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Lelê Teles

Jornalista, publicitário e roteirista

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Carnavalizar

Temos um ministério para cuidar e proteger os povos indígenas, temos um mano nos direitos humanos, temos uma anielle e um milhão de marielles

Carnaval do Rio de Janeiro (Foto: Jorge William /Riotur)
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"bunda-mole não dança kuduro", cacique papaku. 

A folia está de volta, foliões e foliãs enchem as ruas do brasil com a sua fagueira alegria colorida. 

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O ministério do namoro manda avisar que tá liberado o beijaço em praça pública e em linguagem neutra.

O carnaval deste ano tem sabor de solstício de verão - o sol brilha no zênite -, vencemos as trevas, derrotamos o dragão da maldade, o cordão dos insensatos, o horrendo bloco dos patriotários perfilados em quartéis.

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Derrotamos a escola sem partido, os guarda-mirins de colégio, a patrulha ideológica dos campi, os terroristas antidemocráticos.

Logo, é tempo de festejar e sorrir.

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"O sol, há de brilhar mais uma vez; a luz, há de chegar aos corações..."

Há pouco estávamos, chorosos, de luto pelos que morreram na pandemia; e estávamos, também, raivosos, em luta contra o pandemônio fascistóide que nos atormentava. 

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É por isso que o povo tá na rua com tanta felicidade, nunca a expressão "festa da democracia" foi tão adequada ao nosso carnaval.

É hora de chorar de alegria, com unha postiça, glitter na cara e bunda de fora. 

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"... do mal será queimada a semente, o amor será eterno novamente".

Confetes, serpentinas, lantejoulas, bodies cavados, meias-arrastão, cerveja quente e rebolations.

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Entre saias e minissaias, de calças e pés descalços, com brincos que brincam e amigues que drinkam, tu e tudo é apoteose.

As tranças, as transas, as trans, os trans e o trânsito trangênero em fluxos e refluxos fluviais e pluviais, porque chove também no carnaval, transformando em rio as avenidas, onde as gentes molhadas se sambam e se lavam, se elevam, se livram, se louvam e se luvam.

Depois da subida de uma ladeira, um abraçaço e um amassaço curam qualquer cansaço e um beijo na breja substitui qualquer batom de cereja. 

Dizem, uns seguidores de schopenhauer, que o brasil só começa quando termina o carnaval.

E já ouvi de alguns discípulos de voltaire, os que só leram o cândido, que na verdade é o carnaval que só termina quando o Brasil começa.

Tremenda fuleiragem, o Brasil nunca termina de começar e carnaval tem dia e hora pra acabar, o que não tem hora pra acabar é essa nossa alegria, é a carnavalização da vida, é o eterno adiamento da quaresma.

Enquanto exu vai abrindo os caminhos, o sinal da cruz é a encruzilhada. 

O Brasil recomeça agora, em pleno carnaval.

Esse é o brasil do futuro sancófico, permeado por seus passados sempre presentes e pronto pra seguir adiante: alegre, fraterno, sororo, beijante, rebolativo e reparador.

Repare a dor dos que estão agora a se desmachificar, dos que pugilam lutas para nocautear o racismo que ainda os habitam...

"Chora agora, ri depois", como diriam os racionais. 

No pain, no gain. 

Esse carnaval também tem um sentido pedagógico, o salão não é o mesmo de tempos atrás; agora é assim: não é não, e não tem mais essa de "cabeleira do zezé" e "maria sapatão". 

Liberdade não é libertinagem, tudo tem limite e ninguém terá liberdade de opressão. 

"Eu falei faraó ó ó..."

A cultura brasileira pede passagem: são papangus, parafusos, caboclos de lança, laursas, zé pereiras, afoxés e ijexás, escolas que sambam, bloquinhos e blocões de rua, bumbas meu boi, eletrizantes trios elétricos, o frenético fervor do frevo e o surdão que se faz ouvir na avenida.  


"A emersão, nem osíris sabe como aconteceu..." 

Maga, a mega, a legítima rainha do axé, finalmente teve sua cabeça coroada. 

A cultura a saúda!

Temos um ministério para cuidar e proteger os povos indígenas, temos um mano nos direitos humanos, temos uma anielle e um milhão de marielles.

Temos fé e temos força.

Sim, nós temos axé. 

Veja quanto riso e quanta alegria gargalham na expressão feliz dessa gente que entendeu que preconceitos opressivos como machismo, racismo, misoginia..., tudo isso não cabe mais em nós.   

Chega de black faces, de negas-maluca, de crioulos-doido, de homens que se travestem de mulher para ridicularizá-las. 

Esse é o carnaval da nossa redenção!

Ergamos libações a dionísio: tim tim, seu chifrudo dos pés de bode.

A loucura é a nossa cura, é esse estado de catarse coletiva que nos une; é tempo de sacudir a poeira e dar a volta por cima.

"Vamos pra avenida desfilar a vida, carnavalizar".

O barba é o brabo! 

Palavra da salvação. 

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