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Marcelo Zero

É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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O norte da paz está no sul global

EUA e Otan estão caminhando no fio da navalha. Quanto mais esse conflito absurdo dure, maiores serão as probabilidades de uma guerra de grandes proporções

Scholz e Lula e guerra na Ucrânia (Foto: Reuters)
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A acordo de paz entre a Arábia Saudita e o Irã, intermediado pela China, representa uma significativa mudança de paradigma no cenário global.

Em primeiro lugar, é necessário se entender a dimensão do conflito que antepunha o Irã e a Arábia Saudita.

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O Irã é o principal país muçulmano xiita e um dos maiores produtores de petróleo do mundo, que tem grande influência no Iraque, na Síria, no Líbano, no Iêmen e em todos países que têm populações xiitas. É um player decisivo no grande Oriente Médio e na Ásia Central.

Já a Arábia Saudita, maior exportador de petróleo do mundo e aliado dos EUA no Oriente Médio, é um país sunita, no qual estão os principais locais sagrados do Islã, como a Meca, por exemplo.  

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Compreensivelmente, esse conflito surdo entre um grande país xiita e um grande país sunita ocasionava instabilidade no Oriente Médio e no próprio mundo muçulmano.  

Em particular, o conflito contribuía fortemente para a terrível guerra civil no Iêmen, a maior tragédia humanitária do mundo atual. Segundo a ONU, cerca de 150 mil iemenitas já morreram em virtude da violência naquele país, além de 225 mil que teriam sucumbido devido à fome.  

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Saliente-se que as relações entre Irã e Arábia Saudita estavam interrompidas desde 2016, depois que manifestantes iranianos tomaram missões diplomáticas sauditas em Teerã e Mashhad, em retaliação pela execução, na Arábia Saudita, do proeminente clérigo da oposição xiita saudita Sheikh Nimr al-Nimr.  

A partir de 2021, contudo, ambas as Partes estavam tentando negociar um acordo para o restabelecimento das relações diplomáticas.

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Os sauditas escolheram Khalid bin Ali al-Humaidan, diretor-geral da Direção Geral de Inteligência do reino. Os dois lados concordaram que o Iraque, sob a liderança do então primeiro-ministro Mustafa al-Kadhimi, poderia servir como um facilitador.


 

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Até 2022, os dois países realizaram cinco rodadas de negociações intensivas em Bagdá. As negociações foram interrompidas, no entanto, depois que al-Kadhimi foi substituído por Mohammad Shia al-Sudani como primeiro-ministro.  

O novo primeiro-ministro Sudani demonstrou pouco interesse em continuar o papel do Iraque como mediador. Ademais, ele não desfrutava do mesmo nível de confiança saudita de seu antecessor.  

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Frustrada com o impasse, a Arábia Saudita pediu à China que assumisse o papel de mediadora, quando o presidente Xi Jinping visitou Riad em dezembro de 2022. Xi transmitiu a mensagem de Riad a Teerã, que aceitou a oferta chinesa.

O resto já é história.

Pela primeira vez, um acordo dessa envergadura é alcançado sem quaisquer intervenções dos EUA e de seus aliados europeus. Na realidade, EUA e aliados foram surpreendidos pelo sucesso da China, um país muito cauteloso em sua política externa, que evita interferir nos assuntos internos de outros países.  

Mas esse acordo é uma demonstração de que a paz precisa de países do chamado Sul Global, como China e Brasil, para ter alguma chance de se afirmar.

Com efeito, hoje em dia EUA e seus aliados, principalmente seus aliados europeus, estão submersos numa lógica arcaica de Guerra Fria, a qual leva instabilidade e conflito ao planeta.  

A guerra na Ucrânia, em específico, tem o potencial para se transformar num conflito de grandes proporções entre a Rússia e a Otan.  

Hoje mesmo (14/03), tivemos um evento bastante preocupante. Um caça russo SU-27 chocou-se propositalmente com um drone norte-americano MQ-9 Reaper.

Embora o Comando Europeu dos EUA tenha afirmado que aeronave MQ-9 estava conduzindo “operações de rotina no espaço aéreo internacional”, quando foi interceptada e atingida por uma aeronave russa, resultando em um acidente e perda total do drone, é preciso considerar que o MQ-Reaper é um drone de ataque.

Com efeito, o MQ-9, conhecido também pelo significativo nome de Predator 2, carrega uma grande variedade de armas poderosas, incluindo a bomba guiada a laser GBU-12 Paveway II, os mísseis ar-terra AGM-114 Hellfire II, o AIM-9 Sidewinder e o GBU-38 Joint Direct.

Resta perguntar o que um drone desse tipo, com tal poder de fogo, estava fazendo nos céus do Mar Negro, muito próximo da Rússia e da zona de conflito ucraniana. Sem dúvida, não era mera “operação de rotina”, a não ser que ataques às forças russas por parte dos EUA já sejam considerados como tal.  

EUA e Otan estão caminhando no fio da navalha. Quanto mais esse conflito absurdo dure, maiores serão as probabilidades de um evento que ocasione uma guerra de grandes proporções.  

Daí a importância das iniciativas brasileiras, e, agora, também chinesas, de tentar uma intermediação do conflito que conduza, pelo menos, a um cessar-fogo.  

O Norte da paz está no Sul Global.

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