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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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Trump batalha contra si mesmo

"Em uma coisa Trump tem razão: seu opositor, Biden, é um candidato fraco, medíocre. Tanto assim que praticamente só existe uma campanha eleitoral atualmente nos Estados Unidos: a de Trump", escreve o sociólogo Emir Sader sobre as eleições norte-americanas

Donald Trump (Foto: Reuters)

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Em uma coisa Trump tem razão: seu opositor, Biden, é um candidato fraco, medíocre. Tanto assim que praticamente só existe uma campanha eleitoral atualmente nos Estados Unidos: a de Trump. Biden se limita a aparições restritas, em que trata de consolidar uma imagem de baixa rejeição e de ficar de olho no nível de rejeição de Trump – o fator decisivo nestas eleições.

Nas eleições passadas, há 4 anos, a situação era outra. O centro da campanha era ocupado por Hillary Clinton, candidata favorita, sobre a qual recaia o maior nível de rejeição, pelo desempenho político central que ela tinha tido nos governos do seu marido, Bill Clinton, e de Obama. Mas, ainda assim, ela era favorita para ganhar.

Trump era um candidato outsider. Ele se projetou na sua cadeia de TV, a Fox, desde onde desenvolveu sistemática e radical critica dos governos democratas. Teve dificuldade inclusive para conseguir ser o candidato dos republicanos, teve que contornar as resistências de uma candidatura construída fora do partido. Mas os republicanos tiveram que ceder diante da forca que Trump ganhava nas pesquisas, incomparável diante das outras pré-candidaturas.

Trump teve que encontrar lutar na campanha, ocupada por Hillary e pelo sucesso do governo de Obama. Para isso colocou em prática uma campanha de ataques sistemáticos a Hillary, como faz agora com Biden. Algumas das provocações são as mesmas, como pedir exame de drogas para o candidato democrata, como faz agora. Ao mesmo tempo, tratou de projetar uma imagem fraca e medíocre da candidata opositora, como também faz agora.

Naquele momento a rejeição de Trump se dava em torno do riscos de um presidente com as posições radicais dele, da sua inexperiência como governante, entre outros. Mas o decisivo na derrota da Hillary – mesmo tendo cerca de 2 milhões de votos a mais do que Trump – foi a debilidade da sua campanha. Valendo-se do seu favoritismo, ela fez uma campanha burocrática, em que as questões sociais praticamente não tinham destaque.

Com uma taxa de desemprego alta, Trump se valeu disso para colocar o tema como central, apontando para suas soluções. Afirmava que os norte-americanos perdiam empregos para a imigração mexicana. Daí, segundo ele, a urgência da construção do muro na fronteira, que brecasse definitivamente a chegada de mexicanos aos Estados Unidos.

E Trump concentrou sua campanha nos quatro estados que terminaram sendo decisivos, onde ele virou com vitória por pequena margem sobre Hillary mas, pelo sistema eleitoral norte-americano, não baseado no voto universal, mas no Colégio Eleitoral, levou-o à vitória, com menor quantidade de votos.

Esse sistema se mantem desde a guerra civil interna em que o Norte, vitorioso sobre o Sul escravista, concedeu esse sistema, para que os estados do Sul tivessem uma representação superior a seu número de votos.

Nestas eleições Trump carrega um grau de rejeição alto, embora, antes da pandemia, como a economia crescia e os empregos aumentavam, ele era favorito. Mudaram as condições com a pandemia, a economia entrou em recessão, o desemprego disparou e o cenário econômico, decisivo sempre para o voto dos norte-americanos, se tornou um fator negativo.

Por outro lado, um candidato moderado, que estava em terceiro lugar nas consultas internas dos democratas, terminou triunfando, pelo receio das direções do partido, com a candidatura favorita de Sanders. Se uniram todos os outros candidatos em torno de Biden, que terminou triunfando. Trump tinha se preparado para enfrentar Sanders ou a Elizabeth Warren, ambos da ala progressista dos democratas. Teve que adaptar seu discurso para atribuir a Biden posições que ele não defende, mas para manter sua tônica dos riscos que poderiam trazer para o país com a vitória dos democratas.

Todos os focos se voltam sobre Trump, seja porque sua campanha traz sempre pelo menos uma novidade a cada dia. Biden continua favorito, mas todos esperam que cartas Trump teria ainda na manga. As pesquisas continuam a favorecer a Biden, em margens que vão de 6 a 10 pontos. A pouco mais de um mês de uma eleição fundamental porque Trump coloca em risco a aceitação do resultado, caso perca, afirmando o que mesmo que fazia há 4 anos, de que só perderia as eleições se houvesse fraude.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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