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Mídia

“Plataformas digitais foram coniventes com atos antidemocráticos em Brasília”, diz especialista

As plataformas digitais ocuparam um papel central na organização dos atos antidemocráticos e de vandalismo que ocorreram

(Foto: Reuters/Adriano Machado)
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As plataformas digitais ocuparam um papel central na organização dos atos antidemocráticos e de vandalismo que ocorreram contra as instalações do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal no último domingo (8). O incidente expõe a falta de estrutura e de capacidade de análise para gerenciar essas informações nas redes, mas, principalmente a conivência dos ambientes digitais com os ataques bolsonaristas.

Por Andréia Gomes Durão, da RFI

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De acordo com o Desinformante, especializado na análise da veracidade das informações compartilhadas nas redes e seus impactos na sociedade, um grupo de pesquisadores realizou um levantamento sobre a movimentação nos grupos e canais bolsonaristas e golpistas que culminaram nas cenas de terrorismo.

A organização dos atos foi realizada durante toda a semana, com caravanas chegando à Brasília. Essas viagens foram amplamente divulgadas como ‘tudo pago’ nas redes para atrair mais manifestantes. O grupo de pesquisadores também indicou que a narrativa foi impulsionada por influenciadores e políticos bolsonaristas nas redes sociais, a exemplo do deputado Bibo Nunes.

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Nina Santos, coordenadora do Desinformante e diretora do Aláfia Lab, destaca alguns pontos importantes nesse contexto, como o fato dos atos antidemocráticos estarem sendo anunciados e articulados há muito tempo, ainda que não se soubesse exatamente quando aconteceriam.

“Existe essa dificuldade de mensurar de fato qual vai ser a repercussão fora das redes dessas articulações que acontecem dentro das plataformas digitais. Mas uma série de entidades da sociedade civil já estava em diálogo com as plataformas durante todo o ano passado, sobre a necessidade de você ter políticas específicas para conter esse tipo de ato de movimento contra a ordem democrática. E nenhuma das plataformas digitais tem políticas para esse tipo de situação”, ela critica.

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Sem políticas específicas

As plataformas teriam políticas para atos violentos, para questionamentos de resultados eleitorais, mas nenhuma tem políticas específicas para esse tipo de movimento, que não está necessariamente associado a um questionamento expresso do resultado eleitoral.

“Às vezes, as pessoas estão simplesmente pedindo intervenção militar ou, enfim, usando outro tipo de argumento que não seja questionar o resultado das urnas diretamente, ainda que seja óbvio que isso esteja no background e também não necessariamente estão convocando para atos violentos”, explica Nina, que também é pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD).

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Para a especialista, quando as pessoas convocam a ocupação do Congresso, por exemplo, não necessariamente estão apelando para a violência. E as plataformas digitais tinham sido alertadas para isso, uma vez que já tinham participado de um episódio semelhante, há dois anos, nos Estados Unidos, com a invasão do Capitólio.

“As plataformas já sabiam que isso poderia acontecer. Então foi de fato, sim, uma leniência e um despreparo total e absoluto. As plataformas diziam que tinham protocolos de crise para esses momentos, mas esses protocolos ou não existem ou não foram colocados em prática”, adverte a pesquisadora.

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“As plataformas digitais foram muito coniventes com esses atos antidemocráticos, deixaram rolar solto”, continua Nina, “A gente teve vídeos, teve transmissões ao vivo, teve monetização inclusive desses conteúdos. Pedidos de doação de dinheiro sendo feito diretamente em plataformas como YouTube. Então, foi um comportamento bastante grave nesse sentido”.

“Festa da Selma”

Outro ponto ressaltado pela especialista é a combinação de diferentes estratégias de rede, uma articulação nas redes privadas, especialmente Telegram e WhatsApp, mas teve também um uso bastante estratégico de redes mais abertas, como Twitter, Instagram e o próprio YouTube, usando expressões-código, inclusive, para tentar fugir dos monitoramentos.

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A Agência Lupa, que também atua na análise da veracidade das informações que circulam nas plataformas digitais, identificou a expressão “Festa da Selma” como um dos códigos amplamente utilizados pelos golpistas para se referirem aos atos em Brasília.

Além da conivência das plataformas digitais, os episódios de golpismo também parecem ter trazido à luz uma grande falta de capacidade de monitoramento e de previsão desse tipo de ato.

“Há dois problemas principais que levam a essa falha: uma primeira é uma falha de fato de estrutura. Existem poucos ambientes ainda onde esse monitoramento de redes é feito de forma contínua, sistemática e eficiente. Houve uma mobilização maior durante o período de campanha, mas passado este período, sobretudo passado o período de posse, esses esforços foram sendo desmobilizados e ainda não estão mobilizados dentro da nova estrutura de governo”, aponta Nina Santos.

Além desta falta de percepção do quão estratégico é o monitoramento desses ambientes digitais, outra questão importante é a dificuldade de avaliação do que circula nessas redes.

“Quando chegamos a um momento como este, que é o ápice dessa mobilização, com invasão de instituições, a gente olha para as mensagens que estavam circulando, e estavam, sim, sendo monitoradas, e vemos que os indícios estavam ali. A questão é que são tantos indícios que fica difícil avaliar o que realmente vai gerar um movimento concreto de ataque à democracia e às instituições”, ela analisa.

“Depois que o fato acontece, é sempre mais fácil olhar e avaliar que aquilo era sim importante. Mas no momento em que acontece, é difícil de ter a dimensão que aquilo pode efetivamente tomar”, acrescenta.

Outro lado

Agora, a capilaridade e a dinâmica das redes sociais têm sido utilizadas contra os golpistas. Diversas iniciativas nas plataformas digitais unem esforços para localizar um número cada vez maior de bolsonaristas que participaram dos ataques na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. No Instagram, a conta Contragolpe Brasil busca identificar essas pessoas, assim como a própria Agência Lupa, que criou um banco de dados para recolher posts antidemocráticos, com o objetivo de mapear como foram organizados os atos de vandalismo.

O movimento vem sendo seguido por celebridades e diversos políticos pró-governo, que compartilham o e-mail de denúncias criado pelo Ministério da Justiça (denuncia@mj.gov.br).

O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes determinou, nesta segunda-feira (9), que o Facebook, o Twitter, o Instagram e o TikTok realizem a suspensão de canais e perfis identificados de manifestantes golpistas que participaram e incitaram a invasão do Congresso Nacional, da sede do STF e do Palácio do Planalto.

Além do bloqueio, Moraes determina que os dados cadastrais dos usuários e conteúdo das contas sejam fornecidos à corte.

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