Cinema: A lã manchada de sangue
“Os Colonos” é um western anticolonial sintético e cozido em fogo lento, cujos diálogos pretendem ferir tanto quanto as ações
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Distinguido com o Prêmio da Crítica na Mostra Un Certain Regard de Cannes e representante do Chile no Oscar 2024, Os Colonos (Los Colonos) é um western anticolonial sintético e cozido em fogo lento. O filme de Felipe Gálvez coloca três nações colonizadoras implicadas no massacre dos indígenas Selk’nam na Patagônia chilena do início do século XX.
O espanhol José Menéndez foi de fato um grande empresário responsável pelo extermínio dos Selk’nam para abrir espaço para sua pecuária e indústrias. Alfredo Castro o interpreta com o ar sinistro que lhe é peculiar. Um soldado britânico (Mark Stanley) e um mercenário estadunidense (Benjamin Westfall) são os jagunços encarregados de iniciar os trabalhos. Eles seguem pelos Andes na companhia do mestiço Segundo Molina (Camilo Arancibia), que representa a consciência tumultuada do povo originário sobrevivente ao massacre. O olhar de Segundo, frequentemente associado ao dos cavalos, faz uma pontuação inquietante.
Grande parte do filme é uma sucessão de sketches um tanto teatrais ao ar livre, em que os diálogos pretendem ferir tanto quanto as ações. O convívio do trio se pauta por uma rivalidade nacionalista forjada na banalização da violência masculina, especialmente depois que entra em cena um coronel britânico (Sam Spruell) que é a vilania em pessoa.
A trilha musical lembra os western-spaghettis dos anos 1970, clima também sugerido pela fotografia alheia à assepsia das imagens digitais de hoje.
O estilo engessado e compassado da direção provoca um estranho distanciamento e, admito, um certo tédio. Essa opção, porém, se mostra mais acertada no ato final, quando a violência física do colonizador cede lugar à violência cultural sob o pretexto de fazer justiça e promover uma absorção devoradora dos indígenas em nome da integração nacional.
“A lã manchada de sangue vale menos”, diz um agente governamental, sugerindo que prevaleça a paz entre o proprietário de ovelhas e os indígenas. A canalhice da frase ilustra, tanto quanto as chacinas, o processo de colonização.
>> Os Colonos está nos cinemas.
O trailer:
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