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Nova receita no Velho Continente

Mas há um elemento novo nas manifestações na Espanha, algo que ocorreu nas revoltas da Praça Tahrir (Cairo): os protestos são organizados pela Internet e suas redes sociais

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É preciso acompanhar de perto os recentes movimentos nos países europeus. Ainda profundamente abalados pela crise econômica de 2008-2009, o continente parece assistir a uma mobilização popular crescente e que pode desembocar em transformações com raízes muito mais profundas.

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Os recentes protestos que dominam a Espanha, com milhares de pessoas indo às ruas, em sua maioria jovens, constituem clara expressão de insatisfação dos europeus diante do alto desemprego e da piora de suas condições sociais. Lembremos que a escolha na Europa para enfrentar a crise foi a receita alemã de ajuste fiscal combinado com cortes em benefícios sociais. Foi assim com a Irlanda e com a Grécia. Assim deve ser também com outros países que estão nas portas da crise, como Portugal e Espanha.

Os espanhóis foram às praças do país protestar contra os reflexos das medidas, altamente nocivas à atividade econômica e com efeitos imediatos nos índices de emprego —a taxa de desemprego na Espanha, por exemplo, triplicou nos últimos três anos e atinge 21% da população, quase quatro vezes a taxa brasileira.

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O que está acontecendo não é apenas o transbordamento dos sindicatos e partidos, mas a negação de aceitar o pacto de estabilidade que, na prática, representa o fim da estabilidade da Europa social-democrata, do Estado de bem estar social conquistado pelos trabalhadores em 150 anos de luta. Nesse sentido, é forte o sentimento de repulsa aos planos capitaneados pela Alemanha de Angela Merkel, que visam submeter a Europa às receitas do FMI (Fundo Monetário Internacional).

A ideia de submeter o continente ao fracassado receituário neoliberal tem como combustível para os protestos o fato de a social democracia européia ter se rendido às ideias que vieram dos EUA na década de 1980. Justamente em um momento em que os EUA experimentam as consequências dessas políticas e buscam medidas para minimizar seus efeitos.

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Mas há um elemento novo nas manifestações na Espanha, algo que ocorreu nas revoltas da Praça Tahrir (Cairo): os protestos são organizados pela Internet e suas redes sociais, com predomínio de jovens que se apresentam “indignados” e dizem não ter identificação partidária. Chama a atenção esses movimentos se darem fora do sistema sindical e, ao que tudo indica, também distante do ambiente político-partidário.

Essa é uma novidade extraordinária, que pode ser o prenúncio de uma onda de manifestações em toda a Europa neste verão. Se isso ocorrer, veremos uma repercussão direta nos resultados eleitorais, com possibilidades de intensa participação popular e de pressão para a adoção de outro tipo de medida econômica.

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A tendência é que a Europa siga em crise e que a população intensifique os protestos. Afinal, o amargo receituário do FMI não deu ou dará bons resultados. Seus programas de ajuste resultam no pior dos mundos: recessão, desemprego, crises social, política e institucional.

Nesse ambiente, o barril de pólvora vai se formando, aguçando o velho problema da xenofobia. Declarações como a de Angela Merkel —que recomendou aos endividados como Portugal e Grécia que trabalhem mais, ampliem a idade mínima de aposentadoria de seus trabalhadores e reduzam o período de férias— podem significar a indesejada faísca cuja repercussão é incontrolável, além de fomentar o preconceito, especialmente contra os imigrantes.

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O caminho não é aprofundar ainda mais o velho receituário, mas fazer o oposto: adotar uma nova receita que abra espaço para equacionar as dificuldades econômicas sem perda dos direitos sociais. Resta saber se isso será possível sem o aumento da temperatura nas ruas.

José Dirceu, 65, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT

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