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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

207 artigos

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A linguagem comum e os efeitos do ódio

Ó ódio como receita é veneno puro

(Foto: Pixabay)
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Houve um tempo em que as pessoas, ao se dirigir ao público, procuravam formas diretas, simples, objetivas de alcançá-lo. Pressupunha-se que os idiomas cultos, na política, afastavam eleitores e eles virariam a cara para outras direções. O hábito das escolhas democráticas aprimorou e difundiu semelhantes práticas de conversa, trazendo o público para perto dos problemas e sugerindo soluções que encantavam a maioria. Certos dirigentes se destacaram assim, através do poder de levar aglomerações a rir ou chorar, dependendo da leveza ou da gravidade dos temas abordados. Ninguém, nem os não-alfabetizados, tinha de se alijar de tais comunicações, na medida em que a maioria trabalhava em busca de suas opiniões e votos. 

Hoje, contudo, a linguagem dá a impressão de haver sofrido mutações consideráveis, se não no conteúdo, sem dúvida no estilo da linguagem utilizada para mobilizar as multidões. Artífices da doutrinação ideológica passaram a supor que os ouvidos comuns, sujeitos a múltiplas impressões, não davam valor ao que se lhes dizia, a não ser elevando os decibéis e proclamando o ódio como um dos seus instrumentos. São recursos frente aos quais nem todos se acham afeitos. Há os que se recusam a admiti-lo, saudosos de uma época na qual mesmo adversários se cumprimentavam e desejavam boa sorte. Contendores da atualidade, ao contrário, na passagem dos cargos, se recusam, na posição de Presidentes da República, a entregar a faixa ao sucessor. Viram-se e vão embora com gestos de ofensa e de ofendidos, quando, na verdade, usaram e abusaram dos qualificativos negativos. Imitadores, nem se fala. Acirram os comportamentos e gritam de ensurdecer tímpanos moucos. 

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A introdução do ódio nos discursos políticos agora frequenta os palanques. Gente laica ou religiosa estica o pescoço e deixa as artérias saltarem atrás de expressões virulentas que, pela sua natureza própria, devem impressionar simpatizantes e intimidar até autoridades judiciárias. No contraste entre uns e outros, nota-se isso com abundância. O Presidente Lula se dirige aos admiradores com voz suave e simpatia. O outro, o Ex, pula, esganiça a voz e deixa escapar esguichos e palavras como se fossem vômitos. É imitado, no particular, pelo pastor Silas Malafaia, um neófito das passeatas que esbraveja e ameaça ministros do Supremo Tribunal como se fossem asseclas. Em alguns instantes, fica-se com a impressão de que permanece à beira de um ataque de apoplexia, tão vermelho exibe o rosto e violenta lhe surge a voz por meio de estrídulas vociferações que literalmente simulam perda de controle. 

O ódio constitui uma das paixões humanas que ressaltam os princípios da dignidade e a expõem em pedaços, como se houvesse acionado uma bomba relógio. Não parece bom conselheiro para o sucesso na existência profissional ou política. Talvez guarde um lugar na história das ideias. Afinal Adolf Hitler gostava também de vociferar suas verdades e projetos de dominação do mundo. Ficou tristemente conhecido pela crônica dos nossos costumes. Revivê-lo em práticas de ideologia política representa um sonho de grandeza delirante, bom para os histéricos e os descontrolados. Que os princípios da sensatez os coloquem no devido lugar, mas nunca no poder, é o que se espera de uma nação destinada ao sucesso. Ó ódio como receita é veneno puro. 

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