CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Geral

“O inferno bíblico não existe”, diz teólogo. “É uma mitologia inserida na Bíblia”

Programa “Um Tom de resistência”, na TV 247, debateu saúde mental com o professor Fábio Sabino, a psicóloga Marianne Luna e a digital influencer Sophia Barclay

Mestre em Teologia e professor universitário Fábio Sabino (Foto: Reprodução | Reuters)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Por Ricardo Nêggo Tom - Por conta da doutrina religiosa cristã, muitos fiéis acabam colocando a religião e o cuidado com a saúde mental em campos opostos. Alguns, além de atribuírem doenças como depressão e síndrome do pânico apenas a uma ação diabólica, ainda condenam aqueles que buscam a ajuda de um profissional especializado, alegando que Jesus é o médico dos médicos e o único no qual eles devem confiar. A psicóloga Marianne Luna, que faz parte da Rede de Católicos LGBTS, analisou essa ideia de antagonismo. Ela explica que “a psicologia está no lugar da ciência e a religião vai entrar no lugar da espiritualidade, dois lugares bem diferentes da nossa vida, mas é possível que a gente consiga conviver com ambos. E vamos entendendo os desdobramentos dessa convivência. Inclusive, durante a minha faculdade de Psicologia, os alunos cristãos que ali estavam presentes, até o último ano do curso ainda tinham questões em relação a pensamentos filosóficos da psicologia, em oposição ao cristianismo. Esse tipo de oposição dificulta, não só o diálogo entre os dois campos, como toda a atuação. Enquanto psicóloga, logo que me formei foi assustador perceber o quanto de dúvida existe ainda hoje, por parte de cristãos que procuram psicólogos cristãos. E é muito importante deixar claro que ser cristão não faz parte da prática psicológica. O diálogo entre essas duas áreas pode existir, mas se partirmos do princípio que elas são opostas, esse diálogo fica mais difícil”.

O teólogo Fabio Sabino, que é professor de hebraico, aramaico e grego e especialista em hermenêutica, lembrou que “antigamente as pessoas evitavam se consultar com psicólogos, independentemente do seu credo religioso. O tempo se passou e hoje muitos pastores estão estudando Psicologia para atender os problemas dos membros de suas igrejas, que não costumavam se abrir com ninguém por uma questão de medo. E aí também entra a questão da fé, com a pessoa achando que não precisa ter um psicólogo porque ela tem a Bíblia como a sua maior psicologia e Jesus como o seu maior psicólogo. Então, ela acha que não há necessidade de procurar um psicólogo. O problema não é a pessoa pensar que não precisa de um especialista. O problema de tudo é a má interpretação que se faz da ciência, dentro do aspecto da religião. Um exemplo disso são os Testemunhas de Jeová, que não aceitam transfusão de sangue por causa da má interpretação de um vocábulo hebraico, que tanto pode significar vida e sangue, como alma. Então, algumas denominações religiosas entenderam que não se podia fazer transfusão de sangue, porque no sangue estava a alma da pessoa. A má interpretação sempre existiu, não apenas no aspecto teológico, histórico ou bíblico, mas como também no aspecto científico”.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

A digital influencer Sophia Barclay, que se assumiu como uma mulher trans, falou sobre os danos psicológicos provocados pelo preconceito que a maioria dos cristãos têm contra os homossexuais e os efeitos causados por textos bíblicos que condenam a homossexualidade e impõe o inferno como um castigo de Deus para os gays. “O efeito é bem doloroso. Eu pertencia a igreja evangélica e sempre fui uma pessoa muito religiosa. E quando a denominação que eu frequentava descobriu que havia me assumido homossexual, eles me tiraram a liberdade de continuar levando a palavra de Deus para outras pessoas, sem ao menos terem conversado comigo. Obviamente, eu me afastei da igreja por conta do julgamento das pessoas. Justamente o lugar onde eu achei que fosse de acolhimento e que eu seria recebido de braços abertos, eu só recebi ataques, críticas e condenação. E eu decidi ir para a internet e estou sempre levantando essa pauta. As pessoas me perguntam como é lidar com esses tipos de comentários preconceituosos, que são os que eu mais recebo toda vez que eu posto uma foto ou outro conteúdo. São pessoas me pedindo para mudar, porque Deus não me fez assim, que eu vou para o inferno, Deus não te ama, você nunca vai ser mulher. O que me dá conforto é saber que a verdadeira palavra de Deus é amor e que Deus não olha para a minha aparência, e sim para o meu coração”.

A respeito da ameaça do inferno como condenação, não apenas para a homossexualidade, mas também para outros casos de “desobediência” à Bíblia como sendo a lei de Deus transmitida aos homens através dos seus textos sob inspiração divina, o teólogo Fabio Sabino explica que “temos um probleminha de tradução”. “Ocorre que, quando ele foi fazer a vulgata latina, que é a primeira tradução do Novo Testamento, onde existia a palavra ‘ades’, ‘tártaro’, ‘sheol’ e ‘geena’, São Jerônimo, que foi o responsável por essa versão, generalizou todos esses vocábulos e os traduziu como inferno. Ele não especificou qual sentido cada vocábulo tinha, dentro do seu devido contexto. Ele pegou todos esses vocábulos hebraicos e gregos, que são as línguas originais nas quais a Bíblia foi escrita, e colocou todos para ‘inferno’. Por exemplo, se você procurar saber o que é ou quem foi ades, e em qual tempo e cultura se encontrava, vai encontrar um deus grego que cuidava das regiões inferiores. O inferno é uma mitologia inserida dentro da Bíblia. As pessoas quando olham para a Bíblia, não olham no sentido interpretativo de saber o que está por trás. Ou seja, qual a fonte daquele escritor e qual uso ele fez dela, de onde ele extraiu aquele raciocínio e aquela historicidade. O que está por trás da palavra inferno? Seria um conceito existencial? Não! O inferno bíblico não existe. Trata-se apenas de uma má tradução de vocábulos hebraicos e gregos”.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando...

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Carregando...

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO