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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Cinema: O Holocausto no espaço off

De um lado do muro, a barbárie nazista. Do outro, a concretização de uma vida familiar plácida e saudável. “Zona de Interesse” encena a banalidade do mal

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O extraordinário Shoah nos dava uma perspectiva sinistra do Holocausto simplesmente por não mostrar nenhuma imagem do próprio Holocausto. O rigoroso distanciamento no tempo só fazia aumentar a nossa percepção do horror. Os cenários dos campos de concentração apareciam em 1985 como locais bucólicos onde, durante e à margem do extermínio nazista, famílias alemães levavam uma tranquila vida campestre.

Zona de Interesse (The Zone of Interest) retrata ficcionalmente uma daquelas famílias. Não uma qualquer, mas a de Rudolf Höss, comandante do campo de Auschwitz. O distanciamento, aqui, é apenas espacial, e mínimo. Não mais que um muro separa os pavilhões mórbidos da propriedade onde moram os Höss. Dali se veem bem os rolos de fumaça do crematório, ouvem-se os tiros e rumores do campo, e restos humanos podem ser encontrados no riacho onde se banham. Mas nada disso abala o bem-estar de Frau Höss (Sandra Hüller, de Anatomia de uma Queda e Toni Erdmann) e de seus filhos.

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A única preocupação da mulher é com a saúde das crianças e do seu jardim, além da repartição das roupas e objetos retirados aos judeus antes da morte e trazidos para sua casa. Aquilo é a concretização de um sonho de vida saudável e proveitosa para os Höss. 

O dispositivo do espaço off é explorado à exaustão por Jonathan Glazer (Sob a Pele), e não só em relação ao campo, cujo interior só vemos num insert atual do museu. Na movimentação dos personagens pela casa, a frequente manipulação de portas expressa o desejo de tudo separar, como se um recinto não tivesse relação com os demais. Várias ações são apenas insinuadas, efetivando-se longe dos olhos do espectador, como é o caso da relação de Rudolf (Christian Friedel) com uma jovem empregada. Os afetos do oficial, aliás, são melhor explicitados numa visita dele à estrebaria.

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Baseado em alguns aspectos do livro homônimo de Martin Amis, e trocando os personagens fictícios pelos correspondentes reais, Zona de Interesse despreza a história de adultério original para concentrar-se no cotidiano absurdamente plácido da família Höss e nas gélidas preparações da "solução final". A transferência de Rudolf para mais perto do centro de poder do Reich o coloca à frente de uma missão monstruosa. É mais uma ilustração da forma industrial e metódica com que os nazistas conduziram o Holocausto. Filmes como o documentário A Conferência de Wannsee e o ficcional A Conferência descreveram em detalhes esse processo macabro.

A forma desdramatizada e fria com que Glazer conduz as cenas só faz realçar a indiferença dos Höss face ao que acontecia do outro lado do muro. A sogra de Rudolf, em visita ao casal, parece a única a se incomodar. Para nós, mais que incômodo, a barbaridade é uma sensação permanente. 

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>> Zona de Interesse está nos cinemas. Concorre aos Oscars de melhor filme, direção, roteiro adaptado, filme internacional e som. Ganhou quatro prêmios em Cannes.

O trailer:

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https://www.youtube.com/watch?v=bdGPi0HvTEY

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