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“O epistemicídio e a invisibilidade negra são consequências da desumanização dos africanos”, concordam debatedores

Na TV 247, o analista político angolano Herlander Napoleão avalia que “os europeus quiseram apagar a identidade africana” e o músico Ricardo Mateus entende que “é preciso reescrever a história dos negros”. Para a ativista Juliana Andrade, “o enfrentamento ao epistemicídio se faz com representatividade”. Assista

Herlander Napoleão, Ricardo Mateus e Juliana Andrade
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247 - No programa “Um tom de resistência” da TV 247, o cantor e compositor Ricardo Nêggo Tom recebeu o músico brasileiro radicado em Sevilha Ricardo Mateus, o internacionalista angolano Herlander Napoleão e a ativista social e co-fundadora do coletivo Agbara Juliana Andrade para falarem sobre epistemicídio e invisibilidade negra.

O termo epistemicídio foi cunhado pelo jurista português Boaventura de Souza Santos para criticar a colonialidade do saber por parte dos acadêmicos europeus, que rejeitaram todo e qualquer tipo de conhecimento que não fosse produzido nas universidades. “O epistemicídio começa a partir do momento em que os europeus chegaram ao continente africano e tentaram esconder aquilo que era o conhecimento negro e os nossos princípios. Inclusive, desumanizando a nossa identidade. Só a ideia de um ‘descobrimento’ daquele continente já soa estranho, uma vez que os africanos já estavam lá. Os europeus que não sabiam. Portanto, a nossa cultura e a nossa civilização não teve início com a chegada dos europeus ou dos portugueses. Eles que trouxeram os seus hábitos, sua cultura e, através da religião, tentaram impor os princípios ocidentais ao nosso povo. A partir daí, criou-se uma falsa narrativa de que a África não produz conhecimento, o que hoje legítima a invisibilidade a qual estamos submetidos”, analisa Herlander.

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Para o músico Ricardo Mateus “o grande problema do negro durante esse processo epistemicida foi a perda da sua identidade. Vivendo aqui na Europa eu aprendi que o resgate dessa identidade passa pela criação de uma economia própria. Se não conseguirmos isto, além de reescrever a nossa história, nós nunca chegaremos onde podemos. Precisamos também entender como o processo de escravização do negro ainda reflete sobre nós nos dias atuais. Conhecemos quase nada sobre a nossa história e a informação sobre o negro não está na África. Está na Europa. Porque a África que existe hoje é uma África criada pelo Europeu. Até a língua falada não é mais a nativa, é o idioma do colonizador. Hoje somos vistos como uma minoria, mas sempre fomos uma maioria invisibilizada”.

Formas e meios de combate a esse epistemicídio sistêmico foram debatidos no programa. A ativista social Juliana Andrade percebe que esse movimento de reivindicação e de enfrentamento já vem sendo construído. "Apesar de estarmos bem longe do ideal, eu percebo que algo vem sendo construído nesse sentido. Eu vejo muitas pessoas negras levantando esse debate na internet, que é o melhor espaço que temos para militar nesse momento. Também existem bibliotecas comunitárias sendo construídas apenas com livros de autores e autoras negros e outros projetos de coletivos e movimentos voltados para a temática racial negra. Todas essas ações coletivas fazem parte do enfrentamento a esse epistemicídio, que nega a nossa representatividade na produção de cultura e de saber.”

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O apagamento da cultura africana, especialmente no que diz respeito a sua religiosidade, também esteve em pauta. O apresentador Ricardo Nêggo Tom perguntou aos entrevistados sobre a demonização dos cultos afrocentrados. Para Herlander, “tudo isso fez parte de um projeto de conquista de território, que contou com o apoio da igreja e que usou a Bíblia como arma de dominação, construindo uma retórica de maldição sobre os povos africanos”. Já Ricardo Mateus questionou a assimilação da religião europeia por parte dos africanos: “Como que o africano vai se doutrinar numa religião europeia? Não tem nada a ver. São filosofias bem distintas. Se o primeiro ser humano veio da África, nós já deveríamos ter, no mínimo, um conceito de religiosidade”.

Na opinião de Juliana Andrade, “tudo é muito complexo. A negação da nossa ancestralidade foi um ponto crucial para a desumanização da população preta. Quando pensamos em religião, pensamos numa perspectiva de ser e estar no mundo. E a razão que foi imposta pelo cristianismo aos povos africanos, principalmente através do catolicismo, não é nossa. Quando percebemos que essa instituição religiosa tinha um pacto colonial com o estado, entendemos que a demonização da religiosidade africana foi fundamental para a expansão de seus domínios religiosos”.

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