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Heraldo Campos

Graduado em geologia (1976) pelo Instituto de Geociências e Ciências Exatas (UNESP), mestre em Geologia Geral e de Aplicação (1987) e doutor em Ciências (1993) pela USP. Pós-doutor (2000) pela Universidad Politécnica de Cataluña - UPC e pós-doutorado (2010) pela Escola de Engenharia de São Carlos (USP)

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Espírito de corpo e de porco

“Dizem que ela existe pra ajudar / Dizem que ela existe pra proteger / Eu sei que ela pode te parar / Eu sei que ela pode te prender"

Polícia (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
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O ônibus sai 22:40 horas de uma capital do país para o seu litoral. Depois de uns 20 minutos de estrada uma moça bate na porta e pede para ficar na cabine do motorista. Alguns minutos depois o ônibus interrompe a viagem e pára no posto da polícia rodoviária estadual. O assunto é que um policial civil ameaçou com canivete passageiros do ônibus. Depois de muita conversa e pressão, o policial civil foi colocado, gentilmente, para fora do ônibus para dar um pouco de tranquilidade aos assustados e temerosos passageiros, dentre eles várias mães com seus filhos de colo.

Nesse momento, sobe no ônibus um policial rodoviário e diz que o transtornado e cambaleante policial civil "estaria no seu direito de ir e vir" e que poderia trocar de assento, passando do fundo do ônibus para a frente, nos assentos reservados aos idosos, para o prosseguimento da viagem interrompida. Foi aí que um ocupante heptagenário, que ocupava um dos assentos reservados para idosos, gestantes, entre outros preferenciais, interrompeu o polícial rodoviário e disse que "ele estava transferindo o problema do fundo do ônibus para a frente e que não se responsabilizaria pelo policial civil".

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Durante esse perrengue todo, um outro policial rodoviário teve até o disparte de dizer que “como não houve vítimas a viagem poderia continuar com o policial civil trocando de assento” e jogando nas costas do motorista e do seu parceiro, além dos assustados passageiros, a responsabilidade da continuidade da viagem ao seu destino final.

Resumindo, depois de três horas de espera para prosseguimento da viagem, o policial civil foi levado e ficou retido numa delegacia e os passageiros puderam, ao amanhecer do dia, chegarem aos locais de destino. Porém, as perguntas que rolavam, a boca pequena, entre os passageiros dessa perigosa viagem eram: será que um passageiro comum que tivesse feito qualquer tipo de ameaça, sem pertencer a qualquer categoria policial, teria um tratamento diferenciado e continuado na viagem ou seria imediatamente retido pela polícia rodoviária? E se fosse um negro, esse passageiro comum, que tratamento teria? Nesse caso parece que o espírito de corpo, com uma nítida camaradagem entre as duas categorias policiais vinha prevalecendo, em detrimento de uma solução mais ágil na resolução do problema e na liberação do ônibus para a sequência da viagem interrompida por causa de um espírito de porco, o tal policial civil, que extrapolou e interferiu no calmo ambiente interno.

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Ao final, depois de quase três horas de atraso, a viagem prosseguiu as pessoas foram desembarcando nos seus locais ou praias de destino, aliviadas e até bem humoradas, e sempre agradecendo ao prestimoso motorista e seu parceiro que anunciavam com muita clareza os pontos para os quais os passageiros pediram para descer do ônibus. O velhinho chegou em casa, como todos, atrasado, mas com o pão quente da padaria para o café da manhã.

Assim, essa história poderia muito bem lembrar a canção “Polícia”, composta por Tony Belloto em 1986 e interpretada pelos Titãs (álbum “Cabeça Dinossauro”), que diz o seguinte nesse trecho: “Dizem que ela existe pra ajudar / Dizem que ela existe pra proteger / Eu sei que ela pode te parar / Eu sei que ela pode te prender // Polícia! Para quem precisa! / Polícia! Para quem precisa de polícia! / Polícia! Para quem precisa! /

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Polícia! Para quem precisa de polícia!”.

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