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Maria Luiza Franco Busse

Jornalista há 47 anos e Semiologa. Professora Universitária aposentada. Graduada em História, Mestre e Doutora em Semiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com dissertação sobre texto jornalístico e tese sobre a China. Pós-doutora em Comunicação e Cultura, também pela UFRJ,com trabalho sobre comunicação e política na China

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A fraternidade é vermelha

"A nova Era de “amizade sem limites” em favor da “comunidade de destino comum para a humanidade”, tem sido o pesadelo estadunidense"

Presidentes Vladimir Putin e Xi Jinping (Foto: œЋ Xinhua)
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Das 5.300 palavras do texto da declaração conjunta russo-chinesa emitida pelos presidentes Vladimir Putin e Xi Jinping em 4 de fevereiro último, dia da abertura oficial dos Jogos Olímpicos de Inverno da China 2022, destaco “amizade”. Nesse ‘outro’ que é a China, a amizade sempre foi e segue sendo força definidora de relações e garantia de possibilidade de realizações de grandes empreendimentos com o mesmo cuidado com que se cozinha um peixe pequeno.

Conforme o declarado, os dois ursos “Reafirmam que as novas relações interestatais entre Rússia e China são superiores às alianças políticas e militares da época da Guerra Fria. A amizade entre os dois Estados não tem limites, não há áreas de cooperação proibidas, o fortalecimento da cooperação estratégica bilateral não é direcionado contra terceiros países nem afetado pela mudança do ambiente internacional e mudanças circunstanciais em terceiros países”.

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Me valho da pergunta do presidente Putin em resposta à repórter da Sky New em coletiva recente sobre as provocações do governo Biden: _ “Será que não dá para entender? “_ , para afirmar que o Estados Unidos, e um tanto do Ocidente, não entende mesmo. Algo compreensível em razão de sua formação histórica mas incompreensível pelo imobilismo a que se determinou para seguir a sua pretensão de ser a antena da raça.

Em 1961, quando na China, o então vice-presidente do Brasil João Goulart discursou no Congresso do Povo. Em 1 minuto e 11 segundos, Jango se dirigiu aos jovens e dignitários presentes enfatizando a amizade. ...” Meus amigos chineses, senti-me como se estivesse hospedado na casa de um velho e bom amigo.” (...) “Viva a amizade cada vez mais estreita entre a China Popular e os Estados Unidos do Brasil.” (...)Viva a amizade dos povos asiáticos, africanos e latino-americanos”. Enquanto a chancelaria brasileira acertava na comunicação a indigência cognitiva do Ocidente em relação ao Outro confundia a manifestação de amizade com declaração de apoio ao comunismo.

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Em todos os pronunciamentos dos presidentes da China as palavras amigo e amizade aparecem desde sempre. Em visita à Tanzânia, em 2013, o discurso do presidente de Xi Jinping leva o título “Ser amigos confiáveis e parceiros sinceros para sempre”, e ressalta em um dos trechos: “O povo chinês tem um sentimento natural de fraternidade com o povo africano. Nós chineses estamos convictos de que o prazer da vida consiste em ter amigos do peito.”. 

Agora, para complicar ainda mais o raciocínio imperialista binário do narciso Ocidental, o fraterno sentimento chinês vem acompanhado de propostas e iniciativas de solidariedade global, ganha-ganha na economia, e do princípio inegociável das soberanias nacionais. A nova Era de “amizade sem limites” em favor da “comunidade de destino comum para a humanidade”, destino de prosperidade para o bem-estar dos povos do mundo, tem sido o pesadelo estadunidense reproduzido pelos Estados que lhe prestam vassalagem. Em 2019, o subsecretário de Defesa para Formulações Políticas, John Rood, comentou não ser “exagero dizer que a China é a maior ameaça ao estilo de vida dos EUA a longo prazo” e o “maior desafio do Departamento de Defesa”. Acertou. Não por afirmar que a China seja ameaça, mas por perceber que daquele país, muitas vezes ofendido e humilhado pelas canhoneiras dos impérios externos, pelos tratados desiguais e pela invasão do ópio que adoeceu os seus, viria com a disposição de apresentar a alternativa ao capitalismo selvagem que cada vez mais acelera sua máquina de moer gente para produzir e acumular capital.

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A Nova Era, ou Nova Ordem Internacional proposta pelo Panda Chinês e pelo Misha russo, bem que podia ter como trilha sonora o samba do grupo Fundo de Quintal, ‘A Amizade’, que diz assim em algumas de suas estrofes: “ 

... Foi bem cedo na vida que eu procureiEncontrar novos rumos num mundo melhorCom você fique certo que jamais falheiPois ganhei muita força tornando maiorA amizadeNem mesmo a força do tempo irá destruirSomos verdadeNem mesmo este samba de amor pode nos resumirquero chorar o teu choroQuero sorrir seu sorrisoValeu por você existir, amigo.”

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Dentro de alguns dias o presidente Putin estará frente-a-frente com a face mais esdrúxula do Brasil. Vai receber o genocida que ocupa o Palácio do Planalto. Seria bom que soubesse da música para ter ainda mais clareza e certeza de que o Brasil é muito mais e melhor do que isso que vai ver.

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Esta “amizade sem limites” trabalhando para uma “comunidade de destino comum para a humanidade” é o pior pesadelo absoluto do imperialismo ocidental, que ainda é agravado pelo fato de que não há absolutamente nada que o Ocidente possa fazer para frustrar, se opor ou mesmo retardar o progresso da Rússia e da China em direção ao seu objetivo e futuro comuns.

O lado russo destaca o significado do conceito de construção de uma “comunidade de destino comum para a humanidade ” proposto pelo lado chinês para garantir maior solidariedade da comunidade internacional e consolidação de esforços para responder aos desafios comuns. O lado chinês observa a importância dos esforços feitos pelo lado russo para estabelecer um sistema multipolar justo de relações internacionais.Rússia e A China estão simplesmente deixando para trás o Ocidente coletivo, deixando-o na mão (suicídio político, cultural, econômico, militar e até espiritual) enquanto constrói uma alternativa.sistema supra-ideológico de alianças que a Rússia e a China desejam criar.

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Tradução para linguagem simples: Rússia e China concordam que a nova ordem mundial pós-ocidental que eles querem alcançar será baseada na fraternidade e solidariedade de todos aqueles países que, em vez de explorar todo o planeta para o benefício de alguns, querem ver um sistema internacional baseado em valores compartilhados e não na ganância e na opressão dos fracos pelos fortes. Nesse sistema, as relações entre os países serão baseadas no direito internacional e nas Nações Unidas como sua pedra angular e não por algumas “alianças de intenções” ad hoc ou qualquer outro absurdo ilegal.

Tradução para linguagem simples: “ as relações entre a Rússia e a China são superiores às alianças políticas e militares da era da Guerra Fria ” é bastante clara: a Rússia e a China são mais do que aliados ou “apenas” simbiontes, a aliança que eles formaram não é uma "paz de papel" de estilo ocidental que pode ser revogada ou ignorada. Rússia e China decidiram estabelecer uma verdadeira “amizade que não conhece limites”, que é uma irmandade muito maior em escopo e muito mais profunda por natureza do que qualquer aliança formal. Os dois países veem um futuro comum e se apoiarão como dois irmãos amorosos. Nota: a escolha das palavras “amizade sem limites” foi cuidadosamente elaborado para não fazer sentido para um público ocidental que o verá apenas como “platitudes piedosas e vagas sem obrigações vinculativas”, mas que ficará muito claro para aqueles que vêm dos reinos civilizacionais russo e chinês. Simplificando: ninguém no Ocidente realmente acredita em “amizade” entre estados, apenas aliados situacionais e interesses pessoais. O conceito de amizade tem um significado muito diferente na China e na Rússia. Além disso, “sem limites” também não faz sentido na geopolítica ocidental. Novamente, para um público russo ou chinês, o parágrafo acima significa e expressa muito MAIS do que qualquer “aliança”, “tratado” ou “acordo”. Os líderes políticos ocidentais simplesmente não conseguem entender ou imaginar o que a Rússia e a China estão dizendo aqui – suas mentes simplesmente não conseguem compreender o que está sendo dito aqui.

Esse modelo atrairá e incluirá facilmente os países latino-americanos que escolherem a ideologia do “socialismo do século 21” (desenvolvido principalmente por Cuba, Venezuela e Bolívia). Também será muito mais atraente para muitos países africanos do que a “bota imperialista ocidental” (exemplos incluem Mali, Burkina Faso, Congo e, potencialmente, muitos outros).

Bolsonaro mantém programada a ida a Moscou para o dia 14 de fevereiro, após ser convidado pelo presidente russo, Vladimir Putin, para uma visita oficial.

O presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente chinês, Xi Jinping, formalizaram nesta sexta-feira, 4, uma aliança global com viés anti-Ocidente, poucas horas antes da cerimônia de abertura dos Jogos ... 

Uma grande cerimônia nesta sexta-feira (4) no Estádio Nacional de Pequim, na China, que é também conhecido como Ninho do Pássaro, marcou oficialmente a abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022.

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