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Dimas Roque

Jornalista

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O apartamento

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Já são 3:15 da manhã e eu continuo deitado na cama sem que o sono tenha vindo me visitar. Faz dias que eu levanto e deito sem ao menos arrumar o apartamento. Acredito que é porque lá fora a vida está muito pior que aqui dentro.

Pela janela, que deve medir meio metro de largura por uns quinze centímetros de altura do tipo basculante, vejo as luzes mudarem de cor ininterruptamente durante todas as noites. A sequência parece a mesma de um semáforo. Começa com verde, laranja e vermelho. Mas tem outras cores, a rosa, a branca e o azul muito forte. Eu às vezes conto quantas vezes elas acendem e apagam a cada uma hora. O tempo passa lentamente dentro do meu mundo.

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A água no filtro de barro é levemente fria e bebo muito para tomar os remédios prescritos pelo médico do posto de saúde. O novo medicamento que ele passou já não faz mais efeito e eu passo noites em claro. Às vezes, quando vou à farmácia do município, a moça que fica lá, de tanto que já me atendeu, pergunta.

- Já mudou de remédio novamente?

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Eu dou um sorriso de canto de boca envergonhado. As pessoas já perceberam que tem algo errado, mas eu não acho isso. É que eu me sinto só. Por isso o meu apartamento de sala e banheiro é onde me sinto bem acolhido. Lá não tem ninguém para fazer perguntas que me incomodam.

Um barulho no corredor chamou a minha atenção. Estou preocupado. Não ouço passos, nem vozes. E isto é muito estranho. As luzes continuam a sua sequência e um facho de luz penetra pela janela que está entreaberta. Vejo que meus pés ficam iluminados por ele. Às vezes os mexo para sentir que estou vivo.

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As horas passam e novamente ouço barulhos lá fora. Levo meus olhos em direção à fresta da porta por baixo. Há um movimento, uma resta se movimenta e o medo começa a me dominar agora. Me encolho na cama. Me cubro todo com o lençol e deixo somente meu nariz e meus olhos de fora.

No canto esquerdo do apartamento a mesinha já bem gasta pelo tempo é onde deixo os livros que já li e reli várias vezes. O tamborete não é confortável, mas é onde consigo sair deste lugar e viajar pelo mundo através das leituras diárias. Eu acredito que a leitura salva vidas. Eu sou um exemplo disso. Eu estou vivo.

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Eu não posso ficar amedrontado e enrolado na cama. Passa um carro da polícia na rua. O barulho das sirenes começou baixo e foi aumentando à medida que iam chegando mais perto. Já bem distante, eu quase não ouço mais. Estou sentado agora na beirada da cama. Se o barulho voltar, eu vou abrir a porta para saber quem está lá fora. Pode ser que algum dos vizinhos esteja precisando de ajuda.

Uma porta se abre. Ouvi o barulho dela se fechando em seguida. Dessa vez só a agitação de algo se movendo apareceu novamente por baixo da porta. Eu senti um calafrio. O medo ainda está em mim. Faz tempo que o tenho e quando algo assim acontece, ele aumenta e eu até transpiro. Vi que o movimento veio agora na direção contraria. É agora que eu tomo coragem. Um tempo mais. Só mais um pouco. Coloco os chinelos no pé, pego a chave que fica na mesinha e dou três passos em direção à porta. Bastou para eu abrir a fechadura sem fazer barulho e fico esperando o momento certo para fazer o movimento na maçaneta.

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Abro a porta rápido para ser uma surpresa. Olho para o lado direito e não há ninguém. Olho o esquerdo e só aquela caquera sem nada plantado nela continua lá, deixando ainda mais feio o corredor. Algo se move em minha direção. Olho para baixo e a barata tenta entrar no apartamento. Não tenho outra alternativa a não ser matá-la com meu pé. Chego a ouvir o barulho característico de algo explodindo. Ainda chuto aquele corpo inerte para longe. Entro, fecho a porta, passo a chave. Deixo a sandália perto da porta e me deito novamente. Os primeiros raios do Sol estão surgindo pela janela. O sono está chegando. Me enrolo novamente. Acho que o remédio que tomei está fazendo efeito.

- Bom dia! É hora de dormir.

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