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Jean Menezes de Aguiar

Advogado, professor da pós-graduação da FGV, jornalista e músico profissional

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Moro presidente: apenas um juiz errado?

Moro candidato? Mais um Huck perdido por aí. Se a esquerda, agora, não consegue mais se concertar e burramente se cliva favorecendo a direita, chegou a hora de a direita perder noites de sono com um Moro temporão. Moro candidato pode ser a subanarquia que a direita precise para se expiar e até melhorar em termos de opções.

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Aconselharam, dizem, Sergio Moro a se candidatar para presidente. Esta situação ‘limparia’ o erro processual do ex-juiz com as conversas vazadas, e atrairia o significado de que tudo que ele fez de absurdo, e processualmente imoral, teria sido apenas mais um antipetismo roxo.

 

Moro requentaria, a la Moro, um antipetismo para chamar de seu, e disputaria com Bolsonaro, cabeça a cabeça, quem é mais cruel do que o outro com uma imensa parcela da sociedade brasileira que, não interessa porque, gosta e continua votando no PT.

 

Esta lógica de uma autolimpeza ética de Moro, pela via da candidatura, com um reducionismo a que tudo que ele fez de processualmente absurdo já seria uma preparação para a candidatura política – sabendo-se, todos, que nesta seara política são ‘permitidas’ as piores imoralidades da espécie humana-, põe em xeque o Judiciário.

 

Moro foi o juiz-referência, o palestrante-referência, o ícone-rede-Globo-referência, e o que mais se supuser referência. Não será exagero dizer que o Judiciário limpou, socialmente, boa parte de alguma culpa-por-aí com o Moro-referência.

 

Agora com o este-hacker-tem-que-morrer, ou com o racker-que-ousou-desrespeitar-a-promiscuidade-secreta-de-autoridades, que prestou este inestimável serviço à sociedade revelando conversas para lá de safadas, o Judiciário não sabe o que fazer com o capital social que conseguiu amealhar durante Sergio Moro juiz.

 

E se Moro ainda se candidatar, poderá respingar este consequencialismo ético negativo para grande parte da magistratura, em termos de imagem como um todo. Inclusive porque ele levará para o histriônico e prostituído palanque político a situação de um juiz manchado. Inversa, por exemplo, à situação de Wilson Witzel que resolveu se sujar só depois.

 

Moro se candidatar é direito seu, como qualquer um que sonhe com isso, ou que possa. Mas talvez aí não haja uma vontade ‘sincera’ – perdoe-se o pieguismo-. Moro não é, nem de longe, um bom falante, um bom orador, um sujeito politicamente articulado, exigências óbvias para um político. Tudo bem que outros também não sejam e quando abrem a maldita boca vem uma verborragia tragediosa. Alguns até conseguindo ser presidentes

 

A patifaria própria da política brasileira e de seus utentes em geral admite efetivamente tudo, conforme a História o comprova. Até esta candidatura possivelmente fake de Moro à presidência, para tentar uma limpeza ética a seu nome e acabar pousando de mais um antipetista.

 

Nas sedes bolsonáticas a ideia deve arrepiar. Bem ou mal, Moro reencarnaria um viril Collor que historicamente tirou suspiros de um grande bolsão feminino brasileiro, coisa que o velho Bolsonaro não consegue mais. Também a juventude saudável do ex-juiz é ponto para ele na comparação. Por fim, ostentar a mesma cepa de preconceito com o PT, ainda vende, causa e lacra.

 

O possível respingo para o Judiciário dessa movimentação política de Moro pode não ser desprezível, talvez enganando-se quem ache que isso não existiria. No chamado mundo jurídico, que não é nada ínfimo no país das inacreditáveis de 1000 faculdades de direito, e também naquele mesmo que quando alguém não sabe o que fazer na vida vai cursar Direito, começam a aparecer juristas seniores interpretando as conversas vazadas Moro-Dallagnol.

 

Nos sites Consultor Jurídico e Migalhas, por todos, já são vários profissionais insuspeitos lendo e vendo corretamente safadezas processuais nas conversas. Há uma unanimidade com termos como ‘promiscuidade’ nas ilegalidades cometidas.

 

E o fato é que o Judiciário, fora Gilmar Mendes e mesmo assim em voo solo, está resistindo a se manifestar. Isto é péssimo para o próprio Judiciário que deveria ter se mostrado, no mínimo, pasmado, desde a primeira hora com o conteúdo das conversas, podendo ou não se reservar ‘para o caso de’ elas serem verdadeiras ou não. Valeu mais um espírito de corpo não pelo que Moro é hoje, mas pelo que deveria ter sido no passado e também não foi, imparcial.

 

Se o Judiciário acha que ninguém perceberá ou que todos vão esquecer, é um engano que pode sair caro. A imagem baixa e deplorável que não poucas vezes se assiste em tribunais de júri pelo país, com promotores de ti-ti-ti com juízes será, de agora para sempre, a ratificação morista de uma prática processual além de tecnicamente ilegal, nefasta, antidemocrática e extremamente preconceituosa para com uma pessoa que ainda não foi julgada, mas que um punitivismo quase rácico quer condenar por antemão.

 

Pessoas que não conhecem Direito podem ler notícias das conversas vazadas por sua excelência, o hacker, e apenas ‘estranhar’. Concluir, polidamente que, ‘no fundo’, não deveria ser assim. Mas em qualquer democracia séria do Ocidente, esse tipo de conchavo processual daria uma pronta investigação criminal rigorosa, ante a violência processual e mancomunação que ‘podem’ ter existido nas conversas.

 

Moro candidato? Mais um Huck perdido por aí. Se a esquerda, agora, não consegue mais se concertar e burramente se cliva favorecendo a direita, chegou a hora de a direita perder noites de sono com um Moro temporão. Moro candidato pode ser a subanarquia que a direita precise para se expiar e até melhorar em termos de opções.

 

Afinal, ao contrário de o que alguns moralistas insistem, na política brasileira dos bilhões de reais subtraídos do povo para sustento dessa horda partidária, sim, pode-se tudo. Pelo menos é o que a História mostrou até hoje.

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