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Tereza Cruvinel

Colunista/comentarista do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.

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A Legalidade: o filme sobre um Brasil que lutava

"Quando A Legalidade termina, a mim, pelo menos, a pergunta que sobra é: o que fizemos ou o que fizeram de nós?", questiona a jornalista Tereza Cruvinel. "Como é que um povo que foi capaz de resistir e pegar em armas para evitar o golpe contra a posse de Jango em 1961 tornou-se depois passivo, por muitos anos, sob a ditadura, e agora está aplastrado, acarneirado, diante desta tragédia de tantos atos que é o governo Bolsonaro?"

(Foto: Divulgação)
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No final de quase todo filme o telespectador tem uma pergunta, uma dúvida que tentará esclarecer recordando cenas ou conversando com quem também  o viu. Quando A Legalidade termina, a mim, pelo menos, a pergunta que sobra é: o que fizemos ou o que fizeram de nós? Como é que um povo que foi capaz de resistir e pegar em armas para evitar o golpe contra a posse de Jango em 1961 tornou-se depois passivo, por muitos anos, sob a ditadura, e agora está aplastrado, acarneirado,  diante desta tragédia de tantos atos que é  o governo Bolsonaro?

O filme de Zeca Brito é necessário e oportuno. Vem resgatar e ensinar a História nesta hora em que nosso direito à memória e à verdade está sendo subtraído, nesta hora em que as instituições e instrumentos de sua preservação estão sendo destruídos, como a Comissão Nacional de Anistia, nesta hora em que tentam mesmo reescrever a História: não houve ditadura, não houve tortura,  nunca deixou de haver democracia. A Legalidade é tão necessário como o Bacurau, que com outra proposta estética e narrativa, também fisga  a consciência crítica ao mostrar outro Brasil,  o de um lugarejo nordestino que resiste e se insurge contra o mal, todo o mal metaforicamente condensado na figura daqueles tarados norte-americanos que aqui vieram dar vazão a seus instintos mais primitivos.

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Leonel Brizola não viveu para ver o filme que faz justiça a seu papel naquela crise que adiou por três anos a ditadura militar. No final, pode se entender ele perdeu, pois Jango fez o acordo com Tancredo Neves, enviado do status quo, aceitando assumir com os poderes mitigados pela emenda parlamentarista.  Mas Brizola ganhou: foi sua liderança que plasmou a  resistência, com o povo armado no Rio Grande do Sul e mobilizado em grupos dos 11 em vários outros estados. Entendendo a importância de informar o povo e derrotar a censura, ele montou a cadeia de rádio da legalidade no  porão do Palácio Piratini.  Foi a resistência por ele liderada que permitiu a posse de Jango e até abortou planos para mata-lo.  E hoje, tendo a Internet, as forças progressistas não são capazes de dar combate efetivo à manipulação e ao veneno das Fake News que deram a vitória a Bolsonaro em 2018. Lá estão agora, no Congresso, os Bolsonaros filhotes ocupando a CPI das Fake News para evitar que ela investigue o que houve no pleito.

Quem vê o filme entende a frase que de vez em quando todos nós  ouvimos: que falta nos faz um Brizola! Ele é interpretado pelo ator Leonardo Machado, falecido no ano passado. Ele capricha no sotaque do velho Briza, em suas entonações tão peculiares, em seus gestos largos, na expressão facial que não dissimulava sentimento.  

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Estranho é o Brasil. Passaram-se quase 60 anos até que alguém contasse, no cinema, a história da resistência ao golpe de 1961, quando os militares tentaram  impedir que o vice legitimamente eleito assumisse a presidência depois da renúncia do trêfego Jânio Quadros e se surpreenderam com o levante popular em defesa da legalidade. Vale também a lembrança de que nem sempre o Exército foi golpista: o general Machado Lopes, comandante do Terceiro Exército, ficou ao lado da resistência, da Constituição, da legalidade.

Até aqui falei da História, do que é sabido, é bem ou mal conhecido, mas o filme não é um documentário no sentido ortodoxo. É um docodrama, acho que é este o termo: mescla ficção e realidade, tem também romance, amor e sexo. Disso devo falar pouco, para não estragar o prazer de ninguém que ainda verá o filme.  Fiquemos no fato de que Cleo Pires faz a protagonista que vive uma história de amor com um guerrilheiro. Do casal resta uma filha que, nos anos 2000, estará em busca de seu passado e da identidade do pais, interpretada por Letícia Sabatela. O romance que se desenvolve ao longo do drama político de 61 e irá ultrapassá-lo é uma aposta do diretor Zeca Brito na apropriação de elementos da telenovela para fazer com que seu filme caia no gosto das massas:

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Eu quis fazer um filme que chegasse ao povo, que rompesse a barreira que sempre existiu entre o cinema nacional e o novo povo. Por isso o romance, que é ficção mas é também uma metáfora. Por isso, embora ele contenha elementos da cultura erudita, especialmente na trilha sonora,  busquei fundir a narrativa histórica com elementos da cultura de massas – disse o diretor em debate, neste terça-feira, 17, após a exibição do filme no Cine Cultura de Brasília.

Zeca mescla também imagens documentais com a própria produção. E entre as imagens de arquivo, uma é particularmente preciosa:  é a do discurso que Che Guevara, delegado de Cuba, pronuncia no dia 9 daquele fatídico agosto, na reunião do Conselho Interamericano Econômico e Social em Punta Del Este.

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