Após visita do papa, Chile pode retomar suas relações com a Bolívia
Disputa marítima é principal entrave para retomar contato rompido desde 1978; assunto foi abordado em conversa entre Evo Morales e pontífice: 'diálogo é indispensável'; reportagem especial do Opera Mundi
Por Victor Farinelli, do Opera Mundi
Numa declaração inesperada, realizada durante uma entrevista para meios locais, na noite desta sexta-feira (10/07), o chanceler chileno Heraldo Muñoz afirmou que “o Chile está disponível para restabelecer as relações diplomáticas [com a Bolívia] imediatamente, se existir vontade politica [por parte dos bolivianos]”.
Devido às antigas diferenças por conta da disputa marítima, Bolívia e Chile cortaram suas relações diplomáticas oficialmente em 1978 — durante as ditaduras de Hugo Banzer (1971-1978) e Augusto Pinochet (1973-1990), respectivamente.
Rafael Stédile/Opera Mundi
Papa Francisco esteve com o presidente Evo Morales em encontro de movimentos sociais na Bolívia
A nova postura chilena foi reforçada no sábado (11/07), em comunicado oficial do Ministério de Relações Exteriores, que fala no interesse do Chile em recuperar a chamada “agenda de 13 pontos”, lançada em 2006 por Michelle Bachelet e Evo Morales — ambos em seus primeiros mandatos naquela ocasião —, desta vez com 12 pontos das relações diplomáticas e comerciais entre os países. “A Bolívia escolheu o caminho de levar o tema marítimo à Corte de Haia, contudo, o Chile está disposto a retomar o diálogo para avançar em todos os demais pontos da agenda”, disse o comunicado.
Na declaração de sexta-feira, Muñoz também disse que “foi a Bolívia que decidiu romper as relações diplomáticas em 1978, e se eles aceitarem voltar a conversar, estamos abertos a esse diálogo, em todos aqueles pontos onde existem interesses em comum”.
Este é o segundo gesto de reaproximação entre os dois países neste ano de 2015. O primeiro foi a reunião bilateral entre Morales e Bachelet durante a Cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino Americanos de Caribenhos), em janeiro, na Costa Rica — a primeira em cinco anos, entre líderes dos dois países vizinhos.
Visita de Francisco à Bolívia
A declaração acontece logo após a visita do papa Francisco à Bolívia, na qual, entre outras atividades, o pontífice se encontrou com o presidente Evo Morales e abordou a situação de conflito entre os dois países.
“Entre os desafios que este país enfrenta, estou pensando no do mar. Diálogo, o diálogo é indispensável”, disse Francisco, que completou comentando que “para uma solução pacífica entre países irmãos, uma nação pacífica não pode se fechar em si mesma, as redes de relações afiançam as sociedades e o fortalecimento da diplomacia com os países vizinhos evita conflitos e contribui para o diálogo franco e aberto sobre os problemas”.
Veja a galeria de fotos:

Na entrevista da sexta-feira, o chanceler chileno Heraldo Muñoz se referiu às palavras do papa Francisco, dizendo que elas “não causaram nenhum incômodo, pelo contrário, respeitamos esse chamado ao diálogo, estamos completamente de acordo com essa via”.
Na ocasião da visita de Francisco à Bolívia, o presidente Evo Morales aproveitou para presenteá-lo com o chamado "Livro Azul", ou "Livro do Mar", contendo todos os documentos e argumentos realizados por seu país, em mais de cem anos, buscando recuperar a saída ao mar com soberania, perdida após a derrota para o Chile na Guerra do Pacífico (1879-1983).
Atualmente, o tema está sendo discutido na CIJ (Corte Internacional de Justiça), em Haia, onde a Bolívia iniciou, em 2013, um litígio visando obrigar o Chile a negociar uma saída soberana ao mar para o país do altiplano.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: