Quero morar no Brasil da Dilma
Tudo parece funcionar tão bem por lá. É um país que não sofre problemas, somente enfrenta desafios.
Eu adoraria viver no mesmo Brasil em que a presidente Dilma Rousseff vive. Tudo parece
funcionar tão bem por lá. É um país que não sofre problemas, somente enfrenta desafios.
Estes, unicamente devidos a um mágico crescimento econômico que estamos vivendo –
e nada mais! No máximo, podem ser considerados “bons problemas”, como a presidente
recentemente exemplificou, referindo-se à infra-estrutura em geral e à situação do setor
aeroviário em particular que, como sabemos, vai muito bem.
Afinal, se a situação dos aeroportos se encontra precária, isso se deve apenas ao crescimento
econômico e ao aumento de demanda por vôos comerciais. Não, não tem nada a ver com falta
de planejamento do setor. Não significa que o governo não se preparou para o sucesso e para
a demanda crescente da tão apregoada nova classe média que hoje voa de avião.
O Brasil de Dilma também é um país em que problemas estruturais que duram décadas podem
ser resolvidos em tempo recorde, mais rápido que uma viagem de trem bala entre São Paulo e
Rio de Janeiro. Veja o problema da educação de nível médio e a qualificação de mão de obra
que o mercado exige há tempos. Logo mais este problema não mais existirá, pois em 4 anos
8 milhões de brasileiros serão capacitados pelo PRONATEC, o Programa Nacional de Acesso
ao Ensino Técnico. Que é, aliás, totalmente diferente do PROTEC, promessa de campanha de
José Serra, que Dilma – quando candidata – criticava.
Ainda neste mesmo período em que 2 milhões de brasileiros serão capacitados por ano pelo
PRONATEC serão construídas 200 novas escolas técnicas federais, expandindo a Rede
Federal de Educação Profissionalizante. Não devemos nos preocupar com as tradicionais
dificuldades e atrasos em se tirar projetos como este do papel. Isso é coisa do passado. No
Brasil de Dilma construir 200 escolas se faz em estalar de dedos. Assim como oferecer “pelo
menos” 75 mil bolsas para estudantes brasileiros no exterior. Nenhuma dificuldade nisso tudo,
como poderia alguém suspeitar que se tratariam de promessas vazias?
Quanto ao nosso capenga sistema tributário também não é um problema, mas apenas outro
desafio que será resolvido ainda nesses quatro anos. Já é hora, pois esperamos por isso há
décadas. Claro que não importa o fato de Dilma não mencionar como pretende solucioná-lo.
Confiando em sua competência, vamos cometer a maldade de achar que ela não tem um plano
concreto para atingir esta meta.
Recentemente, Dilma afirmou que tem pensado diuturnamente e até noturnamente na inflação.
Não, isso não significa que ela tem tido pesadelos, apenas demonstra o seu comprometimento
com a estabilidade. E, com desembaraço total, afirma que controlará a inflação sem deter
o crescimento econômico e mantendo o poder de compra do salário mínimo. Enfim, ela
nos promete os melhor dos mundos. Claro que o fato das últimas tentativas de sua equipe
econômica terem fracassado não devem nos desestimular. Sim, a inflação continua subindo;
sim, o dólar continua desvalorizando; sim, o poder de compra continua caindo. Mas nosso
Ministro da Fazenda, Guido Mantega, já criou um novo conceito de inflação que irá solucionar
tudo isso: a inflação alta e controlada. Agora sim!
Faz parte também do Brasil das soluções simples de Dilma a melhoria da qualidade do gasto
público. É claro que é totalmente possível aliar um corte de R$50 bilhões no orçamento – que,
todos sabemos, foi eficazmente cumprido – com a criação de 40 ministérios, aumento de 62%
nos gastos de cartões corporativos e de 148% no auxílio-moradia de seus ministros, entre
outros aumentos que em nada interferem na meta de corte e na qualidade do gasto público.
Não vamos polemizar em uma área que vai tão bem!
Agora você, caro leitor, deve estar se perguntando: mas Dilma cumprirá tantas promessas
em tão pouco tempo? E provavelmente se lembrará, preocupado, que ela é a mesma “mãe
do PAC”, programa que há anos promete muito e entrega quase nada, com tantas obras
oficialmente inauguradas sem saírem do papel. Que lançou o PAC 2 enquanto o PAC 1 ainda
engatinhava. E se preocupará ainda mais ao saber que afirma que ampliará o PAC, assim
como o Minha Casa, Minha Vida, com novos programas, criando assim uma espécie de PAC 3,
quando ainda estamos aguardando os dois primeiros apresentarem resultados concretos.
O leitor pode ainda estar se indagando do que se tratará o programa Brasil Sem Miséria, que
será lançado nas próximas semanas e que irá “articular e integrar novos e antigos programas
sociais, ampliar recursos e oportunidades” e tirar de vez 16,2 milhões de brasileiros da miséria.
Será um Bolsa-Família 2? Acabará com a miséria através de novos benefícios sociais ao invés
de mudanças estruturais fundamentais? Não se preocupe com isso e nem com o PAC 1, 2, 3,
4... Lembre-se: nosso país não possui problemas, apenas pequenos desafios impostos pelo
mágico crescimento econômico. Tenha fé, que tudo dará certo!
Mas, só por via das dúvidas, controle o seu consumo até a inflação se estabilizar. Sabe como
é, seguro morreu de velho.
Gabriel Mallet Meissner é editor do site Revista Entremundos.
http://entremundos.com.br/revista
www.twitter.com/gabrielgauche
gabriel@entremundos.com.br
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