Bolsonaro perde relevância
"Mais do que incompetente, perigoso. Mais do que tosco, irresponsável. Jair Bolsonaro conjuga falhas de caráter com nanismo cognitivo e se transforma num estorvo à paz social exigida pelo momento de conflagração a que estamos submetidos", diz o jornalista Ricardo Bruno, acerca da crise política que toma conta de Brasília



Mais do que incompetente, perigoso. Mais do que tosco, irresponsável. Jair Bolsonaro conjuga falhas de caráter com nanismo cognitivo e se transforma num estorvo à paz social exigida pelo momento de conflagração a que estamos submetidos. Atordoado, incendeia a Nação, com ataques e ameaças a adversários e a seus próprios colaboradores. Seus movimentos erráticos estão transformando a vida dos brasileiros num pandemônio. Não bastassem as turbulências funestas decorrentes da disseminação do vírus, estamos sujeitos ainda aos arrancos ilógicos e grotescos de um presidente que age quase sempre movido pelo ódio patológico.
Neste torvelinho de crises, o país afunda não apenas na recessão mas, sobretudo, na desesperança, na falta de horizontes para a retomada, na ausência de confiança naquele que deveria nos conduzir com segurança na travessia à normalidade. Aos poucos, a cada ato desmesurado, a cada rompante avilanado, a cada agressão disparada a esmo, Bolsonaro se reduz, se deprecia, se apequena diante dos brasileiros que dele ainda esperavam um mínimo de equilíbrio. Cada vez mais, governa menos; não delibera, não decide, não orienta; as ações que ainda norteiam a rotina administrativa do país são emanadas pela junta palaciana que reúne militares e civis ainda comprometidos com o bom senso.
A observação da rotina presidencial mostra que a Bolsonaro está reservado um papel menor, quando muito coadjuvante Por absoluta inépcia, perdeu protagonismo: de chefe da nação passou a reles animador da trupe. Desajeitado, troncho, primário, Bolsonaro é uma caricatura presidencial. Sobram-lhe defeitos na imagem desfocada que insistentemente projeta a partir de suas ações estapafúrdias. À distância, vê-se o contorno burlesco de um palhaço. No zoom, encontramos um homem desorientado, em meio à tempestade que ameaça seu reinado. Em público, rosna maldições, vitupera ataques, com esgares que traem desequilíbrio e insegurança. Encrespado, faz ameaças de que vai exercer finalmente o poder que lhe confere o cargo. Já não consegue. Contido pelas instituições, e pelo próprio grupo palaciano, não ultrapassa a linha das provocações, retirando credibilidade de seus movimentos. Torna-se apenas um ventríloquo malsão das alucinações de seu guru, Olavo de Carvalho.
Por necessária, há uma nítida ação de isolamento do presidente diante do agravamento de seu quadro patológico - marcado pelo desvario quase absoluto. As instituições da República, Câmara, Senado, Supremo e governadores , se articulam diretamente e definem diretrizes para o país, à revelia dos arroubos insanos do presidente. O processo faz Bolsonaro perder relevância.
O caso do Ministro Mandetta é exemplar. Bolsonaro não exige apenas alinhamento ideológico. Quer mais: quer submissão canina a sua obscura visão terraplanista. Ninguém dúvida da natureza conservadora de Mandetta, que destruiu o programa farmácia popular, não chamou de volta os médicos cubanos e apoiou o golpe que retiraria Dilma do poder, abrindo espaço para ascensão de Bolsonaro. O presidente quer demiti-lo, portanto, não por distanciamento ideológico, mas pelo brilho com que conduz os trabalhos no front de combate ao vírus. Bolsonaro não perdoa a inteligência, mesmo em seu campo político. O seu pacto não é apenas com a direita. É, sobretudo, com o atraso. Mais uma vez, contudo, foi posto a recuar, num zigue-zague público próprio de quem já não manda como imagina.
Médico, Mandetta jurou o mandamento de Hipócrates; não a cartilha de absurdos do astrólogo atrabiliário da Califórnia. Ao ameaçar demitir o ministro, Bolsonaro tenta, na verdade, fazê-lo renunciar ao manuscrito bizantino em que os profissionais de medicina se comprometem a exercer a arte de curar, fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Ofuscado e atormentado, o presidente talvez queira reescrever Hipócrates, fazendo seu ministro da saúde jurar obediência aos desonestos, injustos, néscios e parvos. Até aqui, para a sorte dos brasileiros, não conseguiu.
O conhecimento liberta. Saiba mais. Siga-nos no Telegram.
A você que chegou até aqui, agradecemos muito por valorizar nosso conteúdo. Ao contrário da mídia corporativa, o Brasil 247 e a TV 247 se financiam por meio da sua própria comunidade de leitores e telespectadores. Você pode apoiar a TV 247 e o site Brasil 247 de diversas formas. Veja como em brasil247.com/apoio
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247