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Ricardo Nêggo Tom

Cantor, compositor, produtor e apresentador do programa Um Tom de resistência na TV 247

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O transtorno mental da mulher que transou com o morador de rua não é piada

Muito se fala em empatia, mas na prática, o imediatismo das conclusões sem fundamento continua exacerbado em nossas relações sociais

(Foto: Reprodução)
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Em meio às brincadeiras e aos memes que surgiram nas redes sociais, por conta do caso envolvendo um homem em situação de rua, que foi flagrado dentro de um carro tendo relações sexuais com a esposa de um personal trainer, surge um laudo médico que aponta para a hipótese diagnóstica de transtorno afetivo bipolar em fase maníaco psicótica. Tal transtorno teria motivado o ato sexual entre ambos, pelo fato de a mulher estar em estado delirante no momento do encontro. Ainda segundo o documento, a paciente apresenta problemas psicológicos desde 2017, tendo recebido indicação para internação psiquiátrica. O que, em tese, muda, ou, pelo menos, deveria mudar o ambiente de desrespeito e escracho ao qual ela está sendo submetida.

Primeiro, a turma da zoeira que não sabe o que um problema psicológico pode provocar no comportamento de uma pessoa, deveria parar de compartilhar os vídeos com as falas do Don Juan de Planaltina se gabando de sua performance sexual e pagando de culto, quando não passa de um mais fanfarrão bolsonarista. Assim como Jair Bolsonaro, de quem ele revelou ser eleitor, Givaldo Alves também parece não saber muito bem como respeitar uma mulher. E deixa isso comprovado quando sai por aí dando detalhes sobre tudo o que fez com ela sexualmente, manifestando machismo e incontinência verbal em forma de poesia, detratando alguém que só fez sexo com ele, possivelmente, em função do seu transtorno psíquico. E ainda que fosse em outr a circunstância, não caberia tamanha indiscrição de maneira pública.

Segundo que, onde muitos, talvez pelo non sense viral que anda acometendo boa parte da nossa sociedade, estão enxergando um novo influencer digital ou um futuro político, devido a sua capacidade argumentativa surpreendente para alguém em situação de rua, eu só vejo um homem que vai acabar pagando o pato (mesmo não tendo culpa de nada) por falar demais e achar que poderia se dar bem com toda essa história. Aos que querem lançá-lo como candidato a deputado, como especula-se por aí, ou a quem queira lhe oferecer a oportunidade de sair das ruas (o que é válido e digno, porque ninguém merece viver ao relento), sugiro que antes contratem um bom advogado para defendê-lo, porque ele vai precisar. A exposiç&ati lde;o a qual a sua lábia poética e sedutora, submeteu a mulher que ele conheceu biblicamente falando, pode lhe custar alguns processos por parte da família da moça. Mas não é só isso.

A justiça brasileira não costuma ser muito carinhosa com preto e pobre, como ele descreve ser em suas aventuras sexuais. Se for acusado de estupro de vulnerável, o amante das mulheres terá sérios problemas para se defender. Não haverá “uma mão na direção e outra no carinho”, como a frase cunhada por ele em entrevistas dadas sobre o caso e que estampa a camisa que ele veste em um vídeo no Tik Tok, onde canta e toca violão. Vai ser com as duas mãos na parede e sem vaselina. Se ele não se arrependeu do ato sexual que lhe foi ofertado miraculosamente, tendo declarado que o prazer que ele recebeu supera a dor das porradas que levou do personal trainer, certamente se arrependerá de não ter guard ado para si e de não ter deixado dentro daquele carro, todos os detalhes da inusitada, inesquecível e tórrida aventura sexual em que se envolveu. Se fosse malandro mesmo, saberia que quem come quieto não se engasga e ainda repete.

Por outro lado, precisamos mais do que nunca falar sobre saúde mental e redes sociais. O estrago que está sendo feito na vida dessa mulher e da sua família, pode ganhar contornos muito mais perigosos e dramáticos do que alguns possam ou queiram admitir. Segundo a OMS, a ansiedade afeta mais de 18 milhões de pessoas no Brasil, enquanto que 86% dos brasileiros sofre com algum tipo de transtorno mental. Segundo dados da mesma OMS, O Brasil ocupa o 8º lugar no ranking dos países onde o suicídio é mais frequente. E transtornos mentais como depressão e esquizofrenia, estão entre as suas maiores causas. Quem nunca conviveu de perto com alguém que sofra com algum transtorno mental, não tem a noção de como a vida da pe ssoa e dos que estão ao seu redor é afetada. O sofrimento que devem estar vivenciando o marido, os familiares e os amigos da mulher envolvida nesse caso, não vale as piadas e os julgamentos que foram e ainda estão sendo feitos a respeito.

Muito se fala em empatia, mas na prática, o imediatismo das conclusões sem fundamento continua exacerbado em nossas relações sociais. E, mais uma vez, a figura da mulher é exposta e sua reputação posta em dúvida. É puta! É vadia! É safada! Não! Estava doente. Assim como estão todos aqueles que enxergam virtudes onde só há engano, e safadeza onde há apenas transtorno. A mulher não é uma devassa, assim como o homem em situação de rua que a recebeu por sua, não é o “último romântico”, e, muito menos, tem condições de ser lançado na política. Apenas uma sociedade adoecida pode considerar ambas as hipóteses. Uma pena que pensemos assim, que julguemos assim, que estejamos tão doentes assim. Cuidemo-nos todos!

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