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Mauro Lopes

Mauro Lopes é jornalista, editor do Brasil 247 e apresentador do Giro das 11 na TV 247. Fundador do canal Paz e Bem, de espiritualidade aberta e plural.

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Lula na entrevista: será um governo de pacificação, voltado aos pobres; paridade de gênero e raça ainda em disputa

Lula acena para um governo de pacificação do país e compromisso com pobres; paridade de gênero e raça indefinida; ele não irá a debates, escreve Mauro Lopes

Lula na coletiva com a mídia independente (Foto: Ricardo Stuckert)
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Por Mauro Lopes

Tive a alegria de ser escalado para representar o Brasil 247 na entrevista histórica de Lula à mídia independente na manhã-começo de tarde desta quarta (19) num hotel da zona sul de São Paulo -você pode assistir à íntegra dela abaixo. 

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Histórica sim, pois foi o encontro de dois protagonistas da sociedade brasileiras que haviam sido condenados pelos poderosos e suas mídias a serem riscados do mapa e da história do país. Em 2016,o consórcio dos poderosos e das mídias conservadoras que deu o golpe contra a presidenta Dilma Roussef decretou a morte da mídia independente. Em 7 de abril de 2018, quando Lula foi conduzido a Curitiba como preso político, o mesmo consórcio anunciou sua morte política. 

Pois nesta quarta, numa entrevista com um cenário verdadeiramente presidencial, Lula abriu o ano político de 2022 que deverá conduzi-lo à Presidência num encontro com a mídia independente que derrotou toda a mídia dos ricos reacionários do país. 

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Não farei um relato detalhado da entrevista a seguir. Você pode assisti-la ou ler vários pontos de destaque  na série de reportagens do Brasil 247 sobre o evento - pode ler também a coluna da super competente Helena Chagas, “Lula aliancista enquadra PT, acena a militares e acalma o centro”.

 O que destaco da entrevista e de seus bastidores:

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Participação paritária de mulheres e pessoas negras no governo

Minha primeira pergunta foi sobre paridade de gênero e raça em seu futuro governo. Apresentei um breve contexto: 1) as mulheres e as pessoas negras são as duas mais amplas maiorias do país; 2) as pesquisas indicam que elas dedicarão a Lula o maior números de votos nas eleições, em números absolutos e percentuais; 3) os movimentos negro e feminista (e mais o indígena e o LGBTI+) são o polo mais dinâmico da luta política, social e cultura, no Brasil, com presença que atravessas todas as organizações, movimentos, entidades, sindicatos; 4) o PT tem compromisso histórico com a luta feminista e antirracista.

O governos do PT deixaram muito a desejar quanto à presença de pessoas negras e mulheres como ministras e ministros, no primeiro escalão das quatro gestões do partido, apesar de todas as políticas positivas adotadas -tais segmentos foram mais objeto das políticas do que protagonistas nas administrações.

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Das 99 pessoas que ocuparam cargos de ministras e ministros do governo Lula, apenas 10 eram mulheres e, delas, só três negras. Somente sete eram homens negros. Homens brancos: 82 (81%). No governo da presidenta Dilma, foram 122 ministras e ministros e a proporção não se alterou. 

Agora, enquanto Lula pode estar às portas de seu governo, o cenário da esquerda global é bem diferente do início do século: na Alemanha, o governo social-democrata de Olaf Scholz tem 8 ministras e 8 ministros; Gabriel Boric já anunciou paridade de gênero no futuro governo chileno; o México aprovou lei que garante paridade de gênero no Executivo, Legislativo e Judiciário nos três níveis de governo; os exemplos se multiplicam.

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Perguntei então se ele poderia assumir compromisso público com a paridade de gênero e raça em seu futuro governo. Lula disse que aumentará a participação de mulheres, pessoas negras e indígenas em seu terceiro governo, se eleito, mas não assumiu compromisso com a paridade ou mesmo com percentuais mínimos de presença.

Bem, o assunto foi colocado à mesa. Agora, há que dialogar de maneira assertiva com o PT e Lula, porque o Brasil está atrasado no relógio da história em relação a este tema crucial.

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Um governo de pacificação e foco nos pobres

Lula anunciou na entrevista que não fará um governo de guerra e que o país precisa pacificar-se depois de anos de dentes cerrados e ódio. Mas isso não significa pasmaceira ou consolidação da distribuição de renda mais injusta do planeta: os pobres serão prioridade. “Os pobres estarão no orçamento e os ricos no Imposto de Renda”, repetiu Lula, no que parece ser já um bordão eleitoral. Ele anunciou que as conferências nacionais voltarão a ser um elemento estruturante dos programas e políticas de governo e afirmou que haverá uma série de processos que garantirão protagonismo aos pobres.

Lula não é ingênuo e sabe que seu governo não estará imune às tensões ou que a luta de classes será suspensa. Mas ele pretende usar seu engenho e arte 

 Alckmin, Haddad, alianças

Lula praticamente fechou questão: Alckmin será o vice, exceto por algum acidente político grave. Ao final da entrevista, ele me confidenciou que a presença do ex-governador na chapa não é fundamental para a vitória presidencial, “mas será decisiva para ganharmos em São Paulo (com Haddad)”. As pessoas não devem subestimar a importância disso: São Paulo: o PIB do Estado é mais de 60% maior que o PIB da Argentina e nada menos que a terceira maior economia da América Latina. Ter o presidente da República e o governador de São Paulo aliados e alinhados é de uma potência sem tamanho. Lula disse mais: “podemos ter São Paulo, Rio e Minas com governadores aliados, o que nos dará condições sem precedentes para negociar com o Congresso”.

Debates eleitorais

Durante o almoço, depois da entrevista, Lula acenou que poderá não comparecer aos debates eleitorais se eles forem realizados nos moldes tradicionais: “o modelo de debates não funciona”. Ele disse que a dinâmica de 1 minuto de pergunta, dois de resposta, depois outro tanto de réplica e tréplica não permite debate algum. 

Debate não é uma questão de princípio para a mídia conservadora. Quando Fernando Henrique deixou de comparecer a todos os debates em 1998, disse Lula, “a mídia silenciou, porque tinha um pacto para elegê-lo a todo custo”. “Mas -acrescentou- quando deixei de ir em 2006, fizeram escândalo e deixaram uma cadeira vazia”.

Lula indicou que simpatiza com a ideia de dialogar com bancadas de jornalistas em entrevistas individuais. Como líder inconteste da corrida eleitoral, ele não quer se desgastar com candidatos desesperados e agressivos como Bolsonaro, Moro, Ciro e Doria. 

Apenas uma mulher e nenhuma pessoa negra na entrevista Lula

Uma observação que me parece relevante e merece reflexão pela mídia independente: dos oitos jornalistas, havia apenas uma mulher, Laura Capriglione, dos Jornalistas Livres, e nenhuma pessoa negra. 

Perguntei a Lula sobre paridade de gênero e raça no seu governo: e na mídia independente? Ele poderia ter nos devolvido a pergunta, seria aceitável, razoável. O fato é que a mídia independente também é espaço de hegemonia de homens brancos: a presença de mulheres e pessoas negras está crescendo, mas ainda é muito pequena e está longe da paridade. A equipe editorial do Brasil 247, como você pode conferir na área Quem Somos do site, é composta por 24 pessoas: 18 homens (apenas um negro) e 6 mulheres (duas negras). Há um caminho longo à frente.

 Assista à entrevista de Lula, assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247:

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