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Celso Amorim: "Lula é uma força gigantesca no Brasil, pode impulsionar o BRICS e facilitar a integração da América do Sul"

"O ex-presidente Lula reformulará a atual política brasileira se concorrer e vencer, começando por revigorar o sistema de saúde do país e combater a desigualdade, reforçar o BRICS, trocar para moedas nacionais no comércio e liderar a reintegração da América do Sul", diz o ex-chanceler brasileiro Celso Amorim.

(Foto: ABr)
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247 - O ex-chanceler dos governos Lula, Celso Amorim, concedeu entrevista à Agencia Sputnik e considera que “o ex-presidente Lula reformulará a atual política brasileira se concorrer e vencer, começando por revigorar o sistema de saúde do país e combater a desigualdade, reforçar o BRICS, trocar para moedas nacionais no comércio e liderar a reintegração da América do Sul”. 

Confira a íntegra da entrevista: 

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Sputnik: Quais são as chances de Lula vencer a corrida?

Celso Amorim: Lula como tantos outros, como muitos de nós, - digo isso porque me sinto pessoalmente ligado a ele, também - estamos agora concentrados no que pode ser feito para melhorar a vida dos brasileiros por causa da pandemia. O Brasil tem um número recorde de mortes por dia. É um país que detém agora o maior número de pessoas mortas diariamente. Isso, é claro, é acompanhado por recessão, desemprego e falta de renda para os pobres. Então, todas essas coisas agora concentram sua atenção. Claro, se você fizer a pergunta, ele dirá "Bem, posso concorrer", não sei exatamente o que ele disse à televisão [portuguesa], mas ouvi-o outra vez dizer: "Bem, se há um pedido do meu partido e das forças progressistas, aquelas que estão mais ligadas aos ideais sociais no Brasil com mais independência na política externa, se essas forças pedirem...

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Claro, Lula é uma força gigantesca na política brasileira, então ele terá uma grande influência de qualquer forma. E, claro, muitas pessoas, como eu, esperam que ele concorra. Mas, como eu disse, estamos um pouco longe, e estamos no meio de uma pandemia, uma grande crise de saúde, uma grande crise econômica, uma grande crise social potencial também. Portanto, é um pouco difícil fazer uma previsão.  

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Sputnik: Que reação Lula pode esperar de Washington, visto que o governo Biden está em desacordo com o gabinete do Bolsonaro? Washington tentará se intrometer na campanha de Lula?

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Celso Amorim: Washington não é um conceito tão simples. Existem diferentes forças nos Estados Unidos que agem de maneiras diferentes. Certamente, se você tivesse o governo Trump, eles apoiariam o Bolsonaro. Com o governo Biden — não sabemos ainda. Até agora, suas políticas para a América Latina não mostraram muito progresso. Mas você sabe, quando Lula era presidente tínhamos boas relações, e isso era com o presidente Bush e o presidente Obama. Claro, pode haver interesses de empresas americanas no Brasil. Pode haver alguns outros interesses estratégicos. Mas, não é mais o que costumava acontecer nos anos 1960 ou 1970.

 

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Até o tipo de intromissão é diferente. Acho que se acontecer vai acontecer por meio da mídia brasileira, da elite econômica brasileira. E a elite econômica brasileira, eles está um pouco desconcertada porque apoiaram o Bolsonaro e agora, pelo menos, muitos deles se arrependem.

Então, não vejo bem por que eles tentariam fazer qualquer coisa para bloquear a campanha de Lula, porque na verdade Lula sempre foi uma pessoa aberta ao diálogo, mesmo em relações com questões difíceis como a da Venezuela, para falar de um aspecto regional aqui. 

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Sputnik: As multinacionais podem tentar atrapalhar a campanha de Lula, já que ele se opõe a mais privatizações?

Celso Amorim: Certamente existem, no Brasil, forças que estão mais ligadas a, digamos, esse neoliberalismo que querem privatizar e podem ganhar com esse processo também, no Brasil. E pode haver outras empresas internacionais que podem se interessar pelo Brasil, mas não têm domínio. Eles podem ter algum apoio, internacionalmente falando, que se oporá a Lula porque querem mais privatizações, mais espaço para fazer ganhos, ganhos imediatos.

Por outro lado, até por causa da pandemia, por causa do alto desemprego, por causa das políticas que têm a ver com o preço do petróleo, há um sentimento crescente no Brasil — que vai além das tradicionais forças progressistas — de que precisamos de um presença do Estado brasileiro na economia para relançar a economia. Isso está acontecendo até mesmo nos Estados Unidos. O que Biden está fazendo agora nos Estados Unidos é algo que não acontecia desde FDR, Franklin Delano Roosevelt, na época da [Grande] Depressão, na forma como ele injeta dinheiro, inclusive aumentando impostos, impostos sobre os ricos, impostos sobre as  corporações.

Então, o mundo está mudando um pouco. Não podemos pensar apenas através dos modelos que tínhamos, mesmo os que tínhamos até dez anos atrás, eles já se tornaram, de certa forma, superados. Portanto, há um novo mundo. Acho que o fato de termos o BRICS, por exemplo, temos a possibilidade, a Rússia acaba de propor, vi meu bom amigo [o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei] Lavrov, com quem interagi por muitos anos como ministro das Relações Exteriores e antes como embaixador do a ONU, propondo que a Rússia pudesse abandonar o dólar.

 

Não sei se o Brasil pode abandonar o dólar, mas poderíamos ter nosso comércio entre os países do BRICS com nossas moedas. Então eu acho muito importante reforçar o BRICS. 

Acho que o Brasil tem que trabalhar dentro de grupos como o BRICS e, claro, ter relações normais com os Estados Unidos também. Não é fácil porque a América Latina é vista por muitas pessoas nos Estados Unidos como seu quintal, como de alguma forma estava implícito em sua pergunta. Mas também acho que isso está mudando: temos governos progressistas no México, na Argentina, na Bolívia. Então, se o Lula for eleito... e eu acho que se ele concorrer, ele tem uma grande chance de ser eleito, e quase certo que o será. Se ele for eleito, poderemos trabalhar tanto com a integração da América do Sul quanto com grupos como o BRICS, e também com os Estados Unidos, e também com a União Européia.

 

Sputnik: Quais são as questões internas que Lula tratará imediatamente se ganhar a Presidência? Que mudanças na política externa se pode esperar se Lula vencer?             

Celso Amorim: O problema imediato que ele está tratando agora [é a pandemia], porque o Lula é uma grande figura no Brasil, o que ele fala e faz tem influência. Até, por exemplo, quando Lula criticava o ministro da Saúde, Bolsonaro demitiu seu ministro da Saúde. Ele não criticou o ministro, criticou a política e o ministro foi demitido alguns dias depois. O Bolsonaro nunca tinha usado máscara, e quando Lula fala dessas coisas, ele começou a usar, porque sabe que Lula tem grande influência e quer se apropriar disso.

O Brasil tem um sistema de saúde fantástico, um dos melhores do mundo — não era bem aproveitado pelo Bolsonaro, pelo atual governo — mas graças a ele a situação não é ainda pior. É mais ou menos como o National Health [Service] na Grã-Bretanha. Claro, somos um país em desenvolvimento e não temos o mesmo tipo de recursos, mas isso permeia a sociedade.

Em termos de política externa: bem, é claro que o mundo muda, então não posso dizer que ele fará exatamente as mesmas coisas que fez há dez anos quando estava no poder. Mas com certeza, vamos tentar trabalhar em duas ou três linhas, acabei de citar: ter um mundo mais multipolar, reforçando grupos como o BRICS, isso é essencial para o Brasil e acho que é essencial para os outros grupos membros. Trabalharemos na integração na América do Sul e desenvolveremos relações multipolares com todo o mundo, com grande destaque na África porque a África está muito próxima do Brasil.

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