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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Duas visões da pandemia no exterior

Jornalista Denise Assis traz histórias de Sonja e Paula, duas mulheres que estão enfrentando a pandemia de coronavírus na Inglaterra e Espanha, respectivamente

(Foto: Divulgação)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

Hoje cedo este espaço para duas amigas que vivem no exterior contarem como estão enfrentando a experiência da pandemia. Sonja mora em Londres, e Paula é espanhola da Galícia. Viveu no Brasil, mas retornou à Espanha logo depois do golpe de 2016.

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Era uma garota que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones. Na época nos reuníamos à tarde para ouvir o último LP dos Beatles que a amiga importava dos EUA. À noite íamos ao bailinho do clube, já com as letras na ponta da língua. 

Sonja era a mais fanática. Traduzia cada letra e cantava as músicas todas de cor. Sonhava com a Inglaterra. Um dia anunciou que estava de partida. Ia conhecer os quatro cavaleiros do apocalipse. Matou todo mundo de inveja. Mas quem se atrevia? Tirou foto com os rapazes, mandou pelo correio e foi ficando. Ficou. Hoje vive em Londres, tem duas filhas e está aposentada como bibliotecária. A meu pedido, nos conta um pouco da sua experiência com a pandemia na terra da rainha.

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“Oi Denise, 

Moro em Londres e estou em casa desde 16/03. Quase não peguei a loucura dos supermercados superlotados. Na primeira semana foi um horror. Todo mundo se acotovelando para comprar macarrão e papel higiênico. Parecia que o mundo ia acabar. Tiveram que reduzir e estipular o que cada pessoa podia comprar. 

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Agora só se consegue fazer compras esperando três semanas para mandar a lista online. Mesmo assim, entrar no site exige paciência. Só depois de meia noite. (Esta é a dica, porque depois desta hora é quando mudam as datas e você consegue agendar para o último dia da terceira semana.)

Eu não saio pra nada, pois tenho diabetes e tomo insulina, mas a minha vizinha sai para ir num mercado aqui perto e disse que ninguém respeita a distância de dois metros. A fila para entrar no mercado está virando o quarteirão.

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Enfim, muita gente morrendo e parece que vai ser o país com mais mortes. O governo demorou para tomar medidas. Um governo um pouco melhor que o seu, mas péssimo, mesmo assim.

E não sabemos como fica o dia de amanhã. Tenho uma filha aqui, a Cynthia, que só vejo pelo Whatzapp. A outra mora em Sevilha, a Liv. Ela também está cumprindo a quarentena.

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A Natureza esta brava e com razão. Pena que os que precisam não morrem...”

Paula Sanmartin – atriz e criadora cênica – 

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Paula era a minha professora de Espanhol. Chegou ao Brasil a bordo de uma paixão por um brasileiro que a convenceu a vir morar no Rio. No fim, ela descobriu que havia entrado em uma fria. Trocou de amor e, desta vez, fez o oposto. Convenceu um músico talentoso e dedicado a fazer o caminho inverso. Voltou para a Galícia, terra de sua família, onde teve uma filha. Atriz talentosa, participou de séries de sucesso e dirige espetáculos. Ela me conta o que tem sido o seu cotidiano em quarentena.

“O estado de alarme começou na Espanha no dia 16 de março, mas a minha família e eu estamos confinados desde o 13. São 40 dias. Uma verdadeira quarentena. Estamos todos com saúde. O drama aqui está mais concentrado na cidade de Madrid, com hospitais lotados, falta de respiradores, mortos sem despedida... 

Na Galícia, que é o meu lugar (ou nacionalidade histórica, como diz a constituição espanhola) o vírus, por enquanto, fez pouca presença – o que também nos obriga a ficar em casa, pelo bem de todos. Aqui vivemos um outro drama inicial, que foi o fato de “Madrid” (e entenda-se isto como o governo central espanhol), não fechou as suas “fronteiras” quando começaram a crescer os casos de coronavírus, dentro da cidade. 

Isto permitiu que muitas pessoas com segunda residência de férias em outros lugares da península - Como a Galícia - saíssem da capital, possibilitando a disseminação do vírus por todo o Estado - E não por toda a península, porque o país vizinho, Portugal, fechou a tempo as suas fronteiras. 

No dia de hoje (21 de abril) parece termos alcançado a “meseta” – (o platô, em tradução livre). Talvez fosse o decréscimo) em números de contágios/mortes, e a partir da próxima segunda feira, 27 de abril, as crianças poderão sair de casa, controladamente, acompanhadas por um adulto. 

O governo da Espanha, atualmente de “esquerdas” sofre ataques diários por parte da extrema direita, que acha qualquer oportunidade boa para minar a estabilidade política e vive ansiando por um golpe de estado. De todas formas, com acertos e erros, o governo está tomando atitudes políticas e econômicas, mantendo um pulso forte com a união europeia, para garantir um apoio mínimo para a sobrevivência dos mais desfavorecidos. E isso está indo muito bem. Está sobre a mesa o debate duma renda mínima universal, e isto é o que pode ser o aspecto positivo de toda esta crise”

A minha filha chegou e não pude seguir escrevendo. 

Beijos, logo nos falamos melhor!

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