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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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O que Geisel pensaria dos negócios dos militares de Bolsonaro?

Generais da ditadura podiam dizer que tinham projeto para o país, enquanto os militares bolsonaristas se dedicaram a negócios suspeitos, escreve Moisés Mendes

Jair Bolsonaro (à esq.) e Ernesto Geisel (Foto: Reuters | PR)
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Uma pergunta para divagações e que pode valer apenas como ponto de interrogação: que funções teriam na ditadura alguns dos militares de alta patente que tutelaram Bolsonaro e são investigados em várias frentes por suspeitas de crimes tenebrosos envolvendo dinheiro?

O que eles fariam num governo Geisel, por exemplo, quando o dilema era saber como acabar com a ditadura sem entregar as cabeças dos generais?

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Sabe-se que Geisel foi o mais imperial dos ditadores brasileiros, quando não havia quase mais nada de império militar a defender como projeto de poder.

Elio Gaspari resume assim, em ‘A ditadura derrotada’, um dos seus livros sobre o período, a situação do penúltimo general:

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“Quanto assumiu, havia uma ditadura sem ditador. No fim de seu governo, havia um ditador sem ditadura".

Era o fim do que se iniciara em 1964 e iria se esvair nas mãos de Figueiredo. Geisel, talvez o mais habilitado a ser ditador, chegara meio atrasado.

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Entregou uma ditadura morta ao sucessor, quando nem mesmo um time militar coeso existia mais. Mas havia como provar que ele conduzira até ali um projeto de governo e o que teria sido um plano de longo prazo para o país.

Tudo o que se disser para desqualificar a ditadura, da opressão, das torturas, dos assassinatos e da corrupção encoberta, terá sentido para que se compreenda aquele período na sua essência.

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Mas é preciso reconhecer que, até a chegada de Geisel, eles tinham um plano construído com uma elite civil de exceção, dentro e fora do governo. A ditadura deu, a seu modo, o sentido de projeto de nação ao que fazia.

Os ditadores criaram em torno de si e transmitiram aos brasileiros a ideia de que sabiam gerir o país, além de combater o comunismo, perseguir, cassar, prender e assassinar.

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Já com Bolsonaro, os militares sonharam com um projeto de governo autoritário e de longo prazo, que se consolidaria no segundo mandato. Mas tinham um problema: o líder era um tenente sem condições de ser ditador.

Os militares sem brilho de Bolsonaro tinham um projeto precário de sequestro do Estado como negócio para Bolsonaro, a família e seus oficiais.

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Ninguém encontrará em nenhuma gaveta ou arquivo de computador um projeto – não de Bolsonaro, porque seria impossível, mas dos militares que o tutelavam – para o Brasil do século 21.

O que se descobre, ao final dos quatro anos de bolsonarismo, é que os militares conduziam um plano de militarização dos negócios do Estado em benefício dos grupos e das facções que se acumpliciavam com o tenente.

Agora, ficamos sabendo que o general da reserva Luiz Roberto Peret, de quem poucos ouviram falar, fazia consultorias. Como consultor, foi contratado pela empresa israelense Verint Systems, que vendeu ao Brasil o software First Mile, usado depois pela Abin para espionar inimigos de Bolsonaro.

Quando ele intermediou a negociação, durante o governo Temer, em 2018, o comandante do Exército era o general Eduardo Villas Bôas. O general autorizou a compra do software espião de US$ 10,8 milhões sem licitação.

Peret é da mesma turma de formação de Villas Bôas no Exército. É amigo do ex-comandante. É um dos conselheiros fundadores do Instituto General Villas Bôas. Os repórteres Thaísa Oliveira, Fabio Serapião e Cézar Feitoza contam em detalhes, na Folha, os vínculos entre os dois.

Generais envolviam amigos generais na compra de equipamentos de espionagem. Generais e coronéis, citados como criminosos no relatório da CPI da Covid, participaram ou foram omissos diante de negociatas com vacinas durante a pandemia.

Braga Netto, o general da intervenção militar no Rio em 2018 e candidato a vice de Bolsonaro em 2022, foi investigado, com pedidos de indiciamento, nas CPIs da Covid e do Golpe. E também é investigado por compras superfaturadas durante seu ‘governo’ para combater criminosos cariocas.

A lista é grande. Um almirante trouxe muambas das arábias. Um general tentou vender parte da muamba. Um coronel a caminho do generalato era ajudante de Bolsonaro submetido às ordens de Michelle e de golpistas.

A fraude, a burla, a corrupção, tudo se multiplicou no governo Bolsonaro entre militares. O Estadão, amigo dos militares, deu em manchete no final do ano passado:

“Estelionato vira crime da moda no meio militar e se torna principal tema de ações no Superior Tribunal Militar”.

Como se estivessem sendo autorizados pelos desmandos de superiores, militares de escalões inferiores furtavam armas do Exército. Mais de 6 mil oficiais em cargos de chefia ocuparam todas as áreas do governo, muitos sem habilitação para estar onde estavam.

Nenhum deles saberá dizer qual era o projeto de seus chefes para o país. Poderão dar respostas genéricas sobre a defesa da pátria, da família e das ordens de Deus, mas nada mais além disso.

Os militares de Bolsonaro, que se envolviam com a compra de vacinas, enquanto o tenente sabotava a vacinação, que compravam programas espiões sem licitação, que intermediavam a receptação e a venda de muambas, esses militares desmoralizaram até a possibilidade de golpe.

Mas todos estão impunes como negociantes, como criminosos comuns e como golpistas. Como aconteceu com Geisel, com todos os ditadores e com seus oficiais.

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