Que as Redes Democráticas viralizem mundo afora
Marielle é a personificação do contraponto ao obscurantismo do fascismo tropical. Ela é o espectro e o sentido a ser almejado na luta contra o autoritarismo e a ignorância viril. Sua onipresença é o combustível que derrotará essa regressão civilizatória no país e no continente em que suas veias continuam abertas
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A criação da Rede Europeia pela Democracia no Brasil (RED.Br) se deu neste início de 2019 - ano que se anuncia penoso para as pessoas que creem, lutam e desejam o mundo estabelecido nas veredas progressista e democrática.
Preocupados e estarrecidos com a situação pela qual atravessa o Brasil, brasileiros e amigos do país mobilizaram milhares de pessoas na França e em toda a Europa a fim de informar e alertar sobre o que se passa nas terras conturbadas do maior país da América Latina.
A gênese da RED.Br se dá, mais precisamente, da articulação entre o MD18, movimento contra o coup d’Etat de Temer, com a ARBRE (associação para a pesquisa sobre o Brasil na Europa). E desse encontro de resistência e solidariedade surge a ONG, que conta com universitários, intelectuais, artistas e militantes.
O primeiro grande elã dos seus nove cofundadores foi pôr em prática a importante e simbólica campanha pela nomeação de uma passagem urbana, em Paris, com o nome de Marielle. Enquanto vos escrevo, já se tem a notícia de que o Conselho Municipal parisiense votou, unanimemente, uma moção que manifesta a intenção da prefeitura de batizar um local da cidade (rua, praça ou passagem pública) com o nome da vereadora.
A moção foi apresentada por uma maioria de esquerda, mas obteve também o apoio da oposição. Uma homenagem à Marielle, mas também uma forma de apoiar a luta contemporânea contra a violência e a opressão antidemocrática em todo o mundo.
Nesse diapasão, no último dia 26 de março, na décima prefeitura da cidade de Paris, houve uma conferência em memória à Marielle e também pelos direitos das mulheres e pela democracia. Estiveram presentes Marcia Tiburi, filósofa e escritora auto exilada do Brasil, Mônica Francisco, antiga colaboradora de Marielle, militante de direitos humanos e deputada em exercício pelo estado do Rio de Janeiro, Maud Chirio, historiadora (Université de Marne-la-Vallée) e membro da RED.Br, Silvia Capanema, historiadora (Université Paris 13), conselheira departamental de Saint-Denis e Presidenta da RED.Br.
Sem falar de presenças importantes na plateia, que encheu o salão nobre do prédio, como a de Hélène Bidart, Adjunta da Prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e encarregada do Dossiê sobre o projeto da Rue Marielle.
Além das marcantes intervenções das brasileiras através de suas falas de denúncia e resistência, cada uma à sua maneira, o sentimento é de que as ideias, visões e análises discutidas ressoam e ressoarão cada vez mais pelo mundo. Ademais, o rosto de Marielle começa a cobrir os muros do planeta, como no Chile, Argentina, México, Estados Unidos, Alemanha e em vários outros lugares da Europa, na China, Israel e até mesmo em Madagascar.
A solidariedade internacional com a conjuntura política brasileira, nesses moldes, data dos tempos obscuros da ditadura militar, e a sensação de déjà vu é perene.
Paris seria, nessas circunstâncias, a primeira cidade a ter, oficialmente, uma rua com o nome Marielle Franco. Resta, assim, inegável a encorajadora mensagem de apoio a todos os militantes pelos direitos humanos e democracia no Brasil. Isso mostraria que portar sua memória não é o combate de uma minoria de ativistas, mas um combate universal, legítimo aos olhos de uma grande parte da comunidade internacional progressista e que a narrativa do Brasil atual não será escrita pelos que propagam o ódio, a violência e o esquecimento.
Além disso, a cidade das luzes é um formidável símbolo graças à sua história de revoltas e resistências populares, e de combates pelos direitos humanos, sociais e políticos que lhes são associados. Esse imaginário é potente e muitos brasileiros e brasileiras estão, quanto a isso, conscientes.
Ao se tratar de Brasil, é bastante perceptível nas análises, impressões e conversas de botequim em solo europeu, o sentimento de afeto e inquietude que paira no consciente coletivo ao redor do mundo. As pessoas estão incrédulas com o caos político-econômico-moral em que se afunda o país. Parece que uma nova ordem mundial está à espera da nação tupiniquim, desejando que ela garanta seu lugar de protagonismo na mudança de paradigma sócio-político da qual todos precisamos.
Estávamos nessa vereda. Precisamos voltar a ela, reencontrar o caminho da felicidade. Marielle é, pois, a personificação do contraponto ao obscurantismo do fascismo tropical. Ela é o espectro e o sentido a ser almejado na luta contra o autoritarismo e a ignorância viril. Sua onipresença é o combustível que derrotará essa regressão civilizatória no país e no continente em que suas veias continuam abertas.
O cofundadores da RED.Br (Réseau Européen pour la Démocratie au Brésil): Antoine Acker, Susana Bleil, Silvia Capanema, Maud Chirio, Juliette Dumont, Anaïs Fléchet, Filipe Galvon, Rodrigo Nabuco, Sébastien Rozeaux.
Na verdade das coisas, o que somos é a nova Roma. Uma Roma tardia e tropical. O Brasil já é a maior das nações neolatinas, pela magnitude populacional, e começa a sê-lo também por sua criatividade artística e cultural. Precisa agora sê-lo no domínio da tecnologia da futura civilização, para se fazer uma potência econômica, de progresso autossustentado. Estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como uma nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre, porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais humanidades. Mais generosa, porque aberta à convivência com todas as raças e todas as culturas e porque assentada na mais bela e luminosa província da Terra.
Darcy Ribeiro
Fotos: Fernanda Peruzzo.
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