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Coronavirus

"Se quiser ter Natal em 2021, não vá a festas neste ano", adverte sanitarista

Conselho é do médico Gonzalo Vecina, fundador e ex-presidente da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária)

Gonzalo Vecina Neto (Foto: GGN)
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Brasil de Fato - “A pandemia vai durar o ano que vem inteiro. A questão das festas de fim de ano é bem simples. A pergunta a ser respondida é: você quer festejar o Natal de 2021? Se for sim, não festeje o de 2020. Se for não, vá para o Natal de 2020. Quem sabe você arrume um encontro com o coronavírus e com as consequências daí oriundas para você e para as pessoas que você ama. Não tem como explicar isso de forma diferente”.

A advertência é do médico sanitarista Gonzalo Vecina. Fundador e ex-presidente da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), ele fala ao Tutaméia sobre perspectivas para a vacina, aponta os erros de Bolsonaro, descreve a inação do Ministério da Saúde, critica as aberturas promovidas por governos, alerta para os riscos que corre a agência e examina a questão da pandemia de um ponto de vista panorâmico.

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Ex-secretário de saúde da cidade de São Paulo, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Universidade de São Paulo (USP), Vecina examina as consequências econômicas e sociais da pandemia. Saúda os movimentos de solidariedade que surgiram no início do ano, mas declara:

“Não tem como construir um mínimo de dignidade só com filantropia e solidariedade. Se não tiver Estado, teremos barbárie. Não tem a menor dúvida disso”. Para ele, será preciso distribuir dinheiro para os mais pobres, “jogar dinheiro de helicóptero”, como defendem muitos economistas de diferentes matizes.

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“A sociedade vai ter que passar por essa crise para chegar do lado de lá. Ou vai renovar o auxílio emergencial, ou vai ter algum outro tipo de auxilio, ou vamos ter que colocar esse presidente para fora, que é uma hipótese que é muito louvável e que deve ser considerada. O substituto não é grande coisa, mas talvez faça menos bobagem do que ele”.

O médico descreve o rosário de erros do governo Bolsonaro no enfrentamento do desastre sanitário. Condena o negacionismo, a falta de coordenação, a propaganda de remédios ineficazes, o mau exemplo de comportamento.

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“Esse comportamento do líder do país é extremamente inadequado e leva as pessoas a terem comportamento inadequado, que vem do mau exemplo dos governantes. É um desastre o que essa ignorância está provocando no país”.

Desigualdade, racismo, ambiente e SUS 

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Vecina observa que a mortalidade é maior entre os mais pobres, negros, analfabetos “que têm que sair todos os dias para buscar o seu sustento e encontram o vírus.  Se eles não se movimentarem, morrem de fome. Saíram e enfrentaram a morte. Em Nova York, por exemplo, a epidemia matou três vezes mais negros do que brancos. Por causa da desigualdade social, da pobreza. O reconhecimento da desigualdade pode ser um dos legados dessa crise sanitária. É entender que a desigualdade tem que ser enfrentada, o racismo estrutural tem que ser enfrentado”.

Vecina discorre sobre a origem da covid, resultado da destruição ambiental, “a mesma destruição que está acontecendo na Amazônia, no Pantanal e já aconteceu na Mata Atlântica”.

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Ressalta: “Temos que exigir que da sociedade –e a sociedade é nossa, não é deles– um comportamento mais preocupado, mais sadio, mais civilizado com o meio ambiente. e temos que procurar ter uma sociedade mais civilizada, o que significa uma sociedade menos desigual. Temos que descobrir a desigualdade como uma excrescência, uma anormalidade. A desigualdade não é normal, é anormal. Ela só será combatida se eu quiser que seja –e esse eu é você. Você tem que querer que não exista mais desigualdade. Isso significa ter um SUS [Sistema Único de Saúde] de verdade. Não podemos permitir que privatizem e destruam o SUS”.

Brasil está fazendo tudo errado

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Ele compara a covid 19 com a gripe espanhola (1918-1920). Naquele momento, o Brasil tinha 29 milhões de habitantes e contabilizou 35 mil mortos. Esse número transferido para o universo de hoje, de 210 milhões de brasileiros, significaria 255 mil mortos.

“Estamos agora no nono ou décimo mês dessa pandemia e já passamos da metade desse número. Essa pandemia está se demonstrando tão ou mais letal do que o maior desastre sanitário que tivemos, que foi a gripe espanhola”, diz.

“A gente vai se acostumando com as desgraças e com as coisas erradas. Temos que entender a gravidade do desastre que está acontecendo e reagir. O Estado tem que ser chamado à responsabilidade; ele tem que dar um passo atrás. Tem que mandar fechar coisas que ele permitiu que abrisse e que estão erradas em estarem abertas, cinemas, casas de espetáculo, restaurantes”. E enfatiza:

“Tem muita coisa errada nesses planos de reabertura. Não está correto não achar que existe uma situação dramática. Não está correto não ter uma liderança federal. O Ministério da Saúde é responsável por 50% dos recursos do SUS e ele não está assumindo essa liderança. Não está correto cada Estado ter que descobrir o que vai fazer. Não estamos sendo suficientemente exigentes com o uso de máscaras. As máscaras são fundamentais. A máscara protege o próximo, não me protege. É preciso evitar sair de casa desnecessariamente. Não estamos testando; está errado. Estamos fazendo tudo errado. Falta coordenação federal”.

O médico analisa nesta entrevista as ações dos diversos governos no enfrentamento à pandemia. Critica o modelo sueco, defendido por governistas. “O modelo sueco deu em mais mortes e em falência da economia”, resume.

Vacinação precisa de Estado 

Ao Tutaméia, Vecina fala de sua apreensão sobre o próximo desafio: a vacinação. Compara as diversas vacinas em questão e prevê que o país possa vacinar até o final do ano que vem 160 milhões de brasileiros. Ressalta que é urgente construir um plano de vacinação, definindo, por exemplo, quem vai ser vacinado em primeiro lugar: profissionais da saúde, idosos, portadores de comorbidades.

Quem mais? Trabalhadores do transporte coletivo, o pessoal das penitenciárias, moradores de alguma região onde o vírus esteja mais ativo? Há ainda muitas decisões a tomar sobre logística, organização, mobilização.

“Precisa começar a discutir isso. Precisa de uma inteligência no Ministério da Saúde funcionando. Precisa de governo, se não nós não vamos utilizar de maneira inteligente [a vacina]. Precisamos de governo, e é o que nós não temos. Espero que a sociedade acorde para isso e exija que o governo governe. E que o Ministério Público faça o seu papel, porque isso é papel do Ministério Público também. E também da imprensa. Para que a sociedade possa se posicionar para essa possibilidade de desastre que estamos vivendo. Vai ser um desastre se governo federal não assumir a vacina”.

Temor sobre indicado de Bolsonaro para Anvisa

O criador da Anvisa fala da polêmica em que a Agência se envolveu com o Instituto Butantã em relação aos testes da vacina chinesa, interrompidos brevemente após o suicídio de um voluntário. Para ele, o caso resultou da falta de diálogo.

“Tenho confiança nos servidores da Anvisa. São servidores são de carreira, estáveis, que lutarão pelo que construíram. O que tem lá na Anvisa não é dos atuais diretores; é fruto de uma geração. Tenho certeza de que os servidores não permitirão [o uso político da agência]. Sabem que é uma agência de Estado, não de governo. Que não têm que responder ao presidente. Que o presidente vai, e eles ficam. Os servidores não permitirão que aconteça uma coisa dessas. Mas tenho medo do futuro”.

Isso porque Bolsonaro indicou para a direção da agência o tenente-coronel Jorge Luiz Korman. “Esse diretor indicado, esse tenente-coronel não sabe o que é saúde. É um negacionista. Espero que o Senado faça o papel de representante do povo e reprove esse sujeito. Ele não tem uma biografia. Só fez Agulhas Negras. Espero que não seja diretor da Anvisa”.

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