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Marcelo Moraes Caetano

Psicanalista, doutor em Letras, professor adjunto na UERJ. Autor de mais de 50 livros publicados no Brasil e no exterior

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Bolsonarismo: será que venceremos o apocalipse?

Uma das heranças mais malditas de Bolsonaro foi ter conseguido, em alguma medida, cultivar o ódio como forma de “convívio”

Ato bolsonarista na Avenida Paulista (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
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Antes de qualquer coisa, é preciso entender que essa estética de fim do mundo, distopia e apocalipse não é algo criado pelo bolsonarismo.

Aliás, dizer que algo não foi criado pelo bolsonarismo é até redundância, já que não existe nada, absolutamente nada, que o bolsonarismo tenha criado. Nenhum substantivo coletivo representa melhor os bolsonaristas do que “seita”, e a seita bolsonarista cumpre sua função de se apropriar de fragmentos de éticas e estéticas que encontra e que lhe sejam úteis.

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Foi assim que se apropriou da bandeira do Brasil e da camisa da seleção brasileira, da bandeira de Israel, do modo de vida e de comportamento de ostentação e violência dos milicianos, da carnavalização típica da cultura brasileira de raiz, convertida em histeria de massa nos cultos evangélicos, aparelhamento dos militares para tentarem dar golpes de estado... isso só para dar alguns exemplos. 

Bolsonaro e seus soldados rasos não criaram absolutamente nada. É até triste constatar que todo o comportamento disfuncional de quem admira Bolsonaro foi simplesmente DESPERTADO, e não criado. 

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Um exemplo de cópia e simulacro foi a presença de Baby do Brasil em pleno Carnaval baiano VERDADEIRO, dando o seu “lembrete” da aproximação do apocalipse. Ela foi respondida à altura por Ivete Sangalo. Na verdade, precisamos realmente responder essas usurpações. A senhora Baby do Brasil se apropriou do Carnaval, inclusive recebendo cachê para isso, mas sibilou ali seu projeto de poder teocrático. Claudia Leitte também deu um exemplo de usurpação ao não querer usar o nome de Iemanjá numa festa com essa temática para a qual ela estava sendo (muito bem) paga. Claro que há liberdade de expressão, elas podem falar do que quiserem, mas nós, que estamos atentos a essas tentativas de usurpação, também podemos e DEVEMOS nos expressar sobre a hipocrisia que significa receber dinheiro de uma festa da qual você diz que sua ALMA discorda.

A questão de se pregar o fim do mundo e as distopias apocalípticas são frutos muito mais antigos do capitalismo e até do pré-capitalismo. Desde quando o capitalismo deu seus primeiros vagidos, lá no fim do feudalismo e o início da ascensão da burguesia, esse modo de produção já veio para matar e, se perceber que vai morrer, quer morrer matando, cair atirando, como os bandidos.

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Em outras palavras, toda a gama muito mais recente de filmes da indústria estadunidense de Hollywood que conclama o fim do mundo – a lista de filmes com essa temática é enorme – nada mais é do que um tipo de ameaça à humanidade. E, como é uma ameaça feita através da arte (o cinema), está cheia das mensagens subliminares que o próprio Aristóteles já estudava, e se infiltram astuciosamente nos inconscientes coletivos. 

A ameaça parte da seguinte mensagem: se você pensa que o capitalismo um dia vai acabar ou mesmo se adaptar a alguma forma de social-democracia, saiba que é mais fácil o mundo acabar inteiro (um apocalipse) do que a forma corrosiva e predadora do capitalismo vigente recuar um único passo que seja.

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Sabemos que o bolsonarismo é uma espécie de “muito barulho por nada”, como diria Shakespeare, com “método nessa loucura”, como diria, também, o mesmo William. Essa barulheira bolsonarista existe em grande parte para drenar nossas atenções do objetivo real que a seita venera como seu deus: o deus dinheiro, o deus capital financeiro, o deus lucro, o deus eliminação das classes e ideias dissonantes.

É exatamente por servir ao capital financeiro em sua forma mais primitiva e selvagem que a grande imprensa corporativa e empresarial não deixa, NUNCA, de apoiar o bolsonarismo. Não importa o que seja feito, eles sempre acharão um modo de, enviesadamente, defender o bolsonarismo.

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Nesse pacote, é claro que a grande mídia hegemônica vai defender os mesmos ídolos e ícones da seita. Defendem o atual Estado de Israel em sua política óbvia de extermínio de toda uma etnia e povo. Defendem a subserviência e vassalagem do Brasil em relação aos Estados Unidos. Defendem a Ucrânia e seu papel de fantoche da OTAN. Defendem Milei e seu trator suicida, tubo de ensaio dos estertores da última forma de neoliberalismo já no leito de morte. Defendem que a China é uma “inimiga”. Defendem que o “comunismo” é uma ameaça. Defendem que qualquer militância identitária é frescura e mi mi mi.

Para dar um exemplo, uma certa jornalista Madeleine Lacsko (que tem livros argumentando sobre a “infantilidade” das pautas identitárias...) se disse horrorizada quando houve o episódio de Jair Renan, o zero-sei-lá-qual, supostamente ter aplicado golpe de estelionato num banco (sendo processado por esse banco), usando, para isso, com a inteligência que caracteriza os Bolsonaros, sua própria foto. Madeleine disse algo como: “O que constatamos com tristeza é que o Brasil vem sendo assaltado há mais de 30 anos por uma família”.

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Nossa, conclusão de gênio!

Passados poucos dias, na parafernália montada na Avenida Paulista em 25 de fevereiro para defender (defender o quê?!) Bolsonaro, que mais uma vez imita a estética do carnaval brasileiro, inclusive com o trio elétrico (percebam como eles se apropriam de tudo e corroem as estéticas), a mesma Madeleine clama que “Bolsonaro tem uma força que Lula não tem”.

Percebem? Não há nenhum pasmo dessa senhora com “30 anos de assalto aos cofres públicos”. Há, sim, idolatria por essa família, que, afinal, quase conseguiu transformar o Brasil num escravo e num pária internacional a serviço do grande capital corporativo. 

Será que é despreparo intelectual, ato falho ou má índole mesmo? Talvez tudo junto.

Que “força” Bolsonaro mostrou na Avenida Paulista? Meia dúzia de evangélicos convocados por seu ídolo, Silas Malafaia, se debatendo como oligofrênicos abraçados à bandeira de Israel “por ser cristão”, sem ter ideia que menos de 2% da população israelense é cristã. Como disse Joaquim de Carvalho, que entrevistou aquelas senhoras que viralizaram no mundo inteiro por estarem agarradas à bandeira israelense porque “Israel é cristão” (sic), houve um EMPODERAMENTO DA IGNORÂNCIA. Eu complemento afirmando o óbvio: Lula terá que triplicar os investimentos em educação e cultura para salvar as novas gerações, porque essa, infelizmente, já apodreceu de forma irreversível.

Alguns dias antes, a Pabllo Vittar colocara mais de 2 milhões de pessoas ali do lado, em 2024. A parada LGBT+ de SP teve em sua mais recente edição (2023) mais de 4 milhões de pessoas. 

Se Lula estalasse o dedo e convocasse uma passeata com qualquer artista que ele quisesse, ele faria o Brasil parar num CARNAVAL VERDADEIRO, com nem sei quantos milhões de pessoas, não o simulacro de carnaval que os evangélicos tentam ostentar.

Mas Lula está ocupado limpando o Brasil do apocalipse, este sim real, que Bolsonaro deixou. Inclusive com a doença crônica que ele instilou: o bolsonarismo.

Uma das heranças mais malditas de Bolsonaro foi ter conseguido, em alguma medida, cultivar o ódio como forma de “convívio”. Ele reacendeu o “Brasil: ame-o ou deixe-o”. Se você não é da seita de Bolsonaro, os sectários desejarão eliminar você. Não existe convívio possível. Essa foi a pior herança deixada por Bolsonaro. A burrice de olhar para o 25 de fevereiro e dizer que isso representa “força” é a capacidade exclusiva de unir dois pontos (mais de mil pessoas = força), não conseguindo ver nada além desse plano unidimensional. 

Por que é que pouquíssimo se fala daquele caminhão com toneladas de diesel posto para explodir com dinamite no dia 24 de dezembro no aeroporto de Brasília? E ainda há quem diga que estamos numa “polarização”... Como podemos lidar com pessoas capazes de explodir com dinamite um caminhão de óleo diesel? Com diplomacia e compreensão?

Michelle Bolsonaro falou explicitamente que era preciso juntar religião e política. Se sucumbíssemos a isso, nos transformaríamos numa teocracia miliciana. A grande mídia exultaria, porque o que ela quer no fundo, não é apenas dinheiro: é PODER, o poder de supostamente substituir o Estado e nos colocar a todos nós como súditos dessas empresas, bem a exemplo do “serviço” que programas sensacionalistas que mostram bandidos sendo executados por civis ou policiais, os programas pinga-sangue que são as melhores metonímias possíveis da mídia empresarial. 

Esse pano de fundo cenográfico de religiosidade serve muito bem ao bolsonarismo. Em relação às milícias, já escrevi colunas aqui no Brasil 247 sobre a união comensal entre escritórios milicianos e igrejas evangélicas, que, inclusive, ajudam a “explicar” e “justificar” de onde vem tanto dinheiro... 

Essa foi a “FORÇA” demonstrada por Bolsonaro na Avenida Paulista. A força de nos permitir concluir que precisamos sempre CULTIVAR A CULTURA para que a COLHEITA (as três palavras são cognatas) não seja o ódio, o empoderamento da ignorância, a repulsa a toda forma de alegria, o desprezo predatório a toda a diversidade étnica, de gêneros, de sexualidades, de religiões.

A terra devastada que Bolsonaro deixou ainda gera algumas gramíneas, mesmo que muito artificiais, como vimos no dia 25 de fevereiro. Esse apocalipse, copiado da bomba atômica que o capitalismo quer explodir com dinamite e toneladas de diesel num caminhão num 24 de dezembro qualquer, não pode ser subestimado. Venceremos isso quando garantirmos a vida de nossa cultura VERDADEIRA, que tem impedido que o Brasil afunde, mesmo com 21 anos de ditadura civil-militar, elite oligárquica racista e preconceituosa e, agora, o empoderamento de todo esse modo esquizofrênico de ver o mundo e a vida. 

A cultura é o bastião de ouro. É Moscou. Se Hitler tivesse chegado a Moscou, teria ganho a guerra. Felizmente Leningrado impediu.

Salve a Cultura!

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