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    Emir Sader

    Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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    Não podemos passar pelo governo e deixar o neoliberalismo como o caráter fundamental da estrutura do país

    Este tem que ser o objetivo fundamental dos governos do PT e de todos os governos progressistas na América Latina

    (Foto: ABR | Divulgação)

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    Lula completou seu primeiro ano de governo deste mandato. Faltam-lhe três anos.

    Caso se candidate à reeleição, ganhando, teria outros quatro anos mais. Somados, seriam sete anos mais de governo para Lula.

    Nos primeiros quatro mandatos de governos do PT, se passou a colocar em prática programas anti-neoliberais. Que consistiam na prioridade das políticas sociais, no país mais desigual do continente mais desigual do mundo. Seria normal que a política prioritária fosse a de disseminar políticas sociais contra as desigualdades, contra as exclusões sociais, de geração de empregos e de distribuição de renda.

    A economia voltou a crescer, se expandir, baseada em mais investimentos econômicos, na prioridade das políticas sociais, no resgate do papel ativo do Estado. Foram anos de recuperação do país, que havia passado por tantos anos de políticas neoliberais, que somente incrementaram a miséria, a pobreza, a fome, as desigualdades e a exclusão social.

    Foi necessário um golpe contra a Dilma para interromper os governos virtuosos do PT. Que tiveram erros, mas que em foi um período positivo em termos políticos, econômicos e sociais para o Brasil. 

    Golpe de interrupção da democracia que levou do impeachment da Dilma à prisão do Lula e à eleição do Bolsonaro como presidente do país. Um período de enormes retrocessos, em todos os planos, do Brasil. Que só foi possível pela conivência dos meios de comunicação e do Judiciário para que o golpe fosse possível.

    A vitória eleitoral do Lula representou o resgate da democracia e dos programas de governo antineoliberais, típicos do PT. Esses governos se constituem no mais sistemático e extenso conjunto de políticas sociais que jamais o país teve.

    No entanto, essas políticas demonstram suas debilidades. Embora tenham sido colocadas em prática em pouco mais de um ano, foram ainda insuficiente para diminuir a miséria e o abandono que afetam ainda a centenas de milhares de pessoas nas ruas das cidades do país. Significa que serão necessários muitos anos e políticas locais em todas as cidades do Brasil, para que essa extensa miséria que deixamos que se difundisse por todo o país, possa ser superada.

    Somente quando tivermos não apenas políticas antineoliberais, mas quando tivermos superado definitivamente o neoliberalismo. Porque o capital especulativo continua a consistir no eixo da economia do país. Um capital não produtivo, que vive da gigantesca taxa de juros, muito superior à taxa de lucros, resultado dos investimentos produtivos.

    É um mecanismo cruel, degradante para a economia e para o país, que favorece e multiplica os ganhos especulativos, a expensas dos ganhos resultantes da produção.   

    É preciso aproveitar esses pelo menos 7 anos do Brasil com o Lula, para formular uma estratégia e colocá-la em prática de saída definitiva do neoliberalismo e das suas políticas especulativas. Não podemos passar pelo governo e deixar o neoliberalismo como o caráter fundamental da estrutura do país.

    Não apenas econômica. Porque o aspecto mais forte do neoliberalismo está na esfera cultural, ideológica, na de valores. A nossa sociedade continua a ser uma sociedade predominantemente egoísta, individualista, não solidária. A violência continua a prevalecer nos imensos bairros periféricos das nossas cidades.

    As imensas populações periféricas seguem estando entre a violência das gangues periféricas e das próprias polícias. Se sentem abandonadas, desprotegidas, vivendo em meio a um mundo em que predomina a violência. Em que nas próprias escolas os estudantes têm que ser protegidos dos tiroteios que atingem suas próprias salas de aula. 

    Falta muito para que superemos o neoliberalismo e o abandono de políticas estatais em todas sociedade que o neoliberalismo implementa. Que possamos sair definitivamente do período histórico dominado pelo neoliberalismo.

    Este tem que ser o objetivo fundamental dos governos do PT e de todos os governos progressistas na América Latina. Construir um outro tipo de sociedade, não apenas posneoliberal, mas de outra ordem - solidária, profundamente democrática, que supere a miséria, a fome, a exclusão e as desigualdades sociais no Brasil.   

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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