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Michel Zaidan

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Leitor de si mesmo

Um livro é um testemunho de uma época ou sociedade. Não é um mero jogo de linguagem. É um artefato carregado de sentidos e emoções

(Foto: Sputnik/Vladimir Pesnya)
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Um famoso teórico russo da literatura disse que todo autor, tendo ou não consciência  disso, sempre escreve dirigindo-se a um hipotético leitor. Ou seja, toda obra por mais solitária que seja pressupõe  um destinatário ou interlocutor. Naturalmente, o autor se julga dono e soberano de seu texto, nele manifestando seus anseios, angústias,  sonhos e esperanças. Na verdade, a obra não pertence ao  autor. Pertence ao leitor que desdobra o texto, reescrevendo,  através de múltiplas  interpretações. 

Se não houvesse leitores, as obras restariam sem sentido, depois da morte do autor. Neste sentido todo texto  é  uma obra inacabada, em estado de torso, que o leitor acaba ou conclui através da leitura. Daí o caráter polissêmico, aberto, da escrita literária. O narcisismo  intelectual do autor pode conduzi-lo a um espelho onde ele  só vê  sua imagem refletida. Não se importando com a opinião  alheia. Isso ocorre sobretudo em países  de uma forte herança ibérica, onde a afirmação  da personalidade do escritor é mais importante  do que ele tem a dizer. Aí, ele se compraz em ler e reler a si mesmo, ora querendo mudar o texto, ora se rejubilando pelo que fez.

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De toda maneira, num país de semi-letrados, com edições limitadas, as obras literárias, teses, ensaios e monografias têm  um círculo de leitores restrito, salvo os best-sellers  e o incenso da crítica. O que leva o autor a se banhar nas águas da sua própria imagem. Muitas vezes, um artigo publicado na imprensa diária ou nas redes sociais é muito mais lido do que um livro ou um ensaio. E exerce também mais influência na sociedade. O seu retorno é mais imediato. E há livros que resultam de uma seleta desse material. Bons livros têm saído dessas miudezas diárias ou  periódicas. 

Outra coisa são as notabilidades de aldeia que se aventuram pelo campo das letras, depois de terem sido articulistas de jornal. Valendo-se do prestígio  social e político, tratam de temas pouco conhecidos de seus confrades, granjeando fama e honrarias literárias. Infelizmente, a chamada crítica do algodão doce promove facilmente essas criaturas a verdadeiros gênios da raça. Conhecemos vários casos de médicos-escritores, políticos-escritores ou advogados-escritores.

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A escrita ou a literatura  não é  o sorriso da sociedade como disse Afrânio Peixoto. É  mais do que  isso. Um livro é  um testemunho de uma época  ou sociedade. Não é um mero jogo de linguagem. É um artefato carregado de sentidos e emoções.  E pode mudar a mentalidade ou o imaginário  social. Que o diga a obra de Gilberto  Freyre, que inventou o Brasil mestiço e miscigenação, depois de abandonar a tese do racismo dito científico  quando ainda estudava na América do Norte,

PS. Esse texto foi parcialmente  modificado em razão  do sumiço  do texto original, que era um pouco mais duro e incisivo  sobre o papel do escritor na sociedade.

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