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'Experiência soviética ainda agrega à luta das mulheres', diz Wendy Goldman

Historiadora falou sobre as conquistas das mulheres da União Soviética, comparando-as à luta feminista dentro do capitalismo

Wendy Goldman (Foto: Reprodução)
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Opera Mundi - No programa 20 ENTREVISTAS INTERNACIONAL desta quinta-feira (02/12), o jornalista Breno Altman entrevistou a historiadora especializada em estudos da União Soviética Wendy Goldman sobre as lutas e conquistas das mulheres no país comunista.

Para ela, que também é autora do livro Mulher, Estado e Revolução (Editora Boitempo), as mulheres soviéticas tinham mais direitos do que as mulheres no mundo capitalista, que eram designadas aos piores trabalhos, sem nenhum tipo de direito social. “Na URSS, elas tinham direito a licença maternidade e a amamentar os filhos no ambiente de trabalho, por exemplo, que são coisas que nós lutamos até hoje nos Estados Unidos para poder ter”, exemplificou.

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Por isso, ela acredita que a experiência soviética ainda é atual e tem muito a aportar à luta real das mulheres de hoje em dia. Ela citou como a globalização e o capital internacional dividem as mulheres, dificultando uma luta unificada dentro do capitalismo. Assim, de acordo com Goldman, a maior contribuição que a experiência soviética pode proporcionar é a da socialização do trabalho doméstico. 

“Conseguimos a liberdade de algumas mulheres de poder sair para trabalhar, mesmo tendo filhos, mas que depende da opressão de outras mulheres, a maioria imigrantes, mal pagas e sem nenhum tipo de proteção social, que também têm seus filhos e suas ambições, mas que são vistas como menos importantes. Precisamos ter uma visão que englobe todas as mulheres e é disso que a visão socialista trata”, argumentou.

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A historiadora relembrou que a URSS, além de permitir o aborto e facilitar o divórcio, por exemplo, regulou o emprego doméstico com salários decentes, horários fixos e proteção trabalhista, além de construir creches e refeitórios públicos, que também retiravam parte da carga doméstica dos ombros das mulheres.

“Existem coisas que a gente pode resolver dentro do sistema capitalista, como a legalização do aborto, mas apenas o socialismo trata das relações de classe, que é a raiz da opressão”, reforçou.

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Por outro lado, ela apontou para as limitações do “feminismo soviético”, mencionando o pequeno esforço feito pelo Estado por oferecer métodos anticoncepcionais para as mulheres, “o que é essencial para que nós não sejamos prisioneiras de nossos próprios corpos”.

“Os direitos da população gay, lésbica e trans também não eram parte importante do programa bolchevique. Aliás, acho que eram até quase cegos com relação a isso”, citou também.

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A URSS era feminista?

Ao falar da luta das mulheres no país, Goldman ponderou que, às vezes, o que parecia uma conquista na teoria, não se confirmava na prática, e que, enquanto houve momentos de muitos avanços, houve outros de retrocessos.

O período pós-Revolução de 1917, por exemplo, foi marcado pela penetração dos ideais das feministas russas na sociedade, com a criação da legislação mais progressiva do mundo para as mulheres na época. Os líderes bolcheviques apoiavam o programa para a libertação das mulheres e foi criado um Departamento das Mulheres para realizar o trabalho de base, segundo a historiadora.

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À época, contudo, também foi de contradições. Os bolcheviques tomaram um país devastado e empobrecido, de modo que não havia dinheiro muitas vezes para implementar os serviços sociais direcionados para as mulheres.

“Outra contradição, a nível legislativo, era o divórcio. As pessoas podiam se divorciar de forma muito livre, apenas preenchendo um documento no cartório. E muitos homens tiraram vantagem desse procedimento para abandonar suas mulheres, com os filhos, em um momento em que o desemprego era altíssimo, principalmente entre a população feminina”, refletiu.

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Já o período de Josef Stalin foi considerado de retrocessos, o mais marcado deles foi a criminalização do aborto em 1936, que havia sido legalizado em 1920: “Havia a percepção de que dominava o caos social no país e a resposta do governo foi ressuscitar uma noção antiga de família tradicional. Desapareceu a ideia de amor livre, por exemplo, e quem a defendia era preso. Por outro lado, como muitas mulheres entraram para a força de trabalho, foi quando construíram as creches e os refeitórios públicos”.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Goldman destacou que muitas mulheres lutaram de igual para igual com os homens. Se alistaram e se tornaram pilotas e até franco-atiradoras, ainda que não haja relatos de mulheres ocupando postos de comando. Outras assumiram trabalhos que os homens que foram para a guerra deixaram.

“Só que o retorno à vida civil não foi fácil. A sociedade as chamavam de ‘prostitutas do front’. E as mulheres nunca recuperaram a extensão total da visão jurídica da emancipação das mulheres que havia após a revolução”, lamentou.

Mais do que isso, já no período da glasnost e perestroika, em que houve a reconquista de uma série de direitos civis em geral, “as mulheres estavam exaustas de trabalhar e cuidar da casa”. Como resultado, a historiadora revelou que, em vez de surgir um novo movimento feminista, muitas mulheres passaram a abraçar noções muito reacionárias.

“Quando morei na URSS e dizia às mulheres que eu era feminista, elas riam, como se fosse a pior coisa do mundo. Para elas, o feminismo significava feminismo de Estado, ou seja, trabalhar o dia todo, chegar em casa e trabalhar em casa. Além disso, os soviéticos nunca foram muito bons com relação a itens de consumo, então não produziam batons decentes ou sapatos bonitos, coisas para a autoestima das mulheres. E acho que as mulheres ansiavam por essas coisas, coisas que no ocidente a gente estava rejeitando e dizendo que eram sinais de opressão e objetificação. Então acho que por isso elas rejeitavam o nosso feminismo”, discorreu.

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