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Chris Hedges

Jornalista vencedor do Pulitzer Prize (maior prêmio do jornalismo nos EUA), foi correspondente estrangeiro do New York Times, trabalhou para o The Dallas Morning News, The Christian Science Monitor e NPR.

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Pela imediata libertação de Julian Assange

Declaração de Chris Hedges em manifestação no dia Mundial da Liberdade de Imprensa na cidade de Nova York

E as nossas bandeiras ainda estão lá — And Our Flags Are Still There — arte de Mr. Fish (Foto: Mr. Fish)
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Esta é uma fala que fiz numa manifestação no dia Mundial da Liberdade de Imprensa na cidade de Nova York, clamando pela libertação imediata de Julian Assange.

Originalmente publicado no The Chris Hedges Report em 3/5/23. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247

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A detenção e perseguição de Julian Assange eviscera todos os fingimentos do estado de direito e dos direitos de uma imprensa livre. As ilegalidades, abraçadas pelos governos do Equador, do Reino Unido, da Suécia e dos EUA são ameaçadoras. Elas pressagiam um mundo no qual as maquinações internas, os abusos, a corrupção, as mentiras e os crimes, especialmente os crimes de guerra, executados por estados corporativos e a elite dominante mundial, serão mascaradas ao público. Elas pressagiam um mundo no qual aqueles que têm a coragem e a integridade de expôr o uso indevido do poder serão caçados, torturados, sujeitos a julgamentos falsos e punidos com sentenças vitalícias de prisão em confinamento solitário. Elas pressagiam a distopia Orwelliana na qual a notícia é substituída pela propaganda, por trivialidades e entretenimento. Eu temo que o linchamento legal de Julian marque o início oficial do totalitarismo corporativo que definirá as nossas vidas.

Sob qual lei o presidente equatoriano Lenin Moreno acabou por capricho com os direitos de asilo de Julian enquanto refugiado político? Sob qual lei Moreno autorizou a polícia britânica a entrar na embaixada equatoriana — sancionada diplomaticamente como território soberano — para prender um cidadão naturalizado do Equador? Sob qual lei Donald Trump criminalizou o jornalismo e exigiu a extradição de Julian, que não é um cidadão estadunidense e cuja organização de notícias não se sedia nos EUA? Sob qual lei a CIA violou o privilégio de advogado-cliente, vigiou e gravou todas as conversas de Julian, tanto digitais quanto verbais, com os seus advogados e conspirou para sequestrá-lo da embaixada e para assassiná-lo?

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O estado corporativo eviscera os direitos consagrados por decreto judicial. É assim que temos o direito à privacidade, sem privacidade. É assim que temos eleições “livres” financiadas pelo dinheiro corporativo, cobertas pelas mídias corporativas e sob o controle férreo das corporações. É assim que temos um processo legislativo sem o devido processo legal. É assim que temos um governo, cuja responsabilidade fundamental é a de proteger os cidadãos, que ordena e executa assassinatos dos seus próprios cidadãos, como o clérigo muçulmano Anwar al-Awlaki e o seu filho de 16 anos. É assim que temos uma imprensa a qual é permitido legalmente publicar informações classificadas e o publisher mais importante da nossa geração está sentado em confinamento solitário numa prisão de alta segurança, aguardando a sua extradição para os EUA.

A tortura psicológica de Julian — documentada pelo relator especial da ONU sobre tortura, Nils Melzer — espelha a quebra do dissidente Winston Smith na novela “1984” de George Orwell. A Gestapo quebrava ossos. A Stasi da Alemanha Oriental quebrava almas. Nós também refinamos as formas mais brutas de tortura para destruir tanto almas quanto corpos. Isto é mais eficaz. É isto que eles estão fazendo com Julian, degradando constantemente a sua saúde física e psicológica. Este é uma execução em câmera lenta. Isto é feito de propósito. Julian passou a maior parte do tempo em isolamento, é frequentemente sedado e lhe foi negado tratamento médico para uma variedade de doenças físicas. É-lhe negado rotineiramente o acesso aos seus advogados. Ele perdeu muito peso, sofreu um AVC leve, passou algum tempo na ala hospitalar da prisão — a qual os prisioneiros chamam de ala do inferno — porque ele está em estado de suicídio, foi colocado em confinamento solitário prolongado, foi observado batendo a sua cabeça na parede e tendo alucinações. Esta é nossa versão do temido Quarto 1010 de Orwell.

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Julian foi marcado pela CIA para ser eliminado depois que ele e o WikiLeaks publicaram o documento conhecido como Vault 7, o qual expôs o arsenal de guerra cibernética da CIA — incluindo dezenas de vírus, trojans, sistemas de malware por controle remoto programados para explorar uma ampla gama de produtos estadunidenses e europeus, incluindo o iPhone da Apple, o Android do Google, o Windows da Microsoft e até as Smart TVs da Samsung, que podem ser usados como microfones clandestinos quando parecem estar desligados.

Eu passei duas décadas como correspondente estrangeiro. Vi como as ferramentas brutais da repressão são testadas naqueles que Frantz Fanon chamou de “os miseráveis da Terra”. Desde o seu incício, a CIA executou assassinatos, golpes de estado, torturas, campanhas de propaganda suja, chantagens e espionagem ilegal e abusos, incluindo de cidadãos estadunidenses, atividades expostas em 1975 pelas audiências públicas do Comitê Church no Senado dos EUA e nas audiências do Comitê Pike na Assembleia Federal de Representantes. Todos estes crimes, especialmente após os ataques de 11/9/2001 [torres-gêmeas de NY], voltaram como uma vingança. A CIA tem as suas próprias unidades armadas e um programa de drones, esquadrões da morte e um vasto arquipélago global de prisões clandestinas nas quais as vítimas sequestradas são torturadas e desaparecidas.

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Os EUA alocam um orçamento clandestino secreto de cerca de US$ 50 bilhões por ano para esconder múltiplos tipos de projetos clandestinos executados pela Agência Nacional de Segurança [NSA — National Security Agency], pela CIA e por outras agências de inteligência — geralmente fora do escrutínio do Congresso dos EUA. A CIA tem um aparato bem lubrificado, que é a razão pela qual, já que tinha montado um sistema de vigilância por vídeo de 24 horas por dia de Julian na embaixada equatoriana em Londres, enquanto discutia naturalmente o sequestro e o assassinato de Julian. Este é o negócio deles. O Senador Frank Church — após examinar os documentos pesadamente censurados da CIA que foram disponibilizados ao seu comitê — definiu as “atividades clandestinas” da CIA como “um disfarce semântico para assassinatos, coerção, chantagem, suborno, a disseminação de mentiras e associações com conhecidos torturadores e terroristas internacionais”.

Tema os manipuladores das marionetes, não as próprias marionetes. Eles são o inimigo que vem de dentro.

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Esta é uma luta por Julian, a quem conheço e admiro. Esta é uma luta pela sua família, que está trabalhando incansavelmente pela sua libertação. Esta é uma luta pelo estado de direito. Esta é uma luta pela liberdade de imprensa. Esta é uma luta para salvar o que resta da nossa diminuída democracia. E esta é uma luta que nós não podemos perder.

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