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Michel Zaidan

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O pensador das ambiguidades

"Dos pensadores frankfurtianos, de longe o mais criativo e original, inquieto e inspirador foi Walter Benjamin e seu sistema de contradições em aberto

Walter Benjamin (Foto: Reprodução)
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(Síntese da live na pós-graduação de história) 

O terceiro personagem da chamada "Escola de Frankfurt" que vamos conhecer (depois de Adorno, Horkheimer e Marcuse)  chama-se Walter Benjamin, com certeza o mais original e improvável filósofo contemporânea, em razão da síntese das influências que o seu pensamento carrega: messianismo judaico, materialismo histórico e a contracultura. A difícil tarefa de compatibilizar a teologia judaica e o seu método cabalístico de ler os textos sagrados, com a luta de classes, um novo conceito de revolução (o tempo do agora) e o resgate das gerações passadas, não o futuro, torna muito instigante e inspiradora a leitura de seus textos.

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Uma obra como  "A origem do drama barroco alemão", ou o belo ensaio " Narrador", ou as desafiadoras "Teses  sobre o conceito de  História" saturadas de ressonância  religiosa podem tornar um militante marxista desconfortável. No entanto,  o plano  arquitetural do que seria a obra de sua vida: “O trabalho das Passagens"  não deixa dúvida da originalidade sem par da sua "dialética do olhar" ou seu método fisiognômico. Vamos apresentar um resumo das ambiguidades e paradoxos de seu pensamento. 

"Dos pensadores frankfurtianos, de longe o mais criativo e original, inquieto e inspirador foi Walter Benjamin e seu sistema de contradições em aberto. Como seria possível conciliar o legado do Judaísmo libertário da Europa Central (apoiado  numa clara recusa às promessas libertadoras da modernidade cristã reformada) com uma crença na revolução socialista de Marx, Engels e Rosa Luxemburgo?

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É aqui onde se situam as aporias de um pensador crítico e utópico que nunca deixou de se expressar através de categorias filosóficas, como se a filosofia da práxis fosse uma escatologia de base profana. Na verdade, Benjamin nunca concordou com a idéia de que a redenção humana fosse da ordem do profano (ele a denomina de "telos messiânico) e o tempo da redenção (Kairós)  fosse o tempo cronológico dos calendários. 

O anjo da História viria exatamente para interromper (implodir o continuum da História) simbolizado pelo tempo dos cronômetros e calendários oficiais e inaugurar uma nova temporalidade messiânica ( o tempo do agora, o tempo da recognoscibilidade). Walter Benjamin se negou a conceder à política realista, mundana, dos compromissos, qualquer propósito sensato, como também recusou uma ciência positiva  da História.

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 A visão judaica (e libertária) do autor o levou a desconfiar sempre da História iluminista, de seus reis-filósofos com uma bússola na mão. Neste ponto, a imagem da aquarela de Paul Klee, "Angelus  Novus", e a sua montanha de ruínas  que sobe até os céus pode nos ensinar algo de muito importante sobre essa concepção messiânica da História: o processo social da humanidade não comporta só avanços e progresso em direção a um hipotético ponto Ômega: mas também contém retrocessos, barbárie, sofrimento e alienação. 

A dialética benjaminiana utiliza livremente a imagem e os experimentos da vanguarda estético do  século XX, para denunciar a tragédia humana desse mesmo século: os campos de concentração e o genocídio de judeus, ciganos, homossexuais e comunistas. Provavelmente nunca se utilizou tantas  referências da cultura moderna para se criticar impiedosamente à modernidade.

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Sob esse aspecto, o marxismo de Benjamin seria um duro crítico da equação entre progresso técnico e progresso moral ou que o mero progresso técnico ou econômico levasse automaticamente à redenção social da humanidade. E o fascismo de sua época foi talvez a melhor comprovação desse equívoco: socialmente regressivo e economicamente progressista.

Equívocos em que incorreram, aliás, os socialdemocratas de seu período histórico.

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Os comentadores e intérpretes da obra benjaminiana opõem trabalhos e ensaios (e períodos) na trajetória do autor. Trabalhos como: O narrador, As teses sobre o conceito de História, a filosofia da Linguagem, Experiência e Pobreza, a outros como A obra de Arte na época de sua reprodutibilidade técnica, O autor como produtor, Tentativas sobre Brecht, O trabalhado das Passagens, como se  houvesse dois autores num só corpo e cabeça. Por muito que se tente fazer, é inegável que essas ambiguidades e contradições nunca foram solucionadas. 

E é nisso em que consiste a sua grandeza como pensador. Basta recordar a sua famosa tese do autômato e do anão, onde o primeiro simboliza o materialismo histórico e o segundo, a teologia. Haveria, por certo, um maior desmentido do que esse para os que fizeram de Benjamin o defensor unilateral da técnica e da ciência, sem levar em consideração os perigos que uma tal posição acarretaria para a humanidade?

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(Texto extraído do livro: Leituras em Walter Benjamin. Curitiba. Editora Colaborativa, 2019)

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