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Mídia

Mídia ocidental reabilita Sergio Moro para corrida presidencial, diz veículo dos EUA

A maior parte da imprensa, que “omitiu escandalosamente” as revelações da Vaza Jato, que incriminavam o ex-ministro da Justiça, efusivamente descreveram Moro como um “cruzado anticorrupção” quando este se demitiu e denunciou Bolsonaro, relata Lucas Koerner, no Fair.org

Ex-ministro Sergio Moro 10/12/2019 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
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por Lucas Koerner, no Fair.org

Tradução de Regina de Aquino para o 247

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O Ministro da Justiça brasileiro, Sérgio Moro, renunciou ao cargo no governo Bolsonaro, de extrema direita, em 24 de abril, acusando o presidente de "interferência política" na força policial federal.

A mídia corporativa ocidental aparentemente não viu ironia nas alegações feitas pelo ex-juiz, que desempenhou um papel fundamental na caça às bruxas da "anticorrupção", com o objetivo de prender ilegalmente o ex-presidente Luiz Inácio "Lula" da Silva e destruir seu Partido do Trabalhadores, de esquerda.

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Em vez disso, eles efusivamente descreveram Moro como um "Cruzado anticorrupção" (BBC, 25/4/20), "ministro da justiça das celebridades" (Guardian, 24/4/20) e "uma figura que para muitos representava um novo e melhor Brasil ”(Washington Post, 24/04/20), aplaudindo a perspectiva “tentadora” de uma candidatura presidencial em 2022 (Bloomberg, 6/5/20).

A maioria da imprensa, incluindo BBC (25/4/20), Washington Post (24/4/20), Reuters (24/4/20) e Deutsche Welle (24/4/20) omitiu escandalosamente qualquer menção às revelações de denúncias bombásticas publicadas por Glenn Greenwald, do Intercept (9/6/19). As milhares de horas de conversas vazadas da plataforma Telegram, entre Moro e os promotores com a operação denominada Lava Jato, ou "Car Wash", mostraram o primeiro não apenas dando instruções ilegalmente sobre como melhorar as acusações pelas quais ele era responsável para avaliar com imparcialidade, mas também aconselhando os promotores sobre como difamar Lula na mídia (FAIR.org, 14/11/19).

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Alguns meios de comunicação mencionaram as revelações, mas as descartaram como "reivindicações que [Moro] indevidamente pautou para prender Lula" (Guardian, 24/4/20) ou as enterraram em uma única linha no parágrafo 17 (Bloomberg, 5/6). / 20).

A Time fez o trabalho pesado, no entanto, para branquear Moro, a quem ela tinha exaltado em sua lista das “100 Pessoas Mais Influentes” de 2016 (21/4/16). A jornalista Clara Nugent (Time, 21/5/20), com sede em Londres, escreveu um perfil hagiográfico do ex-juiz, com a manchete: “'Eu não entrei no governo para servir a um mestre'.” Ministro-estrela da Justiça no Brasil em sua renúncia e embate com o presidente Bolsonaro. ”

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Na entrevista exclusiva, Nugent - a quem a FAIR.org (20/5/19) havia exposto anteriormente por espalhar falsidades sobre a "censura" da mídia na Venezuela - trabalhou diligentemente para limpar a reputação manchada de Moro de qualquer traço de ilegalidade sistemática patrocinada pelos EUA. Descrevendo-o com simpatia como um "burocrata sombrio" cuja "carranca ... tende a ser um mau presságio para os presidentes brasileiros", a jornalista corporativa classificou a criminalidade bem documentada de Moro na operação de Lava Jato como "polêmica":

Mas a conduta de Moro durante a investigação também atraiu polêmica. Em março de 2016, ele chocou muitos brasileiros ao enviar o áudio de conversas telefônicas entre Lula e a então presidente [Dilma] Rousseff para a mídia.

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Nugent omitiu os detalhes cruciais, como Brian Mier relatou para FAIR.org (14/11/19), de que a escuta telefônica de Dilma Rousseff era ilegal, assim como o vazamento para a imprensa. Em vez disso, ela repetiu a falsa alegação de que "Dilma havia nomeado Lula como seu chefe de gabinete, supostamente para protegê-lo dos promotores da Lava-Jato", ignorando que Moro havia editado a gravação para parecer incriminadora. De fato, o verdadeiro objetivo da nomeação era recrutar Lula para a resistência a um golpe parlamentar contra Dilma e não tinha nada a ver com Lava Jato.

A repórter da Time admitiu que o vazamento "foi decisivo na construção da indignação pública que sustentou o esforço do Congresso para o impedimento de Dilma quatro meses depois, sob a acusação de manipular dados financeiros do governo". Mas ela se recusou a acrescentar que “manipular dados financeiros do governo” era na verdade uma infração orçamentária comum, conhecida como “pedalada fiscal”, e que foi legalizada pelo Senado brasileiro uma semana após a retirada de Dilma do seu cargo (CounterSpin, 12/12/18).

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Como seus colegas corporativos, Nugent descartou as revelações da Intercept, expondo a improbidade desenfreada de Moro como meras alegações, apesar de depois citar o ex-ministro confirmando a veracidade desse conteúdo:

Em julho de 2019, o site de investigação Intercept publicou uma série de mensagens em que eles disseram mostrar que, como juiz, Moro havia inadequadamente consultado os promotores federais sobre a estratégia de derrubar figuras do alto escalão.

Nugent deixou de mencionar que a "estratégia" em questão era condenar Lula - que liderava todas as pesquisas de opinião na corrida presidencial de 2018 - por "atos indeterminados de corrupção", com promotores admitindo secretamente, poucas horas antes do julgamento final, que não tinham provas, mas que Moro entregaria uma condenação de qualquer maneira. Em uma omissão particularmente flagrante, ela escondeu o fato de que Moro e os promotores da Lava Jato espionaram ilegalmente a equipe de defesa de Lula - uma ofensa grave que teria destituído Moro do cargo, na maioria dos países.

Ela também ficou feliz em aceitar as mistificações do Moro de que “nunca foi um problema pessoal com o ex-presidente Lula”, suprimindo o fato de que os promotores de Lava Jato haviam conspirado para amordaçar Lula na véspera da eleição e que o líder da força-tarefa Delton Dallagnol disse que estava literalmente "rezando" para que Bolsonaro vencesse.

A Time juntou-se ao restante da mídia ocidental ao ocultar igualmente a mão pública e notória dos EUA na operação judicial (CounterSpin, 12/12/18). Nem Nugent nem seus colegas relataram que Lava Jato era uma investigação conjunta com o Departamento de Justiça e Comissão de Valores Mobiliários dos EUA. As duas agências arrecadaram bilhões em multas de empresas brasileiras consideradas estratégicas para o desenvolvimento nacional, incluindo a gigante da construção Odebrecht, a fabricante estatal de aeronaves Embraer e a empresa estatal de petróleo Petrobras. Enquanto isso, Moro ordenou que a Odebrecht e outras empresas de construção envolvidas paralisassem seus projetos, causando a perda de 500.000 empregos e uma queda estimada de 2,5% no PIB somente em 2015. O golpe econômico apoiado pelos EUA abriu o caminho para o golpe parlamentar de 2016 e a eleição fraudulenta de 2018, em que as acusações infundadas de corrupção contra Lula e Dilma foram decisivas (CounterSpin, 28/6/19).

Grande parte dessa coordenação entre a força-tarefa de acusação supervisionada por Moro e as agências americanas era informal e ilegal, porque não era autorizada pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Em uma mensagem particularmente condenatória no Telegram, Dallagnol disse a Moro que as decisões relativas às investigações "dependem [...] dos americanos". Durante seu mandato como "super-ministro da justiça", Moro abriu ainda mais a porta para a infiltração dos EUA de maneiras juridicamente duvidosas, expandindo a cooperação dos EUA com promotores e policiais, criando um centro de "fusão" de inteligência com a participação do FBI na região da fronteira e compartilhamento de dados biométricos confidenciais com a agência.

A Time , juntamente com toda a mídia corporativa ocidental, surpreendentemente fechou os olhos a essa grave violação da soberania brasileira. O mais surpreendente foi a ocultação total dos atos muito mais flagrantes de ilegalidade de Moro enquanto servia como policial-top. Moro procurou obstruir uma investigação na qual ele era um possível réu, tentando destruir evidências de que ele havia interferido nas eleições presidenciais de 2018 para impedir uma vitória do Partido dos Trabalhadores. Em particular, ele tentou impedir a liberação dos vazamentos do Intercept, ao mesmo tempo em que ordenava publicamente a destruição ilegal de provas confiscadas por hackers presos pela Polícia Federal, que também o implicava em crimes cometidos durante Lava Jato.

A imprensa ocidental também censurou qualquer menção ao fato de que Moro pode estar provavelmente envolvido nas alegações "explosivas" (Time, 21/5/20; Guardian, 24/04/20) que ele fez contra Bolsonaro, que levou o Supremo Tribunal Federal a abrir um inquérito. A investigação não apenas analisará os oito supostos crimes cometidos por Bolsonaro, mas também examinará se Moro tinha conhecimento prévio deles e se recusou a vir a público até deixar o governo, o que constituiria um crime de “improbidade administrativa" nos termos da lei brasileira.

Ao reabilitar Moro como um "denunciante", os jornalistas corporativos ocultam seu próprio papel na promoção desavergonhada da operação judiciária apoiada por Washington que derrubou a primeira mulher presidente do Brasil e instalou um neofascista a quem eles agora têm tanto como bode expiatório como garoto propaganda da negação assassina do coronavírus (FAIR .org, 4/12/20).

Bolsonaro certamente tem sangue em abundância nas mãos. Mas Moro, seus patrocinadores americanos e a mídia imperial compartilham total responsabilidade.

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