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Brasil

Espionagem contra parlamentares começou na época de Temer, com o GSI. Abin de Ramagem ampliou-a sob Bolsonaro

Já em 2017, quando o general Sérgio Etchegoyen foi ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional do Planalto, Rodrigo Maia flagrou “monitoramento” contra ele

Sérgio Etchegoyen e Michel Temer (Foto: José Cruz/Agência Brasil | Isac Nóbrega/PR)
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Por Luís Costa, para o 247 em Brasília - Quando era presidente da Câmara dos Deputados, no segundo semestre de 2017, o então deputado federal Rodrigo Maia interrompeu um café da manhã com amigos numa manhã de sábado para receber um relato de sua segurança pessoal. Foi-lhe dito que havia evidências de monitoramento de seus passos e até de acompanhamento de telefonemas pelo Palácio do Planalto. Na época, quem estava ocupando a presidência depois da deposição de Dilma Rousseff era Michel Temer. Sérgio Etchegoyen, primeiro general da ativa a ocupar um cargo palaciano desde a ditadura, implantado lá dentro por Temer, era o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Maia voltou à mesa do café, explicou aos convivas o que estava ocorrendo e telefonou para um outro ministro que também tinha gabinete dentro do Palácio do Planalto a fim de checar alguns dados que dariam consistência à denúncia. Abalado com a confirmação de alguns fatos - mesmo que por vias transversas - ele pediu a uma assessora que ligasse para o então ministro-chefe do GSI. Quando a ligação foi estabelecida e o celular passou às suas mãos, Maia não deu “bom dia” nem esperou que Etchegoyen falasse nada.

– General, eu sei que vocês estão me monitorando. Eu sei que vocês estão acompanhando as minhas conversas. Pare com isso agora! Agora! – ele falava aos gritos, sem se importar com quem o ouvia à mesa. Prosseguiu: – Isso é um absurdo, uma vergonha. É um crime, aliás. Vocês pensam o que? Acham que eu quero derrubar o Michel? Não quero derrubar o Michel. Mas, ele está ali por uma circunstância e só vai conseguir governar se houver diálogo e respeito com o Congresso, com a Câmara, comigo, com o Eunício (referia-se a Eunício Oliveira, então presidente do Senado). 

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Quem estava sentado ao lado do então presidente da Câmara naquele café da manhã tardio ou abaixou a cabeça e aguçou os ouvidos, ou, como eu fiz, abriu os olhos na direção de Rodrigo Maia e deixou claro que escutava tudo. Pareceu que, do outro lado da linha, Sérgio Etchegoyen tentava balbuciar algo. Maia não quis ouvi-lo:

– Não vou escutar nada, general. Passe bem. É um absurdo isso. Pare, general. Passe bem – disse com voz firme, uma oitava acima do tom, o presidente da Câmara cujo pescoço e bochechas ficaram vermelhos em razão da intensidade da “conversa”.

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Ato contínuo, depois da carraspana dada no ministro-chefe do Gabiente de Segurança Institucional de Michel Temer, Rodrigo Maia telefonou direto para o então ministro-chefe da Secretaria de Governo, Moreira Franco, e relatou a descompostura dada no general. Num tom mais ameno, mas, não menos indignado, disse a Moreira que ele sabia, como político, da gravidade de um deputado - ainda mais presidente da Câmara - ser monitorado pelo aparato da Presidência da República.

– Ou isso para agora, ou vocês vão se dar muito mal com esse troço - ameaçou Maia.

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Nesta quinta-feira, o ex-presidente da Câmara reafirmou ao sucessor dele no posto de comando da Casa, Arthur Lira, que também teve evidências de ser seguido e monitorado pelo Palácio do Planalto nos tempos de Jair Bolsonaro na Presidência da República, entre 2019 e fevereiro de 2021. Esse biênio foi o último período de Rodrigo Maia como presidente da Câmara e coincidiu com os dois primeiros anos de mandato de Bolsonaro. Em 2022 Maia não tentou a reeleição e hoje se dedica a atividades na iniciativa privada. Preside a Confederação Nacional das Instituições Financeiras. 

Pouco depois de estourarem as primeiras notícias em torno da espionagem ilegal empreendida pelo agora deputado Alexandre Ramagem no período em que ele foi o chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) contra o próprio Maia, contra ministros do Supremo Tribunal Federal como Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes e, possivelmente, contra outros parlamentares, o ex-presidente da Câmara telefonou para seu sucessor. Maia prestou solidariedade institucional a Arthur Lira, confirmou que teve informações sólidas do monitoramento à época em que foi presidente e recomendou que ele pedisse um aprofundamento das investigações vaticinando: “mais deputados e senadores foram vítimas dessa espionagem. Eles não poupavam ninguém”. 

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Nunca é demais lembrar que o general Sérgio Etchegoyen, hoje na reserva e se dedicando a negócios privados - inclusive na área de comunicação - foi o elo entre o aparato militar que sustentou Michel Temer no cargo de presidente na esteira do golpe do impeachment sem crime de responsabilidade e os tenentes, coronéis, generais, almirantes e brigadeiros que pularam para dentro da canoa de Bolsonaro e do bolsonarismo na origem da campanha que levaria o capitão da reserva à Presidência. Como ministro-chefe do GSI, Etchegoyen foi o encarregado pelo Governo de dialogar com o Tribunal Superior Eleitoral durante o processo eleitoral de 2018. Alexandre Ramagem, agora investigado como propulsor da ampliação do aparato ilegal de monitoramdento e espionagem de um Governo contra opositores e a favor de negócios privados dos filhos do ex-presidente, herdou na Abin uma estratégia de ação e constrangimentos antidemocráticos, sempre contra atores da política, que se instalou no Planalto depois do golpe de 2016.

(*) Às 12h do dia 26/01 o general da reserva Sérgio Etchegoyen procurou o 247 e enviou a seguinte nota:

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Nota de Sergio Etchegoyen

Entre 12/05/2016 e 31/12/2018, o Gabinete de Segurança Institucional, o qual tive a honra de chefiar, cuidou para que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) seguisse rigorosamente todos os preceitos e limitações constitucionais e legais. Jamais foi determinado ou mesmo concedida qualquer autorização para o monitoramento de agentes públicos. Não é de meu conhecimento que isso tenha ocorrido, mesmo de forma inadvertida e não autorizada.

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A bem da verdade, é preciso dizer que sempre dispensei o mais alto grau de respeito, cortesia e institucionalidade ao então presidente da Câmara dos Deputados, no que fui plenamente correspondido em todas as vezes nas quais falamos.

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