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BRICS inicia uma cúpula crucial na África do Sul para criar um contrapeso ao bloco ocidental

Um dos grandes temas de discussão será a expansão do bloco e os critérios que os potenciais novos membros devem cumprir

(Foto: Mídia chinesa)
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Télam — Os Brics iniciam na África do Sul uma cúpula crucial para criar um contrapeso ao bloco ocidental. Líderes dos países que compõem os Brics se reunirão na África do Sul entre terça-feira e quinta-feira da próxima semana em uma cúpula que buscará definir os mecanismos para adicionar novos membros e discutir a desdolarização do comércio, com o objetivo de criar um contrapeso político e econômico ao domínio das potências ocidentais em assuntos internacionais.

O fórum que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul terá como grande ausente o presidente russo Vladimir Putin, que participará por videoconferência devido ao risco de que sua viagem ative um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional no caso da deportação de crianças em áreas ocupadas da Ucrânia.

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O Kremlin já anunciou que o ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, liderará a delegação do país em Joanesburgo, na primeira cúpula do grupo que ocorre presencialmente após três anos de reuniões à distância devido à pandemia de Covid-19.

Estarão presentes os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva do Brasil, Xi Jinping da China, o anfitrião Cyril Ramaphosa e o primeiro-ministro Narendra Modi da Índia, além de delegações de cerca de 70 países, incluindo a Argentina, que participarão presencialmente ou virtualmente.

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Um dos grandes temas de discussão será a expansão do bloco e os critérios que os potenciais novos membros devem cumprir: a última adição foi a África do Sul em 2010, que se juntou aos outros quatro países que começaram a formar o grupo em 2006, representando juntos um quarto do PIB global e 40% da população mundial.

Argentina, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos (EAU), Indonésia, Bolívia, Venezuela, Egito e Bielorrússia estão entre as 40 nações que, segundo os organizadores, expressaram sua intenção de se juntar ao que já foi definido como "Brics Plus".

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"Isso será um dos grandes temas, mas os cinco países do Brics ainda não chegaram a um consenso sobre se devem ou não expandir e quais seriam os critérios para selecionar novos membros", explicou à Télam Daniel Bradlow, professor de Direito Internacional do Desenvolvimento e Relações Econômicas Africanas da Universidade de Pretória (África do Sul).

A decisão de adicionar membros e quem seriam esses membros pode alterar a geopolítica e redefinir o futuro dessa associação.

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"A admissão da Argentina, por exemplo, faz sentido porque está no G20, e os Brics poderiam funcionar como uma espécie de contrapeso ao G7. O mesmo acontece com a Indonésia e a Arábia Saudita, que são países ricos e, além disso, atualmente não há nenhum país do Golfo, então seria uma maneira de ampliar a abrangência geográfica. Admitir o Irã, Cuba ou a Venezuela implica algo muito diferente, politicamente falando", disse o acadêmico.

"A cúpula enviará um sinal muito positivo em relação ao início de um processo concreto de admissão de novos membros, mas como fazê-lo e os critérios serão uma segunda etapa que ficará para o futuro", afirmou Ana Saggioro Garcia, coordenadora geral do Centro de Estudos e Pesquisa sobre os Brics, um think tank vinculado à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

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Existe a possibilidade de que alguns desses países não se juntem aos Brics, mas se tornem membros do Novo Banco de Desenvolvimento, fundado pelo grupo e presidido desde abril deste ano pela ex-presidente brasileira Dilma Rousseff.

Uruguai, EAU e Bangladesh já fazem parte da entidade, que se autodenomina uma alternativa melhor para o Sul Global em relação a instituições como o Banco Mundial ou o FMI, ao financiar projetos de desenvolvimento e infraestrutura, com uma governança mais justa, uma vez que todos os países que a integram têm a mesma quantidade de votos desde o início.

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Economicamente, os Brics também apoiam a desdolarização do comércio internacional, seja usando outras moedas fortes como o yuan chinês ou, como sugeriu Lula, desenvolvendo uma moeda própria, assim como a União Europeia fez com o euro.

No entanto, cortar a dependência do dólar não é uma tarefa simples: "O debate é uma coisa, mas a implementação de uma alternativa ao dólar é completamente diferente, porque para estabelecer uma moeda de transação global é necessário um banco central que garanta a integridade e que seja confiável para todos os países do mundo", disse Saggioro Garcia, que também é professora de Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Nesse sentido, ela observou que o Federal Reserve dos Estados Unidos "ainda é uma instituição que garante a integridade e o valor do dólar no mundo", enquanto "ainda existe desconfiança em relação à transparência" do banco central da China, "apesar do enorme poder econômico" do gigante asiático.

A especialista brasileira explicou que o dólar também é respaldado como moeda mundial por Wall Street, um "centro financeiro onde qualquer investidor, multinacional ou país pode operar seus títulos sem restrições", algo que a China não tem, "pois não quer abrir seu mercado para não ficar vulnerável aos fluxos especulativos internacionais".

Ao contrário do que acontece em outros fóruns internacionais, a invasão à Ucrânia não é prevista como um dos principais temas de discussão, mas também não será ignorada, pois a Rússia estará lá para discuti-la diretamente.

Nesse sentido, Lula antecipou que irá levantar a necessidade de "investir na luta contra a fome em vez de gastar dinheiro em guerras" e afirmou que "a paz é uma questão fundamental".

Na véspera da cúpula, o Brasil apresentou seu próprio plano de cessar-fogo, algo que a China também fez, mas ambas as iniciativas foram criticadas por Kiev e seus aliados ocidentais.

Por sua vez, a Índia mantém uma posição pragmática de neutralidade que lhe permite manter laços políticos e econômicos com Putin e com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, que se fortaleceram este ano quando ela assumiu a presidência rotativa do G20.

Enquanto isso, a África do Sul promoveu uma missão de países da região que, em junho, esteve em Kiev e Moscou para mediar no conflito, que afeta o fornecimento de grãos e fertilizantes para os países em desenvolvimento.

Essa perspectiva continental será outro grande foco do encontro, e por isso o tema desta 15ª cúpula é "Os Brics e a África", destacando também como a região se tornou um campo de batalha diplomática entre as potências ocidentais, Rússia e China, para ampliar suas influências.

"O tema reflete nossa convicção de que uma parceria com a África pode trazer benefícios para os Brics", declarou a ministra sul-africana das Relações Exteriores, Naledi Pandor, acrescentando que, juntamente com os países da região que foram convidados, serão discutidas as possibilidades de investimento no continente.

Quem não foi convidado foi o presidente francês, Emmanuel Macron, apesar de ter manifestado explicitamente seu interesse em participar.

Pandor descartou essa possibilidade, considerando-a "bastante engraçada", uma vez que "não foi enviada nenhuma convocação desse tipo" ao presidente francês.

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