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Fernando Horta

Fernando Horta é historiador

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Em defesa do currículo

Existem inúmeros absurdos no Novo Ensino Médio, desde questões teóricas, até práticas na vida de professores e alunos

(Foto: Reprodução)
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Fiquei marcado nos primeiros 100 dias do governo Lula por ser um crítico. Critiquei desde o primeiro momento algumas posturas do governo, notadamente na educação. Sendo assim, preciso vir a público dizer que hoje, dia 03/04, o presidente fez valer sua posição e a aberração do “Novo ensino médio” vai ser trancada. Os absurdos a que os alunos estão sendo submetidos vão ser rediscutidos. Claro que isso não é tudo, é preciso que o Ministro da Educação convide pessoas com conhecimento para fazer a discussão. Camilo já tentou criar um “grupo de estudo” só com gente que concorda com a sua aberração. Atitude pequena, desonesta para tentar dar um “cala a boca” nas ordens do presidente.

Existem inúmeros absurdos no Novo Ensino Médio, desde questões teóricas, até práticas na vida de professores e alunos. Essa geringonça foi aprovada por meio da canalhice de Temer com um Congresso golpista e “influencers” digitais sendo pagos para defender o que sequer entendiam. O presidente Lula acerta bem ao travar esse absurdo, seria melhor se retirasse a Fundação Lemann dos corredores do ministério (e as outras “ongs” e “fundações de bancos”) que querem fazer uma espécie de “privatização da gestão e da estratégia” educacional. É uma nova forma de controle sobre o ensino. O Estado paga tudo, sofre por todo o custo político, mas as discussões que “realmente importam” são feitas por “especialistas” neoliberais que, normalmente, não conseguem se segurar nos próprios argumentos frente a gente que sabe do que fala ou mesmo frente a pessoas que estão lá na sala de aula.

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Meu interesse aqui é defender um ponto: o currículo. Um dos argumentos deste “novo ensino deformador médio” é que os “currículos” estavam defasados. Eram “muitas matérias” que os alunos “nunca usariam” na sua vida. Era “muito tempo perdido” com conteúdos cuja “aplicabilidade e importância” na vida real era mínima. Ainda segundo os argumentos dessa turma, o “futuro” dos estudantes estava sendo ameaçado por essa panaceia de assuntos que levava a uma “desconexão” com o mundo real e não ajudava na vida futura do aluno. O que um futuro advogado vai fazer com o conhecimento da isomeria de posição do carbono?

Todos os que estudam e que já deram aula sabem que o currículo é essencial num processo de educação. Saber onde se quer chegar, o que se quer ensinar e que passos serão dados é tudo menos “antiquado”. Aliás, esse currículo que está aí – que prevê se estudar matemática, histórica, literatura, geografia, filosofia, línguas, química, física, biologia, sociologia e educação física – é fruto de mais de 4000 anos de nossa história. É a sociedade que, depois de guerra, genocídios, terremotos que chegou à conclusão que talvez fosse importante que advogados também soubessem sobre a isomeria do carbono. Aliás, foi exatamente porque advogados não sabiam o mínimo de biologia (para saber que cloroquina não é eficiente contra vírus), e que médicos não sabiam o mínimo de filosofia (que a vida de um indivíduo só tem sentido a partir da defesa da vida de todos) que nós tivemos 700 mil mortos na pandemia.

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Ninguém se torna um monstro se não souber “empreendedorismo”, “marketing pessoal” ou “o que rola por aí nas redes”. Mas fascistas são produzidos por falta de leitura de Rousseau, Vitor Hugo e Milton Santos, por exemplo. Um currículo abrangente forma cidadãos, enquanto “itinerários” que picotam o mundo e esfarelam o conhecimento servem – com muita boa vontade – para o mercado. Em outros momentos aqui eu repeti que o mercado que lutasse para formar sua mão de obra. Nossa missão é formar cidadãos cônscios da sua posição na sociedade e que sejam capazes de sobreviver num futuro cada vez mais hostil. O currículo que temos precisa de ajustes sim, mas não é supressão que escamoteia o assassinato do pensamento crítico e o substitui por itinerários infantis e desconectados que vai resolver o problema.

Está na hora do presidente Lula agradecer o interesse de todas essas ong’s e fundações de bancos na educação. Talvez essa gente possa montar projetos próprios que ofereçam seus conteúdos a TODOS os alunos do Brasil em horário diferente do da escola e pagando o custo dessas aulas. Assim, o “mercado” que lute. Nós temos que ensinar aos alunos de Clementina de Jesus até Carlos Drummond de Andrade. Devemos ensinar desde a geometria de Euclides até a pós-modernidade de Achille Mbembe. Por mais independência que tenham, jovens de 11 a 17 anos não têm conhecimento para escolher o que precisarão saber ao longo da sua vida. Vida que, aliás, ainda sequer definiram. As escolhas do novo ensino médio, disfarçadas de “liberdade” para os jovens vão provocar a ruína dos adultos que esses jovens vão ser. O problema é que quando aquele adulto se der conta que suas escolhas foram pobres, o adolescente irresponsável que as fez não estará mais lá para responder por elas. 

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Currículo é história. Currículo é responsabilidade social e histórica. Currículo é futuro. Currículo é crítica.

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