por cento do PIB? Quinze? Vinte? Será assim no Brasil e no mundo. Se os empresários quiserem ser ouvidos e respeitados neste momento dramático da nossa história, eles devem assumir, pela ordem, os seguintes compromissos: (1) manter o emprego de todos os seus funcionários, (2) aceitar que toda ajuda do estado seja fiscalizada para que possa garantir os salários dos trabalhadores e a manutenção das atividades (lucros ficam em segundo plano) e (3) defender a tributação de lucros e dividendos, assim como de grandes fortunas, quando chegar a hora de pagar a conta por esse socorro emergencial.

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Nada será como antes depois do coronavírus. O modelo de sociedade ancorado na vaidade, no individualismo e no egoísmo não é mais sustentável. Ou esses empresários se adaptam a isso e ajudam a construir uma nova sociedade mais igualitária – oposta à de Guedes e Bolsonaro – ou serão devorados pelos coringas do século 21.

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