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Entrevistas

Antonio Lavareda: abstenção devorou 13 milhões de votos de Lula

Para presidente do Ipespe, campanha petista na TV erra ao esconder melhores momentos do candidato no debate e ao exibir imagem excessivamente informal do ex-presidente

Antonio Lavareda e Lula (Foto: Divulgação | Ricardo Stuckert)
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Por Pedro Alexandre Sanches, do Opera Mundi - Em entrevista a Breno Altman no programa 20 MINUTOS desta quarta-feira (19/10), o presidente do Instituto de Pesquisas Sociais, Politicas e Econômicas (Ipespe), Antonio Lavareda, atribuiu as discrepâncias entre as pesquisas eleitorais e os resultados das urnas ao nível de abstenção dos eleitores no dia do primeiro turno, que teria devorado em torno de 13 milhões de votos do candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Afirmou também que a eleição presidencial será resolvida na televisão, como costumava acontecer em disputas passadas, e que a campanha televisiva de Lula está em desvantagem em relação à de Jair Bolsonaro em termos estéticos e estratégicos. 

Ele critica, por exemplo, a demora da campanha petista em explorar o debate na TV Bandeirantes como estratégia para transmitir os melhores momentos de Lula ao público televisivo que não assistiu ao confronto direto no último domingo. “O debate até agora tem sido mais útil para Bolsonaro. Desde ontem, ele fez uma seleta dos trechos com melhor desempenho e trouxe para a TV aberta. A campanha de Lula não fez o mesmo, não me pergunte por quê”, diz.

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Lavareda chama atenção para o impacto ainda incomparável da propaganda na TV, comparando o recorde de 1 milhão de espectadores da entrevista de Lula ao podcast No Flow, na noite da terça-feira, com o alcance do debate de domingo, estimado em 70 milhões de brasileiros. Outra evidência viria da campanha eleitoral intermediária deste ano nos Estados Unidos, que está destinando três vezes mais recursos para a TV que para as campanhas digitais.

“Não é perceptível que o reforço que Lula teve nas redes sociais tenha sido acompanhado por maior investimento na TV”, afirma, referindo-se ao desempenho agressivo do aliado mineiro André Janones no ambiente das redes sociais. “Janones parece estar cumprindo um papel equivalente ao da campanha negativa de Bolsonaro, preocupado em rebater e atacar na mesma clave as acusações a Lula”, interpreta. O tema permanece controverso: “Alguns defendem que a negatividade nas campanhas aumenta a taxa de alienação da sociedade, enquanto outros lembram que muitas vezes as pessoas memorizam e se interessam mais pela informação negativa que pela positiva. As campanhas trafegam entre esses dois polos”.

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O cientista político, que já atuou em quase uma centena de campanhas eleitorais majoritárias, avalia que a propaganda televisiva de Bolsonaro é mais bem acabada e apresenta mais clareza de compreensão que a de Lula, ainda que os programas do PT tenham adquirido carga maior de conteúdo emocional no segundo turno, sobretudo pelas cenas das enormes manifestações de rua extraídas da campanha. 

“Bolsonaro é apresentado com a estética do presidente que vai continuar no cargo, e a estética de Lula o apresenta em manga de camisa. Um blaser ajudaria a compor a imagem do ex-presidente”, compara. Entre outros detalhes técnicos, critica os cenários das inserções do candidato petista: “Lula se apresenta numa sala de uma casa, aquilo não conota a presidenciabilidade, que é a base da avaliação positiva que Lula tem por conta dos oito anos em que esteve à frente do país”.

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Ainda quanto ao primeiro debate do segundo turno, Lavareda vê como pontos fracos de Lula o controle do tempo de fala e o enfrentamento do tema da corrupção. “A falha na administração do tempo o deixou exposto a passar alguns minutos como que num pelotão de fuzilamento, sendo espingardeado por Bolsonaro. Teve a sorte de não ter levado nenhum tiro fatal, porque Bolsonaro se enrolou e não soube adequar sua fala ao momento de vulnerabilidade do adversário”, opina. Para ele, os ataques de Bolsonaro no campo da corrupção, não tiveram resposta pronta nem posicionamento razoável por parte de Lula.

Sobre a confiabilidade das pesquisas eleitorais, o pesquisador contraria o senso comum de que as projeções para o primeiro turno tenham acertado a votação de Lula e subestimado a de Bolsonaro. Uma ilusão de ótica teria surgido na transposição das intenções de voto para os votos em urna: “‘E uma ilusão de ótica. As pesquisas acertaram na mosca, entre aspas, a votação de Bolsonaro. E erraram, entre aspas, a de Lula, porque cerca de 13 milhões de votos de Lula se perderam na abstenção”. 

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Lavareda demarca que o atual presidente recebeu 33% dos votos de um contingente total de 156,5 milhões de eleitores, exatamente o que aparecia nas intenções de voto segundo institutos como Ipespe, Ipec, Quaest e Datafolha. Quanto a Lula, as projeções indicavam que receberia 46% dos votos totais, e na urna o candidato foi legitimado apenas por 37% dos eleitores. A explicação para a discrepância estaria nos níveis de abstenção, desfavoráveis para Lula: “O Brasil é um país que adota o voto obrigatório, mas não oferece condições para que boa parte dos cidadãos compareça à votação. Dezenas de milhões de cidadãos são levados a uma abstenção compulsória, porque não têm dinheiro para pagar o transporte público”. 

Amplamente inclinadas a Lula, as camadas de menor renda e escolaridade foram as que mais se ausentaram das cabines de votação: “Entre as pessoas de maior escolaridade, a abstenção fica em torno de 12% na média, e entre as pessoas que estão na base chega a 52%. É uma diferença estúpida”. Segundo o cientista político, a perda de votos de Lula para a abstenção é uma evidência, enquanto não são mais que conjecturas as hipóteses sobre votos úteis retirados dos candidatos de terceira via e despejados antecipadamente em Bolsonaro.

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A autorização dada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que as prefeituras ofereçam transporte gratuito aos eleitores no dia da votação final não corrigirá o problema estrutural, segundo Lavareda. “Ajuda, mas não resolve, porque dá autonomia às prefeituras. Em estados onde o voto é mais bolsonarista, os prefeitos não querem adotar essa medida. No meu entendimento o transporte gratuito deveria ser obrigatório, e não somente permitido.”

O cientista político garante que os resultados finais não surpreenderão como os do primeiro turno: “A boa notícia é que os números de véspera vão estar bem próximos aos das urnas”. Mas faz uma ressalva: “Obviamente, é preciso lembrar a margem de erro. No Ipespe, os números já estão no extremo da margem de erro, como empate técnico”. Antonio Lavareda antevê um resultado mais apertado que o de 2014, quando Dilma Rousseff venceu Aécio Neves por uma vantagem de 3,4% dos votos.

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