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Fernando Horta

Fernando Horta é historiador

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Bolsonaro e todos que incitam o ódio são autores ocultos do massacre na creche em Blumenau

Que choremos juntos, sem esquecer dos culpados que se escondem atrás das gravatas e dos carros com vidros escuros

Jair Bolsonaro e o atentado em Blumenau (Foto: ABR | Polícia Militar de Santa Catarina/Divulgação)
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Um homem de 25 anos invadiu uma creche em Blumenau, hoje, e, munido de uma machadinha, atacou nove crianças entre cinco e sete anos de idade. Matou quatro, uma está em estado grave no hospital e outras quatro estão feridas. Os educadores e educadoras do local (Cantinho do Bom Pastor) estão em choque. Os pais das crianças atacadas e das mortas eu não consigo imaginar como estão.

O assassino dirigiu-se tranquilamente ao 10º Batalhão da PM e se entregou. Não sei a motivação do crime e pouco me importa. A criatura que empunhou a machadinha, contudo, não é o único autor dessa tragédia. Há uma série de autores ocultos que pegaram naquela arma tanto quanto o assassino. Não vou dizer aqui o que desejo seja feito com o executor das mortes, mas vou dizer aqui todos os autores ocultos dessa tragédia.

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Segurando aquela arma estava o ex-presidente Jair Bolsonaro que, durante mais de seis anos, tornou natural neste país usar a violência e agredir fisicamente os outros por motivos políticos. Bolsonaro não apenas naturalizou a violência com expressões como “CPF cancelado” ou “mandar para a ponta da praia”, como também instruiu seus seguidores a se armarem e estabelecerem uma guerra contra aqueles que politicamente dele divergiam. Bolsonaro não apenas armou uma população com armas legalizadas, mas também com ódio e a certeza de que, se fosse pelo motivo que ele achava certo, a violência estava liberada.

Responsável também por estas mortes está Paulo Guedes e seus assessores econômicos que, durante quatro anos trataram a educação brasileira (e os educadores e educadoras) como bandidos em quem se deveria “colocar uma granada no bolso”. O sucateamento da educação que Guedes estabeleceu se juntou com a romantização da violência e da farda para criarem as “escolas cívico-militares” em que alunos e professores apanham de policiais caso discordem das “ordens” dadas. A desestruturação da educação afastou psicólogos, pedagogos e diminuiu cargas horárias de profissionais que foram treinados para identificar comportamentos estranhos e antissociais que, em sendo identificados antes, podem ajudar a salvar vidas. Esses profissionais foram criminalizados (como se quisessem “uma boquinha”) e, estranhamente, ainda hoje o MEC de Camilo Santana não acabou com essa excrescência.

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Junto, ali, na hora dos assassinatos estavam todos os parlamentares e “influencers” que fazem dinheiro com incitação ao ódio e banalização da violência. Talvez, entre eles, há quem vá defender que portar a machadinha era “um direito” do cidadão. Argumento, aliás, que usam para armas de fogo. Enquanto fazem nome, dinheiro e fama, em aparições espetaculosas agredindo, matando ou incitando agressões, não raro se descobre serem pedófilos, abusadores ou simplesmente criminosos de toda sorte que descobrem no bolsonarismo uma capa mais monstruosa que pode abrigar as suas monstruosidades pessoais.

Ali, junto naqueles assassinatos estão todos os que apoiam uma política econômica de “estado mínimo” que não permite que o Estado brasileiro tenha recursos para pagar melhor seus professores e mesmo seus policiais. Não permite que o Estado tenha profissionais capacitados para antecipar esse tipo de ação que hoje é já frequente no Brasil. No Estado-mínimo de Guedes, Campos Neto e Lemann estão os gordos salários do presidente do Banco Central, mas não cabem salários para mais professores, assistentes sociais, estagiários e auxiliares que poderia tornar a educação brasileira melhor. Também no “estado mínimo” dos Marinho e dos bancos brasileiros não cabe melhores salários, treinamento e assistência social e psicológica para nossos policiais que precisam olhar nos olhos dessas monstruosidades todos os dias e conservar a sua humanidade.

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Falando em educação, o professor Daniel Cara elaborou – durante o chamado “governo de transição – um relatório sobe violência escolar, apontando o problema como crescente no Brasil e sugerindo ações. No MEC mais inerte da história do país (nem Paulo Renato de Souza foi tão inútil) ninguém deu a mínima para esse relatório. Todos preocupados em defender “itinerários” para o absurdo do novo ensino médio e tirar fotos com presidentes de fundações e bancos. Enquanto isso, os reais problemas da educação brasileira seguem incólumes.

Porta arrombada, tranca de ferro. Depois do segundo ataque em menos de dois meses, talvez se interessem por chamar Cara e tentar remediar a imagem de um ministério da educação aturdido e questionado. Que Daniel Cara seja grande e aceite trabalhar com essa gente, pelo bem dos brasileirinhos e brasileirinhas que ainda estão vivos.

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Toda violência que você imprime no tecido social, seja através de discursos de ódio, incitações políticas ou impunidade policial vai se depositando ali. Nada se perde. Uma hora, sem mais nem menos, monstruosidades como estas – que se alimentam da loucura fascista – acabam aparecendo. Todos autores ocultos. Criminosos que, se não forem denunciados, passarão em branco no processo de “caça às bruxas” que costuma se iniciar depois de brutalidades como esta.

Aos pais dos quatro pequeninos mortos, minhas lágrimas incontidas. O peito de todo o educador no Brasil chora de desespero por não ter estado lá. Todos e todas nós, tenham certeza, teríamos dado tudo pela vida dos pequeninos. Que choremos juntos, sem esquecer dos culpados que se escondem atrás das gravatas e dos carros com vidros escuros.

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