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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

199 artigos

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Coincidências macabras

(Foto: Luiza Castro/Sul 21 | ABr)
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O extraordinário ator Peter Lorre, que trabalhou com Brecht e, no cinema ou fora dele, se destacou muito antes de Casablanca, de Michael Curtiz, no qual foi bem mais do que um figurante: marcou o panorama do século XX para além de qualquer expectativa. Em M, o Vampiro de Düsseldorf, de Fritz Lang, brilhou como um personagem ingênuo, quase infantil, pego pelo sindicato do crime pelo assassínio cruel de criancinhas. As circunstâncias que atiraram a Alemanha no nazismo e na II Guerra Mundial levaram-no ao exílio e a uma forte presença na filmografia norte-americana, na qual participou até de filmes de terror, incluindo Relíquia macabra, de John Huston. Tinha de sobreviver e não podia se dar ao luxo de recusar convites. Do ponto de vista de uma produção do gênero, conhecia o que significava, uma vez que assistira à ascensão e à instalação do regime nazista com todo o seu tenebroso esplendor. Ele sabia como pesava isto. Nós, não. 

Para os brasileiros, terror constituía um subgênero na produção literária ou cinematográfica, feito para assustar e divertir pessoas. Não se imaginava que aquele tipo de expressão, em geral ligado a obras de segunda categoria, viesse a dominar as mentes e o comportamento em nossa sociedade. Pois é o que vem ocorrendo. Uma simples olhada nos jornais basta para nos esclarecer e estampar, do ponto de vista dos costumes, aquilo em que estamos nos transformando. Há razões políticas para tanto. Por um lado, caímos num vazio de valores. Por outro, ficamos à mercê de direções políticas, com Jair Bolsonaro à frente, despreparadas, mal formadas e, sem dúvida, dotadas de ingredientes de sadismo. O resultado aparece com abundância. Para não falar em Marielle Franco, Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, vítimas de facínoras na Amazônia profunda, em crimes ainda não de todo esclarecidos, foram saudados com silêncio por parte do Presidente. E eles já representam exemplos gritantes. 

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Mas não nos limitemos a eles. O assassinato do militante petista Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu, por um bolsonarista de plantão, é um segundo caso para ocupar as narrativas na escuridão da noite. Finalmente, o médico que se aproveitava de uma condição de anestesista para estuprar uma paciente em vias de dar à luz, numa clínica para mulheres em São João de Meriti, pareceu a gota que faltava. No Planalto Central, o Presidente repete a indagação: “O que eu tenho a ver com isso? Estão jogando m... no meu colo!” É por demais despreparado para compreender que um chefe da nação possui responsabilidades inclusive para acalmar e consolar cidadãos que se tornaram vítimas do infortúnio. A viúva de Bruno Pereira foi contactada por Lula. Ele sabe se comportar. Sua presença destacada no conjunto das pesquisas não oferece surpresas. 

Afinal, ao contrário de Peter Lorre, nós não vivemos os horrores da perseguição aos judeus e das atrocidades nazistas. Nossa participação na guerra foi absolutamente periférica. Então, o horror nos assedia e entra em nossas casas, vindo de onde? É certo que o golpe parlamentar contra Dilma Rousseff soltou as bruxas e os demônios em nossa política. Daí a Bolsonaro, foi um passo. Felizmente, não há mal que sempre dure. Em outubro, depositaremos um voto não apenas num novo Presidente. Votaremos também, sem dúvida, contra o horror. 

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