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Marcia Carmo

Jornalista e correspondente do Brasil 247 na Argentina. Mestra em Estudos Latino-Americanos (Unsam, de Buenos Aires), autora do livro ‘América do Sul’ (editora DBA).

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Com Milei, cinema argentino "corre perigo" e setor apoia greve do dia 24

"Pacote de Milei anula o decreto que criou há 65 anos o Fundo Nacional das Artes, que respalda escritores, artistas plásticos, músicos...", explica Marcia Carmo

Javier Milei (Foto: Reuters/Horacio Cordoba)
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Diretores e produtores do cinema argentino compareceram, nesta segunda-feira, nas comissões que discutem a ‘Lei Ônibus’, que é assim chamada por ter quase 700 artigos que afetam vários ramos da sociedade argentina. O presidente Javier Milei pretende que as medidas sejam aprovadas, sem tempo para o debate, até o fim deste mês de janeiro.

A Lei de Milei atropela uma série de setores (aposentados, sindicatos, clubes de futebol, farmacêuticos, médicos e muitos outros). E tem gerado críticas e ações na Justiça. Diante dos deputados, o diretor e roteirista Santiago Mitre disse que as reformas do presidente argentino são “demagógicas e destrutivas”. Mitre é o diretor do premiado ‘Argentina, 1985’, com o ator Ricardo Darín, sobre o julgamento dos ditadores militares, realizado pouco depois do retorno da democracia em 1983.

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Mitre disse que sem a legislação que está em vigor, de fomento à produção cinematográfica, o país não teria a projeção que tem hoje em vários países. “Os filmes argentinos são admirados no mundo, mas eles não existiriam sem a Lei do Cinema, sem as regras com as quais contamos há mais de trinta anos”, disse ele, que falou em nome da comunidade do cinema da Argentina. O ente autárquico é a referência para a cinematografia argentina e canaliza os créditos para as produções argentinas da ‘Sétima Arte’.

Indignado, o diretor perguntou os motivos para que se pretenda “destruir” a reputação do que foi construído e reconhecido internacionalmente ao longo dos anos. “Apesar das mentiras persistentes, o orçamento do Instituto Nacional do Cinema e Artes Audiovisuais (Incaa) não está ligado ao orçamento nacional”, disse. Para ele, Milei busca um “reformismo às pressas, sem reflexão e de forma imatura”, que vai prejudicar as conquistas dos argentinos. Ele afirmou que o Incaa funciona “sem os caprichos” dos governos, seja de direita ou de esquerda, e agora se pretende sepultar tudo isso. Milei quer fechar o Incaa, entendem diretores, roteiristas e produtores.

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A produtora do filme ‘O Segredo dos seus Olhos’, Vanessa Ragone, acha que, sob a batuta de Milei, o cinema “corre perigo”. Ela anunciou que participará, no dia 24, da greve de doze horas convocada pelas centrais sindicais contra a motosserra de Milei. O filme dirigido por Juan José Campanella e estrelado por Darín ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro e o Goya, da Espanha, em 2010. A motosserra foi o símbolo da campanha do então candidato. Ele chegou a levá-la para seus atos na disputa com o então candidato e agora opositor Sergio Massa, peronista e ex-ministro da Economia. “Nós pedimos reunião com o secretário de Cultura e fomos ignorados”, disse Ragone ao canal C5N, de Buenos Aires. Os cortes de Milei pretendem atingir também a produção de livros, as livrarias, o teatro e as tradicionais bibliotecas populares (fundadas pelo ex-presidente Domingo Sarmiento no século dezenove e ainda hoje espalhadas por todo o país).

O pacote ‘Ônibus’ de Milei, chamado de ‘Lei de Bases e pontos de partida para a Liberdade dos argentinos’, anula o decreto que criou há 65 anos o Fundo Nacional das Artes (FNA), que respalda escritores, artistas plásticos, músicos, arquitetos, desenhistas.....O FNA apoiou, por exemplo, o escritor Jorge Luis Borges (1899-1986) e o artista plástico Antonio Berni (1906-1981) - não deixem de ver seu quadro ‘Manifestação’ no museu Malba, quando estiverem em Buenos Aires.

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Milei também quer acabar com o Instituto Nacional de Teatro, epicentro do respeito aos palcos do país. A lei que o criou determina, por exemplo, que se o dono de um teatro o demolir, terá que construir outro no mesmo lugar (não permitindo shoppings ou igrejas, por exemplo). Sem maioria no Congresso, a bancada de Milei tenta costurar articulações para aprovar o trator das suas medidas. E não se descarta que consiga.

Na semana passada, ao falar nas comissões da Câmara, onde a Lei Ônibus de Milei é debatida, o secretário de Cultura, Leonardo Ciffell, disse que o Incaa ‘precisa de modificações urgentes’ e que o Instituto Nacional de Artes e o Instituto Nacional de Teatro serão atividades que estarão ‘sob a órbita’ da sua pasta. E não deu mais detalhes, deixando o mundo das artes na Argentina ainda mais incerto. Antes de Milei, a Cultura, era Ministério e não uma simples secretaria. Rebaixamento.

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Namorado de uma humorista popular no país, Fatima Florez, Milei não demonstra amor pelas artes, na visão de diretores, roteiristas, artistas....

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