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Heraldo Campos

Graduado em geologia (1976) pelo Instituto de Geociências e Ciências Exatas (UNESP), mestre em Geologia Geral e de Aplicação (1987) e doutor em Ciências (1993) pela USP. Pós-doutor (2000) pela Universidad Politécnica de Cataluña - UPC e pós-doutorado (2010) pela Escola de Engenharia de São Carlos (USP)

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Cidades-dormitório de lixo

Transposição de resíduos urbanos de uma cidade para outra requer atenção sobre o possível impacto ambiental. Favorece a existência de cidades-dormitório de lixo

Catadoras de materiais recicláveis (Foto: Divulgação)
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O tema da transposição das águas sempre gerou muita polêmica, com grandes debates técnicos e políticos ao longo do tempo, e a transposição das águas subterrâneas do Aquífero Guarani faz parte desse contexto e vira e mexe volta à baila. Esse mega-reservatório sedimentar, com cerca de 1,2 milhão de km2 de extensão, abrangendo áreas do Centro-Oeste e Sudeste do Brasil ao Sul, até regiões no Paraguai, na Argentina e no Uruguai, tem reconhecida importância como fonte de abastecimento de água. Na região Noroeste do Estado de São Paulo, por exemplo, quase todos os municípios dependem desse recurso hídrico subterrâneo para abastecimento público.

Porém, onde esse reservatório “(...) é aflorante e de fácil perfuração, a intensa extração dessas águas exige controle para evitar a explotação acima da taxa de recarga local e a contaminação. A possibilidade da contaminação dessa imensa reserva torna necessários estudos sobre a dinâmica e a vulnerabilidade de suas áreas de recarga a poluentes agrícolas e industriais e a resíduos urbanos.” [1].

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Até pouco tempo atrás, a polêmica sobre a sua utilização “(...) intensificou-se devido a estudos que apontam a necessidade da transposição de suas águas para abastecer a grande São Paulo. O reservatório, alvo da atenção de organismos nacionais e internacionais, é visto como o ‘salvador da pátria’ nesse caso. Entretanto, por se tratar de um recurso estratégico, qualquer intervenção deve ser amplamente discutida e apoiada em sólida base científica, para que o empreendimento não se torne uma nova versão do extinto Paulipetro (1979-1982), consórcio formado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e pela Companhia Energética de São Paulo (Cesp) para encontrar petróleo no território estadual. A empresa não obteve sucesso e gerou, para os cofres públicos estaduais, prejuízos superiores a US$ 600 milhões.“ [1].

Por outro lado, a transposição de resíduos urbanos de uma cidade para outra, também requer atenção sobre os possíveis impactos ambientais nos recursos hídricos, superficiais e subterrâneos e, sem dúvida, a sua transposição é bastante polêmica favorecendo a existência de cidades-dormitório de lixo.

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A fonte desses resíduos urbanos é conhecida da administração pública e tem sua quantidade aumentada nas temporadas de verão, com o fluxo de turistas, como no caso de Ubatuba. Por isso, numa simples caminhada, “(…) observa-se com certa frequência, restos de folhas e de galhos de árvores associado ao lixo urbano variado, composto de pneus, calotas de automóveis, garrafas pet, latas de cerveja, sacos plásticos, entre outros materiais, que podem ter sido muito bem lançados diretamente na praia pelas pessoas ou nas suas proximidades, ou jogados no Rio Grande, por exemplo, localizado na parte central da cidade de Ubatuba, e terminando com a “devolução” pelo próprio mar, para formar um cordão de resíduos, no decorrer das suas variações de níveis de marés.

Com as chuvas intensas de verão, o volume desse tipo de material tende a aumentar provocando o entulhamento das calhas dos rios, sejam eles de pequeno porte ou de grande porte, aumentando, sensivelmente, o risco para as inundações e os alagamentos urbanos. (…)”. [2].

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Mas como atenuar esse grave problema dos resíduos urbanos impactando os rios e os corpos d´água? Há cerca de um ano, pelos menos nas praias do centro e nas mais urbanizadas de Ubatuba, a prefeitura andou espalhando algumas caçambas para receber lixo orgânico e o material reciclável. A intenção funciona mais ou menos, porque as pessoas, muitas vezes, jogam seus resíduos urbanos (quando não diretamente nos rios e no mar) em qualquer caçamba, misturando tudo e dificultando a separação posterior do popularmente chamado lixo.

Assim, o lixo recolhido nas madrugadas, de caminhão basculante, vai para uma área de transbordo municipal e depois é enviado, de carreta, via rodovias Rio-Santos e Tamoios, para o município de Jambeiro para ser despejado em aterro sanitário. Anteriormente seu destino era o município de Tremembé, sendo que essas duas cidades-dormitório de lixo distam mais de 100 km de Ubatuba, ressaltando que o antigo lixão ubatubano foi desativado há cerca de 15 anos atrás.

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Diante desse cenário, da mesma maneira que o Aquífero Guarani, pela sua dimensão e abrangência, chama a atenção, não devemos nos esquecer da região do Vale do Paraíba e dos seus arredores, pois os tipos de reservatórios subterrâneos de água que predominam nos territórios dos municípios de Tremembé (Aquífero Taubaté, sedimentar) e de Jambeiro (Aquífero Pré-Cambriano, fraturado) são, estrategicamente, importantes para o abastecimento público da população local e têm suas fragilidades intrínsecas. Estudos técnico-científicos sobre a vulnerabilidade desses reservatórios de águas subterrâneas devem contemplar, necessariamente, o papel dos depósitos de resíduos urbanos, além dos contaminantes agrícolas e industriais que impactam o meio ambiente.

“No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade.” (Chico Mendes).

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Fontes

[1] Carneiro, C. D. R., Mendonça, J. L. G. de, & Campos, H. C. N. S. (2008). Rios subterrâneos: mito ou realidade? Ciência Hoje, 43(253), 18-25. (outubro 2008).

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https://cienciahoje.periodicos.capes.gov.br/storage/acervo/ch/ch_253.pdf#page=04

[2] “Praias indo pro beleléu” artigo de 05/02/2024.

https://www.ecodebate.com.br/2024/02/05/praias-indo-pro-beleleu/

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