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Nêggo Tom

Cantor e compositor.

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A polícia e a política de estrangulamento racial

A liberdade nunca foi plena. Nos destinaram majoritariamente aos guetos e as favelas, para nos manter distantes de seus jardins. Se somos estrangulados no dia a dia, é porque ousamos dar um passo maior do que a folga da corda no pescoço permite

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No último final de semana, um Policial Militar inspirado no seu colega de farda norte americano que matou George Floyd, estrangulou por duas vezes um jovem preto de 19 anos durante uma abordagem e ajoelhou-se sobre o seu peito provocando-lhe um desmaio. Imagens mostram o rapaz completamente dominado, sem oferecer perigo ou resistência, quando o policial pressiona o peito do rapaz com o joelho até ele desmaiar. Ao retornar à consciência, o jovem preto é mais uma vez agredido pelo policial, que o estrangula e o faz desmaiar novamente. O caso ocorreu em Carapicuíba, região metropolitana de São Paulo. Por sorte, o rapaz ainda está vivo. Mas, até quando? 

George Floyd não foi o primeiro, e, infelizmente, não terá sido o último homem preto a ser morto pela Polícia norte americana. Apesar de todo o histórico de violência racial nos USA, contar com a participação efetiva das forças de segurança daquele país, o presidente Donald Trump condenou os protestos antirracismo e classificou os manifestantes como: “brutamontes” que atacam a herança norte americana e desejam impor um novo regime opressivo para destruí-la. Referindo-se a destruição de estátuas e monumentos erguidos em homenagem a figuras ligadas ao tráfico de escravos e ao racismo estrutural.

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Trump é racista. Sua declaração evidencia seu preconceito, quando ele tenta levianamente inverter os fatos e atribuir à reação dos manifestantes antirracistas, a mesma brutalidade e covardia que a sua Polícia costuma empregar contra os pretos em seu país. Que leu alguma coisa de Malcom X, está atento e não se permitirá confundir a reação do oprimido, com a violência do opressor. No Brasil, a situação não é diferente. Principalmente, diante da ascensão de um governo de extrema direita, igualmente leviano com relação as questões sociais e negacionista do racismo estrutural.

Ganha força então, a política e a polícia do estrangulamento racial. Física e existencialmente falando. Se o Estado é omisso, quando não conivente com o racismo, que é um dos pilares de sua estrutura social e econômica, a polícia que é o seu braço armado, apenas segue as regras do jogo para manter tudo em ordem. A recomendação é tão clara, quanto as ações e as técnicas adotadas para deflagrá-las. Num de seus discursos de campanha, o ainda candidato à presidência Jair Bolsonaro, deixava clara a sua intenção com relação aos pretos e demais minorias. Ou se enquadram ou desaparecem.

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Especialista em matar, como ele mesmo já se definiu, não me causaria espanto se o estrangulamento estivesse entre as suas técnicas de destruição do inimigo. Os pretos brasileiros sofrem por estrangulamento desde o período escravocrata. Após a abolição a corda foi apenas afrouxada, mas, continuou no pescoço para dificultar o nosso acesso a determinadas áreas e limitar o nosso progresso social e econômico. A liberdade nunca foi plena. Nos destinaram majoritariamente aos guetos e as favelas, para nos manter distantes de seus jardins. Se somos estrangulados no dia a dia, é porque ousamos dar um passo maior do que a folga da corda no pescoço permite.

O estrangulamento racial, faz parte de um conjunto de regras instituído pela elite branca, para defender os seus privilégios e exaltar sua supremacia. Sua normatização, por mais absurda e criminosa que possa parecer, estabelece o preconceito como política pública de proteção às castas sociais mais afortunadas e de pele clara. O mesmo policial que estrangula fisicamente um jovem preto durante uma abordagem, é estrangulado verbalmente por um empresário branco morador de Alphaville, que o chama de “bosta”, “lixo” e “merda”, ter tido a petulância de abordá-lo. Fazendo questão de lembra-lo do abismo e social e econômico que os separam, comparando pejorativamente o salário do policial com a sua renda de empresário.

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São dois recortes pontuais, que nos dão a exata noção de a quem o Estado protege através de sua polícia e de sua política. Pena que muitos policiais, principalmente, os de baixa patente que atuam em operações urbanas, não tenha consciência de classe e não percebem que a sua atuação nos dias de hoje, se equipara ao trabalho exercido pelos capitães do mato de outrora. Vale lembrar, que a Polícia Militar foi criada durante o Império, com o objetivo principal de proteger a propriedade privada dos senhores de engenho. Função que ainda hoje é desempenhada com muita competência pela instituição, a despeito da técnica empregada.

A política de estrangulamento racial não é inédita. A Polícia responsável por coloca-la em prática só está sendo filmada.

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