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Fernando Horta

Fernando Horta é historiador

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Houve um tempo

Fernando Horta analisa os primeiros dois meses do governo Lula: "houve um tempo em que se esperava 90 dias para avaliar o governo. Esse tempo acabou"

Lula em reunião ministerial (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
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Houve um tempo em que se esperava 90 dias para avaliar o governo. Era um tempo em que a “comunicação instantânea” era o FAX e o Jornal Nacional era a fonte de toda notícia no país. Esse tempo acabou. Hoje, as coisas são muito mais rápidas, os problemas precisam de soluções – reais e comunicativas – muito mais céleres. Por isso, creio, já é possível com 56 dias de governo, fazermos uma avaliação. Nada é definitivo, por óbvio, mas o tempo está passando. A oposição segue nas redes e o fascismo, na sociedade.

Claramente o presidente dividiu seu governo em três áreas: num primeiro grupo de ministérios estão aqueles que o presidente julga essenciais para a manutenção do governo (objetivo primário em função dos ataques à democracia). Neste primeiro grupo estão os ministérios da Justiça, Saúde, Economia, Educação, Defesa, a SECOM e o Ministério do Desenvolvimento Social. Esses ministérios o presidente parece manter um olhar mais aproximado, na medida que reconhece não apenas o fato de que são tremendamente sensíveis (qualquer erro ali pode desencadear situações difíceis de serem controladas) como também são espaços em que o exercício do poder (para o bem ou para o mal) acabam gerando enorme mudança no capital político do governante.

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Num segundo grupo de ministérios, estão aqueles em que não se espera nada de especial e que cumpram funções dentro da normalidade. E num terceiro grupo estão os ministérios cuja função é não atrapalhar.

Cabe aqui analisarmos o primeiro grupo.

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O ministério da Justiça operou como a estrela no mês de Janeiro. Após um início com sobressaltos e nomeações açodadas de pessoas – no mínimo – não afinadas com o governo, a Justiça acabou sendo o ponto alto neste momento, especialmente pela forma como Flávio Dino manejou o golpe de 8 de janeiro. Dino não apenas apareceu para todo o país como capaz de manejar situações complicadas, como o faz de forma comunicativa e didática. Algo que nem sempre se consegue com figuras políticas. De resto, o ministério ainda patina na questão dos Yanomami, mas é preciso compreender que a remontagem de uma Polícia Federal profissional não é algo fácil.

O ministério da saúde é o que menos tem impactado as notícias. Tocado de maneira profissional pela professora Nísia, o ministério faz bem o que precisa fazer. E essa é uma já imensa diferença para o poço de incompetência que era sob o comando de Bolsonaro. Nísia encaminha os programas de vacinação, a reconstrução das redes institucionais de informação e apoio (destruídas desde Pazuello) e, no silêncio da competência, se transforma num ativo político excelente ao presidente. Não é um ministério com um político já em campanha e nem o presidente precisa ficar adulando egos.

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O ministério da economia começou com uma esperança e uma certeza. A esperança de colocar para andar uma economia que já dava sinais de recessão depois de toda a irresponsabilidade de Bolsonaro e Guedes. A certeza era a de que Haddad seria um conciliador/conservador quando no manejo da economia. Esta fórmula talvez – apenas talvez – parecesse um bom caminho no início de janeiro. Hoje, depois do golpe e da sabotagem de Campos Neto, claramente não é mais. As notícias são preocupantes e as previsões mais sóbrias apontam para dois semestres de recessão econômica no Brasil. Isso com os inúmeros discursos que Haddad deu falando em austeridade e “responsabilidade” (se não diretamente, pelo menos sempre nesse sentido) colocaram Haddad na chuva. O ministro sofre com uma possibilidade real de não entregar o que seria necessário e ter seu capital político para 2026 danificado.

O ministério da educação seria o que piores resultados vem apresentando, não fosse a Defesa. Camilo Santanna desagrada a toda a esquerda dando o ministério a um sentido de educação neoliberal em que Paulo Freire ficou apenas como citação de discurso inicial. Seu secretariado pouco agrega para desfazer esse cenário e a recusa do ministro em revogar o ensino médio (dizendo que precisa ser “medido”) é a pá de cal nesse processo. Camilo foi receber a CNTE (Confederação Nacional do Trabalhadores da Educação) apenas depois de 40 dias e por ordem direta de “instâncias superiores”. Enquanto isso Camilo recebia (e tirava fotos para colocar nas redes sociais) desde políticos da oposição, até bancos e ong’s “pela educação” (neoliberal) com grande emoção. A educação brasileira já está caótica e não há nenhum sinal que Camilo e seus comandados tenham alguma vontade de mudança.

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O ministério da Defesa é fonte constante de problemas e insegurança. Em silêncio nos últimos 15 dias (o que não nos traz paz alguma) espera uma enorme crise (interna) a partir das questões sobre as comemorações do Golpe de 1964. Saudosistas da ditadura, torturas e estupros querem transformar a data numa apologia do desumano e um ataque ao governo Lula. Múcio parece que não tem forças (ou vontade) de evitar essa colisão. A situação é ainda pior quando se observa que Múcio cumpre uma função de interlocutor DOS INTERESSES DOS MILITARES no governo. Invertendo completamente a lógica da ação do ministério, parece que o sentido das decisões vem dos comandados (generais) para o presidente Lula. A luz alta foi dada por Lula quando demitiu o golpista comandante do exército num sábado, sem consultar Múcio. “Faça as necessárias operações burocráticas para que aconteça” foi a ordem dada a Múcio. Não apenas seu julgamento parece comprometido sobre a questão militar no Brasil, como também sua estratégia de manter a “disciplina” e os generais intocados não tem a mínima chance de dar certo. É crise na geladeira, só esperando aparecer. Aqui, o silêncio não é sinal de tranquilidade, como na Saúde.

A SECOM vive problemas. Primeiro porque o governo entendeu que precisa se comunicar como talvez nunca tenha entendido antes. Não basta apenas transformar a vida dos brasileiros, é preciso dizer – e repetir à exaustão – como fez isso, quem fez isso, para quê fez isso e como vai continuar. Tudo isso para não ocorrer o que desde 2013 parecer ser a tônica do Brasil: aqueles que trabalham veem o resultado sendo roubado politicamente por mentiras, fakenews e etc. Também a SECOM ficou supercrescida desde que o ministério das comunicações foi para um “aliado”. Tudo isso soma-se a luta interna pela SECOM. Mesmo assim, a área mais ágil do governo Bolsonaro está presa em academicismo e discussões menos importantes. O trabalho não aparece nos processos de comunicação e essa situação já preocupa na medida em que as redes de mentiras da extrema direita seguem a todo vapor. A SECOM precisa parar de querer regular coisas e se tornar ativa. Precisa resolver os problemas de orçamento e passar a atividade o quanto antes. Sair do Palácio e tomar as ruas e as redes. Sem isso, todos os problemas serão potencializados e os sucessos diminuídos. Do governo todo.

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No final, o Ministério do desenvolvimento social tornou-se o primo pobre. O ministro Wellington Dias vê seu trabalho bastante prejudicado. O que foi um motivo de exigência do Partido dos Trabalhadores (que o ministério ficasse com o partido), sabendo da importância e do capital político que tal ministério poderia trazer, hoje, está em compasso de espera. Primeiro precisou aguardar a estabilização institucional e agora sofre com a perspectiva ruim da economia. O que deveria ser a cereja do bolo, ainda está aguardando a farinha e os ovos. Se

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