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Camilo Irineu Quartarollo

Autor de nove livros, químico, professor de química, com formação parcial em teologia e filosofia.

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Na fila do pão

Vivemos num sistema narcisista, egocêntrico e cumulativo de robôs ladrões de almas. O que é o ser humano nessa selva de aço?

(Foto: Reuters)
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Fui ao supermercado, escolhi os produtos e preços e, ao passar no caixa, havia um robô. Quem sou eu na fila do pão? Ninguém! Agora tudo é por meios digitais. Chamei a gerente em corpo e espécime, então reclamei da falta de atendentes nos caixas convencionais. 

A resposta dada também veio empacotada: não é minha culpa, é o sistema, “eles” que mandam assim. Enfatizou o “eles”. Estudei os sujeitos indeterminados, mas pessoas indeterminadas são as que mais vejo, os tais do “fazer o quê?!”

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Vivemos num sistema narcisista, egocêntrico e cumulativo de robôs ladrões de almas. O que é o ser humano nessa selva de aço? 

Metade dos clientes comprando eram idosos como eu ou mais. Nem vi a placa, me enfiei onde pude simplesmente pagar pelo que comprei, sem troco, pois o cartão debita o valor exato. Dinheiro invisível e impalpável, nada, nem uma oncinha, nenhuma daquelas cédulas bonitas que a gente colecionava, como moedas antigas. O que repassamos são meras unidades contábeis. Pix transferidos por uma unidade orgânica, eu, para outra entidade com CNPJ, o mercado automatizado.

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Deixei passar na minha frente uma jovem que brigou com o robô, pois tinha no cartão somente quinze reais e a conta dela de alguns pãezinhos eram quinze reais e quinze centavos. Pagou uma parte com cartão de crédito e os quinze centavos em espécie. Era a terceira semana que lhe sobrava dias no seu salário e, meu Deus, pagava o que comia com cartão de crédito! Ao ver o movimento no caixa-robô disse-me que os empregos vão acabar. Todavia, se acabarem os tais empregos e salários, para quem os supermercados vão vender? 

Ah, saudade do mercadinho de esquina, do Português gordo que chamava a todos de Tibúrcio, dos fiados da vizinhança, das cadernetas. Das compras mensais as quais se pagava uma e se fazia outra no crédito do vendeiro, com conversa grátis do Alemão, que era português.

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A figura de gerente, de diretor está desaparecendo, pois o sistema absorve tudo, as reclamações entram para um histórico e, se importar ao lucro da empresa, vai à pauta de um novo algoritmo. Ou seja, se, e somente se, um cliente teve a coragem de contrariar não é considerado sem os reclamos da maioria de fila, os de “fazer o quê?!” – pois o algoritmo faz um histórico passado, formal, de conjunto e direciona especificamente.

Na verdade, o demiurgo do século XXI ou o deus pequeno é o algoritmo. Você entra na NET, o algoritmo traçou seu perfil em segundos. Se entrou para ver geladeiras já existem na tela de spam as tais, de todos os tamanhos, marcas, preços e condições de pagamento, você é o público alvo, e tome spam. 

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Antes se tinha a quem reclamar. Agora é ligue para o sistema... obrigado por ligar...estaremos passando você para um atendente (que é robô). Um minuto, o sistema está carregado com ligações, por favor, tente mais tarde. 

Já é tarde. Onde é a sede “deles”?

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