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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Calma que os generais estão em estado letárgico

Os alarmistas sobre a reação dos fardados devem procurar outra pauta. Os militares entraram em torpor langoroso, escreve o colunista Moisés Mendes

General Hamilton Mourão (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

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Por que o senador Hamilton Mourão revisou, um dia depois, o discurso que havia feito na tribuna, incitando uma rebelião dos militares contra o Supremo? 

Porque o general sabe que hoje, nas complicadas circunstâncias políticas vividas por seus colegas golpistas, não conseguiria liderar nem mesmo a organização de um torneio de peteca no Clube Militar.

Os generais entraram em estado letárgico. Mourão e qualquer outro general brasileiro, da ativa ou da reserva, não têm condições de afrontar, com algum efeito, nenhuma instituição da República. Hoje, nenhuma.

Os alarmistas sabem que não há como Mourão organizar levante algum. Mas mesmo assim há quem continue disseminando alarmes de que Mourão pode isso e aquilo.

Ao se declarar legalista, no dia seguinte ao grito de guerra em defesa dos estafetas de Bolsonaro, Mourão substitui o blefe por um pouco de razão, algo raro há muito tempo nos estoques de sentimentos da extrema direita. 

Mourão sabe que foi a razão precária dos que resistiram, combinada com uma boa porção de covardia de Bolsonaro e dos golpistas fardados, que atrapalhou o golpe armado com os generais Braga Netto e Augusto Heleno e seus subalternos. 

Se os generais da reserva e da ativa, desfrutando do poder que eles tutelavam, não conseguiram levar o golpe adiante, quem imagina que agora, com todos cercados, o bravo Hamilton Mourão, sem tropas e sem poder, possa fazer uma afronta prosperar? 

Mourão blefou porque colegas ofendidos o empurraram para a gritaria, cobrando posição de quem tem mandato. Foi só isso. Foi o blefe de um político levado na marra para a tribuna. 

Um impulso que ele corrigiu no dia seguinte. Já passou. Mourão cumpriu carnê, fez a sua parte, jogou para a torcida e vai se aquietar, por saber que nem sob a proteção das almas de todos os generais da ditadura conseguiria atiçar uma rebelião hoje. A chance é nenhuma. Zero.

Mas isso significa que tudo está sob controle? Claro que não está. A melhor análise da situação vivida por Mourão e seus colegas, ativos e inativos, foi feita por Tereza Cruvinel, aqui no Brasil 247. 

O momento, escreveu a jornalista, é não só de contenção no curto prazo, mas de ação no sentido de evitar repetições e a preservação da índole militar golpista.

O resumo do artigo está no título: “Lula tem sua melhor hora para fazer a reforma militar”. Tereza escreve que “o DNA da tutela, que se traduz em ímpetos golpistas, continua lá”. Um DNA que não desaparecerá com a punição dos articuladores do golpe pela Justiça e tampouco com penas disciplinares, nem mesmo com expulsões.

As Forças Armadas estão caindo aos pedaços, com a exposição das provas do golpe, produzidas pelo líder da reunião filmada, e essa é a hora de Lula agir para a condução de reformas em quatro frentes fundamentais (leiam o artigo de Tereza).

É nesse contexto que se encontram Hamilton Mourão, seus colegas com camuflagens ou com pijamas e todos os que eram orientados pelos militares. 

Não há como imaginar que Mourão possa organizar e levar adiante as afrontas ao STF. O que não exclui as iniciativas do PSOL para que se investigue se houve crime de incitação do general contra as instituições.

Mourão pode ter fingido que era possível incitar um levante, mas está satisfeito com o que já fez e convencido de que não precisa fazer mais nada. Tem mandato como senador medíocre, com um poder político a ser construído. Poder que nunca teve no governo. 

O grande blefe do golpe que não deu certo não precisa da compensação de outros pequenos blefes para que as Forças Armadas sejam defendidas. Que os militares tirem lições também desse momento de torpor langoroso.  

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