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Rogério Puerta

Engenheiro agrônomo, atuou por doze anos na Amazônia brasileira em projetos socioambientais. Atuou em assentamentos da reforma agrária no Distrito Federal por dez anos e atualmente vive em São Paulo imerso em paixões inadiáveis: música e literatura. Escreveu diversos livros

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Um voto verdadeiramente antifascista

Abolir preconceitos, decepar os tentáculos da monstruosidade neofascista

(Foto: Davi Aplik)
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Por Rogério Puerta

Você pretende firmar questão, cravar um voto verdadeiramente antifascista nestas eleições de 2022. Você vê a necessidade urgente de segurar um pouco, conter tanto quanto for possível, o que estiver ao seu alcance, segurar um pouco a onda do neofascismo atual em Terra Brasilis.

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Votar, fazer campanha anterior ao pleito. Façam-se as campanhas de bairro, de quarteirão, de periferia, de uma mínima localização geográfica que seja, mas façam-se as necessárias campanhas por mudanças estruturais. Aprimorar o pensamento junto à muita gente que, sem saber, ou por má-fé, flerta com o neofascismo e com o ódio desenfreado.

Façam-se as campanhas, gente boa se candidatando para inovar, também as campanhas de contexto, de mudança de corações e mentes, de paradigmas. Adotemos as nossas próprias campanhas.

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Uma trupe de palhaços da Zona Sul paulistana, palhaços e palhaças. Você, e tantos outros, tem por hábito xingar alguém de palhaço. Adote outro termo: otário, imbecil, o que seja, menos palhaço. Mude a sua mente, faça uma verdadeira revolução interior, uma boa faxina de coisas ruins.

Conhecer a dita trupe de palhaços da Zona Sul paulistana, e as suas performances junto à comunidade infantil mais carente de diversão, a molecada sofrida que teria de tudo para se deprimir, mas não, ao invés consegue sempre sorrir. Após conhecer a trupe você passa a não mais adotar como xingamento o "Cala a boca, seu palhaço!" quando está discutindo com alguém.

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Mais. Após conhecer pessoalmente o trabalho espetacular do grupo Doutores da Alegria, que atende crianças nos hospitais, você passa a, não só não mais usar o xingamento, como passa a se indignar e tentar alertar e, eventualmente, corrigir aqueles que adotem como xingamento horrendo o fato de ser um palhaço, uma palhaça. Fazer ditas palhaçadas, mas que são em verdade imbecilidades, atitudes reprováveis e danosas reputadas erroneamente e pejorativamente aos palhaços.

Adote as suas particulares campanhas em busca de um voto verdadeiramente antifascista. Busque abolir a prática insensata, ofensiva, e bastante injusta de xingar alguém de palhaço. Aqui adendo, grata língua portuguesa, o verbo abolir não existe na forma "eu abolo". Delícias de nossa língua portuguesa, use-se quando possível um cabível "eu boicoto".

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Adotar as campanhas por mudanças benéficas em nossa sociedade, uma visão de aprimoramento, dilapidação, cortar e aparar arestas e rugosidades, uma evolução da mente.

Os melodiosos, maravilhosos, característicos e identificadores sotaques variados dos rincões do Brasil, múltiplos deles, em todos eles uma gênese bem explicável, objeto de estudo e exemplificação. Outra de suas campanhas. Que as emissoras de rádio e televisão, agora algumas de internet, que tais veículos de mídia deixem de adotar, ou usem o verbo abolir como lhes convier, mas que deixem de exigir aos narradores e narradoras um treinamento e contínua capacitação quanto ao que consideram uma necessária correção: o prescindir de seus deliciosos sotaques regionais que os identificam, mudando a fala para uma narração a mais plana possível, e bem mais desinteressante, diga-se de passagem.

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Uma sociedade mais harmônica, plural, multidiversa, portanto bem mais coerente com a formação etnogeográfica do povo brasileiro. Um avanço progressista, antifascista.

As tatuagens artísticas mil, ou nem tão artísticas, borrões que sejam, se assim foram escolhidas. Por décadas estigmatizadas, os marinheiros vagantes de portos em portos globo afora levaram a pecha, também os criminosos com estágio em presídios, seriam então lá marcados de forma indelével.

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Grande injustiça e incoerência estigmatizar as tatuagens. Marcar o corpo faz parte de grupos étnicos ancestrais há milênios. Desde sempre marcou-se o corpo, desde os homens das cavernas, marcavam-se para as batalhas, para denotar hierarquia, para simples ornamentação, por vaidade, e muitas vezes em procedimentos demorados e bastante dolorosos, portanto uma prova de coragem e honradez.

No Brasil de últimos anos avançou enormemente e de forma surpreendente a quantidade de pessoas tatuadas, e boa parte delas com tatuagens expostas as quais as vestes mais corriqueiras sequer escondem por detrás. São explícitas. Explícita fica a intenção de mostrar algum argumento ou gosto pessoal para todo o resto do mundo.

A campanha particular para abolir o preconceito e estigma contras as tatuagens, ao que parece, esta campanha específica, fica, no momento, temporariamente suspensa. Hoje os neofascistas predominam dentre os mais e as mais tatuadas. A se verificar.

Há quem diga que, pelo fato mais do que conhecido de que nós, brasileiros e brasileiras, imitamos tudo de bom e ruim daquilo que aparece nos EUA, portanto adotamos aqui também recentemente o hábito de portar tatuagens expostas. Lá nos EUA um hábito fortemente presente e constatável nas ruas das grandes cidades.

Ao menos aqui, o sujeito desavisado, menos informado do que um estadunidense típico, o brasileiro ou brasileira que for viajar a outros países mais fundamentalistas-religiosos do que o Brasil, sim isto é possível, por incrível que pareça, a sujeita que para lá ao exterior se dirigir exibindo tatuagens, uma mulher, pode até mesmo ter sérias complicações, em especial a depender da temática escolhida para ornamentação.

As religiões são, em sua maioria, mais punitivas do que educativas. Acredite-se, em pleno século XXI, a questão é que não poucas culturas contemporâneas ainda adotam critérios religiosos do século I, ou nem isto, mais preocupante, adotam uma visão de mundo de idos do Antigo Testamento.

Imagine-se o espanto ao verem uma tatuagem de entidade qualquer, nem demônio satânico precisa ser, um diabo-da-tasmânia caricato e inocente que seja, o bichinho já vira uma besta infernal senhora do abismo presidido por Satã em graça e majestade.

Quiçá o destino seja providencial. Arrefecimento do preconceito contra tatuagens no Brasil, aquecimento do milicianismo, armamentismo, ódio social. Cada vez mais machos alfa inchados por halterofilismo e wey protein, com sangue nos olhos para os embates do cotidiano ao saírem de seus treinos de kickboxing. Neste ambiente tatuagem grassa e prolifera.

Um outro seu desejo de campanha particular de anos atrás foi em parte atendido. Outros e outras bem encamparam este tal referido pleito eleitoral. Até o nome do órgão sexual masculino, pênis, tão mais simples, o pênis e pronto, o tal nome do órgão sexual uns tempos atrás inventaram de querer mudar, Bráulio o escolhido. Não pegou. Ironias à parte o nome não teve penetração na sociedade.

Mas a campanha que você acha que foi em parte atendida, ou em curso de execução, é a mudança do horrível "Atirei um pau no gato, mas o gato não morreu". Ou seja, por uma infelicidade o gato não morreu, mas berrou que só. Isto cantado melodiosamente por criancinhas de cinco anos em maravilhosas e açucaradas festinhas infantis que você costuma promover no seio do lar.

Ou o "Pau que dá em Chico, dá em Francisco" relembrado pelo desastrado ex-juiz Sérgio Moro recentemente. Pior, o "Matar dois coelhos com uma cajadada". Como se fosse tradição nacional nossa a caça de coelhos, animais predominantemente de espécies europeias, ademais como se fosse tradição a caça por aqui dos nossos pacatos tapitis nativos, e isto com um enorme e ofensivo cajado executor.

Em São Paulo o "Manda bala" ocupa o lugar do "Chega o relho" em Goiás, do "Arrocha" no Norte e Nordeste, e por aí vai. Em São Paulo, quem diria, impera ainda hoje o "Manda bala" mesmo. Diz-se quando se quer pedir a continuação de um ato qualquer por outra pessoa. É na base da bala mesmo. Empregos gerados com o recente crescimento da produção e venda de armas e munições permitida pelo governo armamentista, isto apoiadores alegarão.

Talvez forçoso querer imputar todas estas tradições a um fascismo enrustido, o ideário fascista italiano de Mussolini depois imitado pelos nazistas. Sim, admite-se que soa forçoso. Ainda que, pouco importa, não seja este comportamento fascista cotidiano reconhecido como tal por quem o pratique, ou ainda que não haja exata precisão histórica na citada referência.

Sim, deveras forçoso, mas faz-se inegável o fato de que há tradições muitas nossas que são explicitamente escravocratas, xenófobas e de um fundamentalismo religioso explícito. Neste último inclusas as pautas de comportamento mais conservadoras, a aversão e demonização quanto as crenças de matriz africana, quanto a sexualidade particular de foro íntimo de cada um, e tantos outros comportamentos humanos afins satanizados pelo conservadorismo de plantão.

Baianada aos paulistas, paraíba aos fluminenses, que sejam abolidas em nome da melhor convivência dentre as origens geográficas dos cidadãos Brasil afora. "Fez maior baianada, fez merda", "O cara é maior Paraíba, um burro". Saia desta, jogue fora tais colocações. Ademais, uma coisa sem graça, mais do que ultrapassada.

Macumbeiro. Bem pejorativo, alguns adotam de forma a afrontarem, "Sou macumbeiro mesmo", tal qual um "Sou viado e não nego". "Chuta que é macumba", esta expressão chula em específico um pouco difícil de não achar alguma graça, parece mesmo haver alguma sagacidade de humor negro embutido. Ao menos neste caso, se pensarmos bem, se valoriza a macumba, se é pra chutar, é por que dela há temor, funciona, melhor desfazê-la. Algo assim.

Não, humor negro não pode ser pejorativo. Humor sombrio, taciturno, lúgubre, portanto escuro, preto, negro, oculto sob trevas, misterioso, em parte desconhecido.

A primeira-dama do presidente neofascista fala em línguas, parece incorporar espíritos, tem ela todo o direito do mundo, sequer ridicularizada deve ser, jamais. Tanto quanto jamais o devam ser, por exemplo, umbandistas e candomblecistas em suas variadas práticas anímicas ancestrais.

A questão é que, infelizmente e de forma muito incoerente, a quase totalidade dos evangélicos neopentecostais, clã familiar no Governo Federal e afins, quase todos e todas desrespeitam e perseguem as religiões de matriz africana, inclusive oficialmente, incluso o jugo de uma legislação desarrazoada em curso ou em alteração por políticos conservadores ditos cristãos.

Façamos as nossas campanhas de foro íntimo, revolucionando, higienizando. Sejamos pessoas melhores, mais tolerantes, menos propensas a toda e qualquer pauta que se aproxime de um mínimo de intolerância neofascista.

Um verdadeiro voto antifascista em 2022. Um rol de candidatos e candidatas para uma completa análise proporcionada pelos atuais mecanismos de busca digitais. Quase não há desculpas por não se informar muito bem neste atual pleito, ademais considerando-se os equívocos experimentados em 2018.

Vivamos em paz. Paz e amor. Se amor tá tão difícil, que haja paz interior ao menos, serenidade, já seria um grande avanço. Em paz dificilmente alguém procura encrenca.

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