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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Cinema: Uma mulher e uma obra sufocadas por um corpete

Esqueçam a Sissi de Romy Schneider. Em “Corsage”, a imperadora completa 40 anos e sente a idade pesar sobre sua aparência sempre irretocável

"Corsage" (Foto: Divulgação)
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A figura da duquesa Elisabeth Amalie Eugenie da Baviera, Imperadora da Áustria e Rainha da Hungria, popularizou-se no cinema com o rosto de Romy Schneider na trilogia Sissi. Aquilo era uma caixa de bombons que edulcorava a imagem da imperatriz para consumo de massas. É bem diferente a proposta de Corsage, que se concentra nos anos de 1877 e 1878, quando Elisabeth completa 40 anos e sente a idade pesar sobre sua aparência sempre irretocável.

A beleza e o corpo esguio haviam se tornado sua marca. Por isso lhe doem as observações alheias sobre sua idade e uma eventual perda nos seus encantos. No aniversário, o canto da festa exige: "Que permaneça bela".

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Uma dicotomia curiosa a afeta. Por um lado, preocupa-se demasiadamente com a compleição física, para isso se esfalfando em exercícios, alimentando-se frugalmente, aplicando-se heroína e exigindo que as criadas lhe apertem o corpete (corsage) até o formato da ampulheta. Por outro, incomoda-se com o papel decorativo que a corte lhe reserva no Império Austro-Húngaro.

Daí a irritação, as ironias, as risadas nervosas e as irreverências do seu comportamento, sobretudo na presença do marido, o Kaiser Franz Joseph. E também as constantes viagens para encontrar-se com o primo Ludwig da Baviera, o conde húngaro Gyula Andrássy ou o instrutor de equitação escocês Bay Middleton, o que fornece motivo para fofocas na corte.

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A Sissi criada pela diretora e roteirista Marie Kreutzer seria uma feminista avant la lettre, talvez inspirada menos em fatos da época do que em liberdades contemporâneas. Ela fuma como uma chaminé, finge desmaios para chocar os circundantes, masturba-se no banho e é capaz de mostrar o dedo médio obsceno para encerrar uma discussão. Em chave semelhante à Maria Antonieta de Sofia Coppola, embora mais discreta, a Elisabeth de Corsage está deslocada do seu tempo. Assim também estão as canções encravadas no filme, inclusive As Tears Go By, dos Rolling Stones, cantada "ao vivo" em 1878.

As licenças dramáticas alcançam, pelo menos, um dado crucial da biografia. Elisabeth morreu esfaqueada por um militante anarquista na Itália, e não da forma grandiloquente como se vê na sequência final.

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Não sei se a imperatriz foi realmente filmada nos primórdios do cinema, como consta no filme. Recentemente, houve um revival da personagem em dois filmes, duas séries (uma delas da Netflix) e um romance. Corsage, o item mais famoso dessa nova Sissi-mania, tem um desempenho intenso de Vicky Krieps, uma bela direção de arte e, como não poderia deixar de ser, figurinos marcantes. Não obstante, é um filme frio, às vezes elíptico demais e formalmente rígido. Como se respirasse sufocado por um corpete.

>> Corsage está nas plataformas Globoplay e Telecine.

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O trailer:

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