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Flávio Barbosa

Cronista, psicanalista

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O nome e o limite das coisas

Não adianta um monte de gente “bacana” e de autoridades da república ficarem melindrados e ofendidos porque um membro da mais Alta Corte Jurídica brasileira lembre-nos que o nome dessas coisas absurdas é genocídio

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Há coisas que deveriam nos intrigar muito no Brasil se não imaginássemos o que é o Brasil ou o que ele está se tornando. Indagaríamos por que os órgãos de imprensa, que enfim despertos, ao que parecem, formulam cada vez mais matérias jornalísticas que buscam contrastar a opinião do presidente desta república, Jair Bolsonaro, a despeito, por exemplo, de sua indicação do uso da cloroquina, contudo, não se propõem a investigar a fundo por que ele defende o uso desse medicamento em diversas fases do tratamento da covid-19 se ele não é médico e se organizações de saúde pública do Brasil e do mundo, como a OMS, além de renomados pesquisadores de centros de pesquisas respeitáveis na área médica e farmacológica não recomendam esse uso e até o desaconselham ou simplesmente propõem que se lhes proíbam a prescrição e uso neste caso.

Indagaríamos também a despeito da função da Procuradoria Geral da República (PGR) que assiste a esse espetáculo grotesco, burlesco e letal sem qualquer manifestação a respeito. Sem abrir um procedimento investigativo mesmo diante de um genocídio, como bem salientou há alguns poucos meses o ministro do STF Gilmar Mendes, e com toda razão, a despeito do morticínio da covid-19 no Brasil e a inépcia quando não cumplicidade das autoridades brasileiras. O que faz a PGR, finalmente?

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E igualmente o que faz o Supremo Tribunal Federal ante esse morticínio? Qual é o papel de uma Suprema Corte diante de um genocídio – insisto na palavra --, de um ato genocida estimulado no negacionismo criminoso do presidente da república, nas incontáveis manifestações aglomerativas que pratica, na atitude antivacina, e na inépcia e estupidez de um ministro da saúde que não é da área da saúde e que não conhece sequer o Sistema Único de Saúde (SUS), conforme o próprio já afirmou em entrevistas e mesmo já estando a frente dessa pasta em plena crise sanitária, a mais grave em um século. Pior, um sujeito que segue sem conhecer o SUS e continuamente negligencia as medidas sanitárias. 

Isso que ora está a acontecer em Manaus – a falta de oxigênio para os pacientes graves da covid-19 que manifestam síndrome respiratória aguda (SRAG) – é ilustrativo não só do despreparo técnico e operacional dessa gente, mas não seria também de intenção?

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Senhoras e Senhores ministros do STF: nada a declarar? Nada a fazer? Estão confortáveis em seus merecidos recessos?

Aonde anda o iluminismo dessa Corte e de seus magistrados? Será que esqueceram na caverna de Platão, no mundo das sombras?

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E o que dizer do Conselho Federal de Medicina (CFM) que vê quase diariamente um charlatão ditar normas e protocolos para a Saúde Pública e simplesmente emudece? Ora, logo esse Conselho que quando chegou ao país um importante reforço para a Atenção Básica da Saúde através do Programa Mais Médicos, no governo de Dilma Rousseff (PT), sobretudo os médicos vindos de Cuba, travou uma verdadeira guerra santa contra esses profissionais fazendo de tudo para que este Programa não fosse efetivado, e se efetivado, não desse certo, mesmo diante dos números que gritavam ao informar que duas mil cidades brasileiras tinham uma grande insuficiência de oferta de médicos, que outras setecentas cidades brasileiras não tinham um médico sequer, que as periferias das grandes cidades e as populações de menor renda tinham uma oferta extremamente deficitária de médicos e outros agentes de saúde, que distritos indígenas e quilombos eram imensamente desassistidos nesse aspecto, e igualmente os rincões desse imenso país, donde pouquíssimos profissionais da área se dispunham a ir trabalhar neles, enfim.

Por que ninguém se indaga seja na agora indignada grande imprensa, seja no ministério público federal, na polícia federal e na justiça federal acerca de que interesses, inclusive de ordem financeira, implique em que o presidente da república faça uma defesa tão obstinada do uso de um medicamento que provoca reações perigosas como arritmias cardíacas que mata, desde que utilizado inadequadamente, e sabe-se que já incidiu em mortes de pessoas que fizeram uso dele, tais os relatos que nos chegam de setores responsáveis da Saúde e da Mídia, e nem duvidamos que muitos desses óbitos possam ser consequência da crença de alguns, muitos, nas falas públicas do presidente, que, operando com autêntico arroubo marqueteiro parece ajudar os negócios da empresa, e quiçá, suas ações na bolsa de valores. Mas, será que todo esse empenho do presidente é por confiança na receita, é gratuito, ou há mais coisa aí nessa seara do que supõem as vãs filosofias?

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Cadê o velho Tribunal de Contas da União (TCU), aquele das convicções sobre pedaladas fiscais, que mesmo diante de uma possível prevaricação da parte da maior autoridade do país ao autorizar que laboratórios públicos como o do Exército Brasileiro, produzissem, com recursos públicos, milhões de comprimidos de cloroquina a serem distribuídos em centros médicos para o tratamento da covid-19, mesmo este medicamento não sendo recomendado por qualquer autoridade sanitária mentalmente sã e responsável no Brasil e no mundo.

A amizade de Jair Bolsonaro com representantes de empresas que produzem a cloroquina no Brasil quer dizer alguma coisa? Existe mesmo proximidade entre essas pessoas? A defesa que nos Estados Unidos o presidente Donald Trump fez do uso da cloroquina no caso em tela, ainda mais sabendo-se que o megaempresário Donald Trump investe em fundos acionários da empresa que detém a marca da cloroquina (sic) e, ademais, que ele funciona como um Chefe e a quem claramente Bolsonaro o emula, este bisonho e submisso Jair Bolsonaro, bem, isso também quer dizer alguma coisa?

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E o que dizer do Senhor Rodrigo Maia, presidente da Câmara Federal, seguirá até o fim de seu mandato presidencial que se avizinha absolutamente omisso em relação às dezenas de pedidos de impeachment do presidente Bolsonaro, muitos dos quais rigorosamente fundamentados? Será que ele imagina que a sua omissão não o torna cúmplice desses crimes em série que têm sido cometidos? O resto do Congresso Nacional, suas partes conservadoras, evidentemente, seguirá no modo tem nada a ver conosco?

Questões não faltam, como se vê, sobre esses temas tão controversos que ora nos assaltam, o que falta é que esses setores da imprensa mainstream, ora tão inquietos com Bolsonaro, ultrapassem a linha da simples indignação, e se lancem num trabalho de jornalismo, de fato, frente a essas questões que já nos gritam aos ouvidos há tempo.

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Que produzam respostas jornalísticas a fim de investigar amiúde falas e posições publicamente assumidas de autoridades que parecem brincar com vidas humanas que aos milhares vão se consumindo em meio à pandemia que nos assola. Que diante de tudo que está a acontecer no Brasil não faz o menor sentido apenas repercutir e se indignar com as falas do presidente Jair Bolsonaro, as “trapalhadas” dele, de seu ministro da saúde e de seu chanceler. Dos filhos numerizados do presidente... É preciso dar um passo adiante, é preciso desencadear um amplo processo investigativo que se nos mostre e demonstre que essas falas mais do que irresponsabilidades em um momento crítico como esse – o que já é gravíssimo --, elas significam muito mais do que isso, elas possam ser parte de algo muito mais complexo, grave, pois criminoso. Intencionalmente criminoso.

Não adianta um monte de gente “bacana” e de autoridades da república ficarem melindrados e ofendidos porque um membro da mais Alta Corte Jurídica brasileira lembre-nos que o nome dessas coisas absurdas é genocídio. 

Afinal, o nome dessas coisas que estão a ocorrer no Brasil não é outro que não Genocídio. Ponto!

O sofrimento agonizante e a morte de pessoas nos corredores e leitos dos hospitais de Manaus e alhures por falta de oxigênio que foi como um soco tipo nocaute em nossas caras nessa última semana, e diante de todos os avisos do que estava por vir, e do que está a acontecer no país, que, NÃO controlou a pandemia desde que ela chegou aqui em março de 2020, e sobretudo não o fez como outros países fizeram porque muitas de nossas autoridades, especialmente o “Dr. Jair Bolsonaro” e suas “receitas milagrosas” agiram em sentido contrário ao controle possível da pandemia em nosso território, e em assim sendo, foram êmulos dessa tragédia mais que anunciada corroborando a irresponsabilidade de uma grande parte da população, por um lado, mas também, e sejamos justos, as imensas dificuldades de uma enorme massa humana desprovida de recursos materiais, sem emprego, sem renda, agora sequer com a renda emergencial (encerrada pelo desgoverno) tendo, portanto, de ir à luta para salvar o pão de cada dia de si mesmo e da família, desesperados pela fome, que não é aqui qualquer eufemismo, mas um acontecimento real em nossa sociedade.

A mídia, refiro-me aqui especialmente a empresarial, que tem uma enorme responsabilidade por esses acontecimentos, embora pose de isentona; que dispõe de imensos recursos materiais, logísticos, tecnológicos e humanos; que arfa o peito em propagandas a dizer que é séria e cheia de qualidades morais e jornalísticas, bem, que ela permaneça, impávido colosso, roendo o osso, sem saber o que fazer e o que dizer ante às mais notórias evidências do teatro de absurdos que se encena tristemente nesse país. Fingindo uma indignação que só vem a enganar os incautos. À essa mídia já não há a menor justificativa pra isso. 

Se essa mídia ou se essas mídias querem ao menos minimizar os efeitos do caos que provocaram no país em face à militância indisfarçada em favor do Golpe de 2016 em que foram grandes protagonistas junto com operadores do sistema de justiça e outros mais, junto à Lava Jato, essa pulha de quem se tornaram suas porta-vozes obscurantistas. Bem, a coisa a ser feita é praticarem o que até agora se negaram em praticar, a saber, jornalismo – o que dizem o seu ofício.

Porque estamos diante de um Genocídio! E não podemos suportar mais isso.

Flávio Barbosa, cronista, psicanalista.   

Recife, 16 de janeiro de 2021.   

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