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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

206 artigos

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Dignidade ferida

Em nossa pátria, as elites sabem o que fazem de acordo com os seus interesses. E são elas que ditam os caminhos. Continuaremos assistindo a degradação sem freios dos nossos costumes. O que perderemos com a aventura ocupará as reflexões dos nossos descendentes perplexos, que se escandalizarão, naturalmente, diante do tamanho da nossa complacência.

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A imagem de um povo – ou de um indivíduo – representa parte fundamental de sua existência. Por isso, se confunde, às vezes, aparência com essência. Há quem se preocupe tanto em preservar e exibir uma de suas faces, que as demais desaparecem, vendendo gato por lebre. Quando a realidade se mostra por inteiro, a dimensão do escândalo ultrapassa os limites do aceitável. Cai a máscara que, na verdade, realmente mal escondia o rosto. Este passa a ser objeto de escárnio. Na política internacional, a imagem possui inegável importância. O hitlerismo trabalhou com ela a ponto de criar um aparato de propaganda no qual as qualidades se demonstravam acima de qualquer suspeita. A reviravolta veio com imensa decepção por parte de seus apoiadores e da população, coincidindo com um perfil da derrota e das ruínas pelo país a fora.

Conscientes de que a imagem contribuía para o pior ou para o melhor, os vitoriosos compreenderam a necessidade de restaurar tanto quanto possível os lados bons da nação que ressurgiria das cinzas, evitando as humilhações do tratado de paz que pôs fim à Primeira Guerra, mas criou os elementos para um novo e terrível conflito.  

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Mesmo nos esportes se sabe que se pode ganhar uma partida, respeitando os adversários como uma das regras do jogo. Por tais motivos, entre outros, a humanidade criou a moral, um sistema de noções que devem nos orientar e favorecer no trato entre iguais e desiguais. São ideias que devem nos reger no sucesso e no insucesso, uma vez que a existência é feita de altos e baixos. O recente episódio da incontinência verbal de Jair Bolsonaro, achacando inverdades contra Dilma Rousseff, como se a mesma houvesse inventado suas experiências de tortura no período da ditadura militar, demonstra que ele gosta de viver perigosamente. A difamação com frequência não atinge apenas o outro. Como um bumerangue, vai e volta, batendo na cabeça de quem o lançou. Dilma não deixou o governo por corrupção, por mais que desejassem lhe lançar a pecha. Saiu por meio de um golpe parlamentar, que, aliás, envergonha a nação. No contraste com o atual mandatário, ostenta uma dignidade que este não logra alcançar, mesmo dando cambalhotas físicas ou verbais. Duramente ofendida, ela só encontrou o que dizer chamando-o de “psicopata social”. Na crise da razão, a mesma vai para o espaço. Este é um diagnóstico da atual feição da política brasileira.

Embora os requisitos para uma reviravolta institucional há muito já tenham sido ultrapassados, é certo que não teremos novidades legais. Em nossa pátria, as elites sabem o que fazem de acordo com os seus interesses. E são elas que ditam os caminhos. Continuaremos assistindo a degradação sem freios dos nossos costumes. O que perderemos com a aventura ocupará as reflexões dos nossos descendentes perplexos, que se escandalizarão, naturalmente, diante do tamanho da nossa complacência.

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