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Cultura

Odja Barros: "a leitura machista da Bíblia é responsável pela cultura de violência contra mulheres e LGBTs"

À TV 247, a doutora em teologia falou sobre cristianismo feminista e denunciou as ameaças de morte que vem recebendo por celebrar um casamento homoafetivo

Odja Barros (Foto: Reprodução)
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Por Ricardo Nêggo Tom - Se o relacionamento amoroso entre pessoas do mesmo sexo ainda gera muita polêmica entre os conservadores, a ideia de um casamento religioso entre homossexuais gera reações extremadas por parte de muitos ditos cristãos. Machismo, misoginia e homofobia estão presentes nos textos bíblicos e possibilita uma leitura fundamentalista por parte dos fiéis. Convidada do programa “Um Tom de Resistência”, a pastora evangélica feminista Odja Barros criticou essas idiossincrasias do cristianismo. “Esse é um dos tópicos que eu trabalho como teóloga, escritora e pastora, denunciando que a leitura machista da Bíblia é responsável por essa cultura de violência contra as mulheres, contra LGBTs e contra diferentes grupos dessa sociedade, que são atingidos por essa leitura machista da fé cristã. E isso é uma tradição interpretativa, porque a Bíblia é um texto, e sabemos que todo texto é polissêmico. Ou seja, ele traz a carga de uma cultura patriarcal, machista e limitada no seu tempo. É importante que o leitor e a leitora possam ir se atualizando em suas épocas, o que torna possível entender essas questões e fazer interpretações que libertem esse texto dessa herança patriarcal e busque nele a essência da revelação bíblica”.

Odja Barros também cita “as interferências históricas e culturais que são frutos do processo de construção narrativa e redacional do texto bíblico que, predominantemente, foram realizadas pelos grupos de poder, porque quem tinha acesso aos textos e à escrita eram os grupos privilegiados onde predominavam os homens da tradição religiosa da época”. Ativista dos direitos das mulheres, a pastora chega a atribuir diretamente à interpretação machista da Bíblia os crimes de feminicídio que aumentaram assustadoramente no país. “Eu escrevi um texto recentemente, durante os 16 dias de ativismo contra a violência contra a mulher, onde eu defendo justamente que não dá para mudarmos essa cultura de feminicídio e de violência contra as mulheres, sem revisarmos a nossa tradição de fé cristã, que, de alguma maneira, alimenta essas estruturas desiguais e de violência de gênero”. Defensora de um evangelho inclusivo e voltado para as questões sociais, a doutora em teologia reage ao que ela chama de “predominância” de uma leitura única da Bíblia, com a intenção de romper com a laicidade do estado e estabelecer um estado religioso cristão, preconceituoso e excludente.

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Evocando a base de apoio evangélica que dá sustentação ao governo Bolsonaro, a pastora alerta para os riscos da junção entre a religião cristã e uma ideologia política com viés totalitarista.  “Nunca vi tão de perto essa predominância de uma leitura única da tradição de fé cristã, relacionando a esse contexto que nós vivemos atualmente, sobretudo no Brasil, desde que a gente vê se organizar no país uma clara articulação que beira a ambição de um estado religioso cristão. É isso que nós estamos vendo. O sonho de alguns líderes religiosos cristãos é, de fato, transformar o Estado brasileiro num Estado cristão. Há sinais muito preocupantes com relação a isso. E eu não incluiria apenas o movimento neopentecostal dentro dessa base de articulação. Existem também tradições de igrejas históricas metidas nesse projeto, como os batistas e os presbiterianos, por exemplo. A leitura é muito mais profunda.  Inclusive, inclui um catolicismo conservador que nunca saiu do poder e nunca abandonou o desejo de dominar o Estado brasileiro a partir da sua moral cristã. Tanto que muitas pautas progressistas não avançam porque existe um lobby combinado entre católicos e evangélicos para impedir o avanço de algumas pautas sobre direitos humanos”.

As ameaças de morte recebidas após ter celebrado um casamento homoafetivo entre duas mulheres embasam a sua tese de que é necessário desconstruir a leitura machista e homofóbica da Bíblia, substituindo-a pelo evangelho de amor e inclusão que Jesus Cristo pregou. “O que embala esse tipo de reação violenta e fundamentalista, é o uso de versículos bíblicos isolados de seus contextos para defender o preconceito contra os homossexuais. O rapaz que me atacou e me ameaçou de morte nas redes sociais disse que está estudando a Bíblia há cinco meses. Eu estudo a Bíblia há anos e ainda preciso seguir estudando. Ele, por causa de um versículo, acha que eu estou errada e se sente no direito de me matar por isso. Veja o quanto é perigosíssimo esse tipo de manipulação e mau uso da Bíblia. E precisamos alertar para esse perigo. Não é todo mundo que abre um galpão, bota uma Bíblia na mão e sobe num púlpito e diz que agora pode falar em nome de Deus, ensinar a Bíblia e fazer discurso homofóbico, machista, racista, que temos que escutar como palavra de Deus. Isso é muito grave. Por isso que disputo esse lugar, para que estudemos e busquemos referências sérias, porque são essas coisas que alimentam elementos como esse que me ameaçou de morte. E eles são, sim, capazes de matar”.

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